Em um cenário extremamente volátil, em que pessimismo e oportunidade confundem a cabeça dos agentes de mercado, o melhor é esperar
O pânico vivido nas últimas duas semanas passou. Depois das fortíssimas quedas das bolsas no início de agosto , os mercados vêm registrando altas e baixas menos expressivas. Ainda assim, a volatilidade continua. Neste momento, muitos investidores simplesmente não sabem o que fazer com seu dinheiro. Os analistas evitam fazer projeções, mas afirmam: ninguém deve vender ações se o preço delas estiver menor do que o valor que pagou. Ou seja, não é hora de realizar prejuízos.
Nesta luta entre touros e ursos – termos usados metaforicamente para representar mercados em alta e em baixa, respectivamente - o melhor a fazer é aguardar.
É o que estão fazendo muitos analistas de mercado, que vêm evitando fazer projeções para as bolsas de valores. “O cenário internacional está com uma baita de uma interrogação,” diz Alexandre Espírito Santo, professor do Ibmec-RJ. Mas há um consenso entre eles: a situação é de volatilidade e cautela no curto prazo. Em médio e longo prazos, há esperança de alta para a bolsa.
Considerando este cenário, concordam em uma recomendação: que os investidores só se desfaçam de suas ações caso precisem muito do dinheiro. E, se tiverem nervos de aço , que procurem papéis baratos para comprar, sempre cientes de que podem perder ainda mais em curtíssimo prazo.
Marco Aurelio Barbosa, analista-chefe da Corretora Coinvalores, afirma que “a crise não é nossa, então não faz sentido realizar prejuízo”. Pela lógica, as recentes turbulências da bolsa de valores não são resultado de problemas internos brasileiros, mas de complicações nas economias europeias, que estão buscando soluções para lidar com suas dívidas , e dos Estados Unidos, que precisam cortar gastos , o que deve desacelerar o crescimento econômico.
Isso acontece, entre outros fatores, pelo fato de o Brasil ser exportador, principalmente commodities, para a Europa. Se os europeus estão com problemas econômicos, tendem a comprar menos, o que reduz as receitas das companhias brasileiras.
No entanto, as perspectivas de crescimento do Brasil são positivas . Ainda que possam ser impactadas pelos europeus, as empresas brasileiras estão sólidas, têm um crescente mercado consumidor doméstico e devem apresentar bons resultados financeiros, segundo os analistas.
Assim, é razoável esperar que em algum momento, quando o cenário externo melhorar, os preços das ações tenham um reajuste. A sugestão do consultor financeiro Mauro Calil é que o investidor tenha paciência. “Se estiver no prejuízo, deve aguardar. Se está no lucro, pode investir ainda mais ou vender as ações para realizar o lucro e ficar mais tranquilo,” afirma.
A Europa ainda tem sérios problemas a resolver, acrescenta Abate, do Votorantim Private Bank. “Por enquanto, não dá para dizer que o pior passou,” afirma.
“Eu não me iludo com os ganhos dos últimos dias, sei que isso não é tendência de curto prazo, uma vez que qualquer notícia do exterior tem efeito aqui no Brasil. A bolsa vai ficar ao sabor das notícias internacionais no curto prazo,” acrescenta Barbosa.
Futuro
Na opinião dos analistas, como os fundamentos do Brasil e das empresas nacionais são bons, é possível que as ações mostrem uma recuperação no horizonte de um ano, ou um ano e meio. Por isso, quem tem estômago para aguentar eventuais quedas no curto prazo, pode aproveitar oportunidades na bolsa de valores.
“Os investidores que possuem ações neste momento já estão suportando uma forte perda. Se o seu perfil é de médio ou longo prazo, além de manter a posição, ele pode até comprar um pouco mais”, diz Pedro Galdi, analista-chefe da SLW Corretora. No ano, o Ibovespa já acumula uma baixa de 21%, lembra o analista.
Depositar grandes volumes de dinheiro na bolsa de valores não é recomendável. “Ainda que as perspectivas não sejam ruins internamente, a Bovespa reflete em grande parcela os rumores do mundo,” reforça Abate, do Votorantim Private Bank. Espírito Santo, do Ibmec-RJ, sugere uma exposição máxima de 25% do patrimônio no mercado de ações.
Quem acredita que pode aguentar a volatilidade dos próximos meses, pode buscar papéis de empresas “defensivas”, de infraestrutura e consumo, segundo os analistas. “Companhias com fluxo de caixa previsível, como de saneamento e energia, são opções defensivas, para proteção,” diz Barbosa. Os setores de infraestrutura e consumo interno também são apontados como boas apostas para médio e longo prazos.
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