Olá, gravateiros e gravateiras. Como sempre faço todos os meses, estive na coletiva de imprensa da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), na última quinta-feira (5), em São Paulo. Apesar do Pibinho deste ano (a economia brasileira deve crescer menos de 1%), o setor automotivo mantém bom ritmo de emplacamento de veículos novos (alta acumulada de 9,9% de janeiro a agosto). O ano só não será fantástico porque a crise na Argentina derrubou as vendas para o nosso principal cliente. A participação do mercado argentino nas nossas exportações caiu de 75%, em 2018, para 53% neste ano.
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Esses números já são conhecidos, mas um ponto curioso me chamou a atenção no balanço do setor automotivo. Enquanto as vendas do setor crescem, na média, 9,9% no mercado interno, os licenciamentos de carros com motor 1.0 acumulam alta expressiva de 18,1%. A participação deste tipo de motorização chegou a 39,8% em agosto, ou seja, a cada dez veículos vendidos, quatro são carros 1.0
. É o maior percentual desde 2013. Será que as condições econômicas ainda difíceis justificam o aumento na procura por esses modelos?
Fiz exatamente essa pergunta ao presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, e acrescentei à indagação a dúvida sobre se essas vendas dos chamados “carros de entrada” ou “carros populares” não apertariam ainda mais as margens das montadoras. Moraes explicou que provavelmente haveria vários motivos que pudessem explicar o protagonismo dos carros 1.0. “As condições econômicas são um ponto, sim, inclusive com a volta dos financiamentos, mas podemos incluir as vendas para locadoras, que têm crescido bastante”, afirmou o presidente da Anfavea, salientando que os carros mais baratos normalmente representam margem menor para as montadoras.
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Eu mencionaria também a “Uberização” do transporte em várias cidades, em parte explicada pelo elevado desemprego que levou milhares de pessoas a virarem motoristas profissionais da noite para o dia. Não tenho números oficiais, mas como sou usuário de aplicativos de transporte, eu me arriscaria a dizer que a maioria dos carros utilizados nestas corridas particulares tem motorização mais simples.
Não podemos ignorar, no entanto, um ponto mencionado pelos executivos do setor que pode nos ajudar a compreender a alta fantástica das vendas dos modelos 1.0. Trata-se do avanço tecnológico, que transformou esses carros em máquinas potentes, que em (quase) nada lembram os antigos carros populares. Atualmente, o motor de mil cilindradas é, muitas vezes, turbinado, com mais potência, sem perder a sua característica fundamental de ser econômico.
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Mas atenção: se os modelos 1.0 turbo não lembram os antigos carros populares em (quase) nada, isso inclui o preço. Estamos falando em veículos que custam de R$ 50 mil a R$ 70 mil, patamares bem superiores aos dos “carros de entrada”, que ficam na casa dos R$ 30 mil. Esses, sim, são os autênticos mil cilindradas. Como não existem estatísticas que mostrem separadamente as vendas de carros 1.0 e as de modelos 1.0 turbo, a única certeza que temos é a de que há um boom nas vendas deste tipo de motor em 2019 – não necessariamente por questões financeiras. Assista a seguir ao vídeo de aniversário do canal "A Economia Sem Gravata", no YouTube.