Uma das variáveis macroeconômicas mais importantes é também a mais desafiadora no que diz respeito à projeção. A dinâmica da taxa de câmbio nominal impõe certa humildade a quem tenta observar padrões do passado para inferir o seu comportamento no futuro. Ainda que seja assim, ela é crucial na construção de cenários macroeconômicos e algum tipo de “tentativa educada” para compreender a sua tendência pode ser válida.
Ao lembrarmos que a taxa de câmbio fechou janeiro deste ano em R$ 4,15 por dólar e ao final de setembro o seu valor por unidade da moeda norte-americana era de R$ 5,54 (dados do Banco Central do Brasil), emerge naturalmente uma pergunta: há espaço para que o real perca ainda mais valor ou já podemos imaginar um cenário de apreciação?
Para responder a essa pergunta, recorri a uma análise simples, mas poderosa, com base no artigo “Exchange rate forecasting on a napkin” de Michele Ca’ Zorzi e Michał Rubaszek, publicado no Journal of International Money and Finance, cujos fundamentos e os detalhes do modelo eu explicarei nos próximos dias aqui.
Eu utilizei o modelo favorito dos autores e percebi que o desempenho dele é satisfatório (especialmente dada a sua simplicidade). Nos gráficos abaixo, fiz a comparação das projeções (em azul) com os dados observados (em laranja) para horizontes de um a seis meses.
E o que podemos inferir para o comportamento da taxa de câmbio nominal a partir do modelo? Que há espaço para que ela deprecie mais até o meio do ano que vem. Teríamos maio e junho como o pico (há uma diferença na terceira casa depois da vírgula, mas se já é difícil projetar a direção da variação do câmbio, essa precisão seria mesmo para reforçar a piada de que os economistas – e professores de Economia, como é o meu caso – têm senso de humor). Ou seja, não há no horizonte uma tendência de valorização do real. Pelo contrário, de acordo com o modelo, poderíamos esperar depreciações adicionais, ainda que não ocorram novos choques significativos na esfera doméstica ou internacional.
No gráfico abaixo eu apresento a trajetória esperada para a taxa de câmbio nominal a partir de outubro (considerando que a projeção foi feita com dados até julho deste ano) até julho do ano que vem.
Note que o modelo considera que o espaço para perda de valor do real, em termos percentuais, fica em torno de 5,5%, menor, portanto, do que a depreciação de 12,8% que ocorreu após janeiro até o final de setembro.
Obviamente, dada a natureza da minha profissão e deste espaço, eu não poderia deixar de lembrá-los que este é apenas um exercício acadêmico e, de forma alguma, configura recomendação de investimento financeiro.