Até onde pode ir a queda do dólar com Goldfajn no Banco Central?

Veja as consequências de uma conduta pouco intervencionista do BC no consumo, na indústria e na retomada do crescimento

O ambiente externo favorável e as recentes declarações do novo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, fizeram o dólar operar em queda e fechar na quarta-feira (8) em R$ 3,36, o menor valor em quase um ano.

Foto: REUTERS/Adriano Machado
Goldfajn foi aprovado na sabatina do Senado e nomeado novo presidente do Banco Central

O adiamento da alta dos juros nos Estados Unidos (e o consequentemente adiamento da fuga de dólares do Brasil), os dados fortes sobre as importações da China - que favorecem o desempenho de ativos ligados a commodities, como moedas emergentes - e o avanço dos preços do petróleo se somaram à defesa do respeito ao regime de câmbio flutuante - sistema em que as operações de compra e venda de moedas funcionam sem controle sistemático do governo -  feita por Goldfajn, e serviram de gatilho para o ajuste no mercado de câmbio.

O valor factível do dólar frente ao real

A posição de Goldfajn vai contra a postura adotada pelo Banco Central no governo Dilma de intervir no mercado para defender o piso do dólar em R$ 3,50 para proteger as exportações brasileiras, apesar das consequências inflacionárias do dólar com um valor mais elevado. Com uma atitude menos intervencionista, o Banco Central vai abrir espaço para a moeda flutuar de acordo com a oferta e a demanda do mercado. Mas até quanto ela pode ir?

"É muito difícil responder", afirma Fernando Bergallo, diretor da assessoria de câmbio FB Capital. "Aquele piso até então defendido de R$ 3,50 ficou para trás com a troca do comando do Banco Central. Diferente de Alexandre Tombini (ex-presidente do Banco Central), Goldfajn vem de uma escola que defende menos atuação do Estado na economia e deixou a entender que o dólar pode atingir níveis mais baixos. Eu não apostaria no dólar abaixo de R$ 3,30 ou R$ 3,20 porque as condições econômicas do País ainda estão muito deterioradas, há muita instabilidade econômica e fatores externos que a gente não tem controle".

Foto: Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
A queda do dólar favorece a importação, mas mina as chances de crescimento da indústria

O economista-chefe da Nova Futura Corretora vai mais além. Segundo ele, o eventual afastamento de Dilma, a manutenção de uma equipe econômica forte e a sustentação de um governo Temer incólume a novas investigações e prisões, podem possibilitar que o dólar caia para R$ 3. "Se o Congresso aprovar medidas importantes, nenhum
membro do governo se envolver em travessuras e a taxa de juros se manter no patamar atual, o dólar pode cair para até R$ 2,90 até o final do ano", conta.

O coordenador adjunto da gradução em economia do Ibmec/RJ Ricardo Macedo prefere
ser mais cauteloso. "Diante do suposto envolvimento de membros do governo de Temer na Lava Jato e do atual cenário de incerteza política, prefiro apreciar o desenrolar dos fatos e estimar que o câmbio fique entre R$ 2,80 e R$ 3,50. É uma previsão que fica no
intervalo de banda razoável para se trabalhar em termos de expectativas. Temos que esperar para ver", opina.

Dólar "baixo" é bom para quem?

Mas quais são os impactos da variação do câmbio nas atividades econômicas? O dólar muito alto pressiona a inflação, porque os insumos e produtos importados ficam mais caros e tendem a ser repassados aos preços finais. Logo, a queda do dólar é um fator importante no controle da inflação.

Além disso, o real forte viabiliza um número maior de viagens de brasileiros ao exterior e aquece o mercado imobiliário fora do país. Os importadores, e consequentemente, os consumidores finais, também ganham bastante com a valorização do real, afinal de contas os produtos estrangeiros ganham mais competitividade. O que não é nada bom para a indústria nacional.

Esta semana, a Fiesp expôs como a desvalorização do real frente ao dólar ajudou a elevar as exportações no primeiro trimestre do ano. Durante o período analisado, o envio de produtos brasileiros para o exterior cresceu 6,4%, de acordo com a instituição, e isso se deve, em parte, à taxa de câmbio que vinha sendo praticada, que torna viável a competitividade do manufaturado brasileiro.

Se por um lado, a queda do dólar tem um impacto positivo no controle da inflação, ela atinge em cheio a indústria e a exportação, e como consequência, a produção, o emprego e a recuperação econômica. Ainda assim, defendem Macedo e Bergallo, esse efeito negativo deve ser de curto prazo.

"Muitas empresas terão que reduzir custos e continuar arcando com uma carga tributária elevada. Muitas não terão como fazer frente aos produtos estrangeiros, e por isso, podem fechar, mas, com a queda da inflação, dentro de um ano, mais ou menos, a indústria pode recuperar a competitividade e recuperar as contratações. É uma recuperação demorada, mas possível", explica Macedo.

Segundo Bergallo, a indústria pode contornar o câmbio mais baixo apostando no aprimoramento da qualidade de seus produtos e serviços para reconquistar os consumidores no longo prazo. "Como a concorrência, no que diz respeito ao preço, se acirra, a indústria pode se dar mal no início, mas pode ganhar a longo prazo se apostar em eficiência e produtos nacionais mais bem feitos".