Mariana Sgarioni

Injeções, soro e transplantes: conheça os médicos de árvores

Startup de SC conta com uma equipe de biólogos e engenheiros arboristas que monitoram a saúde de árvores urbanas e evitam a derrubada desnecessária

Teecnicos da Arboran fazem o diagnóstico de uma árvore doente
Foto: Divulgação/Arboran
Teecnicos da Arboran fazem o diagnóstico de uma árvore doente
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Quem mora nos grandes centros urbanos já cansou de ouvir o barulho triste das motosserras da prefeitura que extirpam sem dó árvores frondosas, que demoraram anos para crescer, sob o argumento de risco de queda. Em geral, são árvores doentes e que poderiam ter sido tratadas.

A opinião é de Paulo Garbugio, biólogo, CEO e cofundador da Arboran, startup de Florianópolis dedicada ao manejo e à gestão de áreas verdes . Os chamados "doutores de árvores" desenvolveram métodos inovadores para tentar manter as cidades mais verdes e menos cinzas: tomografias, endoterapias e sequenciamento de DNA.

“O país com a maior biodiversidade do planeta é também o país mais desarborizado no ambiente urbano. Nossas cidades são um deserto cinza. Então pensamos em cuidar das árvores para que elas cuidem das pessoas", disse Garbugio.

A Arboran primeiro faz uma avaliação da árvore, com um diagnóstico detalhado. A partir desta primeira consulta, o “médico” propõe o tratamento adequado. Pode ser uma tomografia, para detectar se a árvore está com excesso de cavidades, um exame para saber se faltam nutrientes, uma endoterapia em que é injetado um soro nutritivo ou, ainda, um transplante, em que a planta é retirada de um lugar e plantada em outro. No limite, o “paciente” fica em uma espécie de UTI. Segundo a startup, 90% dos casos de queda de árvores estão ligados ao manejo errado: podas drásticas, raízes cortadas para dar lugar a calçadas, mudas de baixa qualidade ou espécies mal escolhidas para o local.

A Arboran criou o GAAU (Grau de Atenção para Árvores Urbanas), um software que avalia cada árvore em campo em poucos minutos, indicando risco, necessidade de cuidados e até o potencial de carbono estocado.

Desde 2017, a empresa já consultou mais de 60 mil árvores no Brasil. O sistema também pretende transformar árvores urbanas em ativos de crédito de carbono. Em um piloto realizado em Indaiá (SP), já foram gerados 8.610 créditos, equivalentes a cerca de R$ 730 mil, revertidos em ações de manutenção e preservação local.

“Árvores e jardins urbanos não são status de poder e sim de conforto térmico. Os jardins trazem umidade: uma árvore faz o mesmo efeito do que fazem 5 a 10 ar condicionados ligados. Em uma chuva torrencial, ela chega a interceptar o equivalente a duas caixas d' água de mil litros, evitando enchentes . E se existe gestão e acompanhamento técnico, a árvore não cai", completa Garbugio.