Megainvestidor devolve quase US$ 1 bilhão a clientes e seguirá administrando apenas recursos da família
George Soros, o bilionário, filantropo, autodenominado filósofo e polêmico gestor de recursos está saindo de cena. Seu Soros Fund Management (SFM), com mais de US$ 25 bilhões (R$ 39 bilhões) de recursos sob administração, anunciou nesta terça-feira que, devido a mudanças na regulamentação do mercado, passará a se dedicar exclusivamente à gestão de dinheiro da família.
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“Queremos expressar nossa gratidão aos que escolheram investir seu capital com o SFM nos últimos 40 anos. Acreditamos que vocês se sentiram bem recompensados ao longo desse tempo”, diz o comunicado da empresa. Quase US$ 1 bilhão (R$ 1,55 bilhão) estão sendo devolvidos aos investidores, segundo informou a agência Bloomberg .
A regulamentação exige que, até março de 2012, os fundos dedicados a administrar recursos de terceiros tenham um registro específico na Securities and Exchange Commission (SEC, órgão que, nos Estados Unidos, equivale à brasileira Comissão de Valores Mobiliários). A exceção é dada a fundos que gerenciam dinheiro de familiares, categoria em que o Soros Fund Management se enquadra – e na qual ele optou por permanecer. Com isso, Keith Anderson, que preside o SFM desde 2008, deixa o grupo.
Ele já era um próspero gestor de “hedge fund” (categoria em que se enquadram fundos que usualmente realizam apostas mais arriscadas) em 1992, quando, além de rico, tornou-se também famoso globalmente. Foi uma de suas tacadas mais ousadas – e, também, um das mais controversas.
Na ocasião, nove anos antes de parte da Europa adotar o euro como moeda única, a Inglaterra fazia parte do Mecanismo Monetário Europeu, sob o qual as moedas tinham bandas de flutuação entre si. A ferramenta começou a fazer água com a pressão inflacionária emitida pela Alemanha, que estava no início de seu processo de reunificação.
Os alemães elevaram seus juros – e a medida deflagrou um ataque especulativo contra as moedas do continente. Foi nesse bonde que Soros entrou: ao apostar que a libra esterlina se desvalorizaria nesse processo, o megainvestidor realizou repetidas operações de compra e venda da divisa, ao fim das quais ele teria amealhado US$ 1 bilhão – e em um único dia.
Em tom tão didático quanto singelo, Soros explicou o que fez na ocasião: “Você toma a libra emprestada e vende essa mesma libra emprestada. Depois, você compra de volta quando o empréstimo vence”. Dito assim, o megainvestidor faz soar fácil ganhar US$ 1 bilhão em apenas um dia de trabalho.
Com sua moeda sob ataque – e com George Soros na linha de frente da artilharia –, a Inglaterra abandonou o Mecanismo Monetário Europeu em 16 de setembro de 1992. Está diretamente ligada a essa decisão (e, portanto, também à ação de especuladores como Soros) o fato de a Inglaterra não ter aderido ao euro quando ele substituiu marcos, francos, liras, pesetas e outros em 1º de janeiro de 2002.
O húngaro, é claro, sempre renegou a pecha de especulador desalmado. “Se não fosse eu, teria sido outro a ganhar dinheiro”, disse ele sobre os episódios de 1992. Ornamenta seu currículo a marca de US$ 8 bilhões doados desde 1979 para ações humanitárias, de saúde pública e para entidades educacionais. Recentemente, a exemplo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso , passou a abraçar a causa da legalização da maconha. No Brasil, um de seus investimentos mais lustrosos é em ações da Petrobras, na qual ampliou sua participação em maio deste ano - depois de tê-la reduzido em agosto do ano passado.
A saída de Soros da administração de recursos de terceiros tende a marcar o início de sua aposentadoria como o megagestor com quatro décadas de mercado. Mas há controvérsias sobre se a parada será realmente efetiva. “Ele deve continuar um investidor bem ativo”, disse, à Bloomberg , Robert Slater, autor de “Soros – A vida, os momentos e os segredos do maior investidor financeiro” (Ed. Makron).
Sempre ativo na difusão de suas opiniões sobre a economia, a ação dos bancos centrais, os mercados financeiros, os governos e até a maconha, Soros deverá continuar a fazer barulho mesmo longe do dinheiro alheio. Tem sido assim desde 1956, quando chegou a Nova York com US$ 5 mil no bolso.
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