Mariana Sgarioni

Reciclagem de garrafas de vidro evita falsificação de bebidas

Por dificuldades de logística e baixo valor de venda, menos de 25% do vidro utilizado hoje no país é reciclado

Garrafas de vidro vazias, de uso único, devem ser quebradas e enviadas a postos de coleta
Foto: Unspalsh
Garrafas de vidro vazias, de uso único, devem ser quebradas e enviadas a postos de coleta
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Uma garrafa de bebida vazia não deveria ficar dando sopa por aí. Afinal, o vasilhame inteirinho, disponível, pode muito bem servir para o crime organizado pegar, encher, e vender com bebidas falsificadas. E é o que tem sido feito. 

Nas últimas semanas, o país vem acompanhando casos de morte e intoxicação por metanol misturado a bebidas que foram envasadas e vendidas clandestinamente. De acordo com as investigações, a substância seria usada para limpar e desinfetar garrafas antes do envase. Ou seja: estas garrafas vazias estão sendo reaproveitadas da pior forma possível.

A reciclagem correta do vidro é capaz de unir uma prática essencial de sustentabilidade ao combate a esta máfia criminosa. O vidro, material composto de areia, sódio e cálcio, tem o incrível poder de ser 100% reciclado infinitamente - sem perder nenhuma qualidade. É um dos melhores materiais sustentáveis que se tem notícia. Porém, desafios na cadeia de logística aliados ao baixo valor de revenda fazem com que menos de 25% do vidro usado no país hoje seja reciclado. O que sobra vai parar nos aterros sanitários ou, pior, nas mãos do crime organizado como estamos vendo.

Desafios da reciclagem

Segundo a eureciclo, empresa que oferece soluções de logística para embalagens, podemos listar alguns problemas que fazem o vidro não chegar à indústria recicladora: o manuseio perigoso para catadores; a infraestrutura necessária de operacionalização é cara e pouco acessível; o valor comercial é muito baixo, gerando pouca atratividade para os catadores de resíduos (enquanto 1 kg de alumínio vale cerca de R$ 8, o vidro misto rende só R$ 0,35);  indústrias recicladoras estão concentradas no Sudeste e Nordeste, gerando alto custo logístico para regiões mais distantes. 

Isso sem contar que o vidro é muito mais pesado do que o plástico e o alumínio, portanto difícil de ser transportado. Não é à toa que o Brasil é recordista de  reciclagem de latas de alumínio para bebidas: é possível amassar e levar várias latinhas ao mesmo tempo. O vidro, não. 

Estas são algumas das explicações para o descarte inadequado para cerca de mais de 1 bilhão de garrafas de vidro por ano no Brasil - que, a céu aberto, podem demorar até 5 mil anos para se decompor. 

Alguns fabricantes de bebidas têm trabalhado para mudar estes ponteiros. Seja com garrafas retornáveis, seja fazendo diretamente a coleta e reciclagem. É o caso da Heineken, por exemplo, que, em parceria com a Ambipar, vem construindo centros de recebimento, triagem e beneficiamento do vidro (hubs) em todo o país para que, ao final do processo, o resíduo seja reincorporado na cadeia vidreira, aumentando o percentual de conteúdo reciclado nas garrafas. Segundo a empresa, mais de 500 toneladas de vidro já foram recicladas em seus programas.

O que fazer

O ideal é que as garrafas sejam retornáveis diretamente aos fabricantes, como acontece com bebidas como cervejas e refrigerantes. Os consumidores podem (e devem) cobrar as empresas para que aumentem esta prática. Aquelas garrafas chamadas de uso único devem ser imediatamente quebradas após o esvaziamento para que não parem nas mãos de falsificadores. 

Os cacos devem ser embrulhados e armazenados, com cuidado, em sacos ou caixas contendo avisos para que os catadores não se machuquem. Em seguida, o resíduo precisa ser levado a pontos de coleta seletiva - não jogue-o em lixo comum! Estes cacos podem se tornar uma garrafa nova, sustentável, e mais que isso: ficarão bem longe do crime organizado que está envenenando a população.