Prezado ministro da Fazenda,
Escrevo ao senhor porque acredito que o ministro é um dos poucos membros do núcleo governista que pode entender as preocupações do setor privado. Mas, ao mesmo tempo, sei que uma de suas prioridades é encontrar uma solução para as contas públicas, assoladas por um déficit gigantesco. Infelizmente, o caminho encontrado por esta administração para resolver este problema é o do arrocho tributário. Como é antipopular elevar impostos dos trabalhadores, o alvo encontrado pelo governo é o empresariado. Neste sentido, o ministério da Fazenda tem sido bastante criativo para elevar a arrecadação e tirar dinheiro da iniciativa privada para pagar as contas estatais. Como se isso não bastasse, vê-se ainda uma mentalidade antimercado dentro dessa gestão, que busca regulamentar alguns aspectos das atividades empresariais que deveriam ficar intocados.
A combinação destes dois fatores causa um profundo desânimo entre aqueles que fazem a roda da economia girar. Quando analisamos o PIB do ano passado, por exemplo, vemos um índice baixíssimo de investimentos produtivos – e a recente fuga de capitais das bolsas de valores, alinhada à alta do dólar, mostra que os investidores estrangeiros estão deixando o país. O senhor poderá contra-argumentar que há uma quantia bilionária de investimentos a ser despejada no mercado brasileiro, vinda especialmente de indústrias como o setor automobilístico e de telecomunicações – e isso é verdade. Ocorre que a destinação de tais recursos foi decidida muito tempo atrás e tem mais a ver com o tamanho de nosso mercado do que com confiança no atual governo.
Existe um descrédito crescente em relação ao chamado Lula 3 por parte dos empresários. Diante disso, é melhor investir algum tempo em entender as causas deste fenômeno do que simplesmente acusar o empresariado de sabotagem – e colocar tal comportamento na conta da polarização política ou dizer que a iniciativa privada se comporta assim por estar coalhada de bolsonaristas.
Ocorre, ministro, que empresários são seres pragmáticos. O senhor pôde ver que, nos primeiros mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, houve investimentos e a economia cresceu. Quando a coisa degringolou? Na gestão de Dilma Rousseff, na qual a então presidente passou a ignorar as leis de mercado e jogou o país em uma combinação nefasta de inflação e recessão (hoje, felizmente, o perigo de um repique inflacionário está fora de questão).
Sei que muitos membros da atual administração acham que Dilma foi injustiçada, pois acreditam que o empresariado teria puxado o tapete da ex-presidente, colaborando para a desaceleração econômica. Ora, ministro, podemos acusar os empresários de muita coisa, menos de serem suicidas econômicos. Afinal ninguém em sã consciência vai trabalhar por uma recessão que prejudicará seus próprios negócios.
Sabemos que os resultados do PIB no primeiro trimestre foram bons. E, de fato, houve de janeiro a março uma onda de otimismo no mercado. Ocorre que isso passou. Converso com empresários todos os dias. Não ouvi, nos últimos meses, nenhum (repito: nenhum) que estivesse feliz com o governo.
Sobre esses mesmos empresários, gostaria de dizer algo nesta missiva: não estamos mais nos tempos do capitalismo selvagem (embora tenhamos aqui e ali, alguns representantes da livre iniciativa que agem como se estivessem no Século 19). O mundo mudou e o empresariado faz parte da solução, não do problema. Há centenas de iniciativas empresariais que surgiram nos últimos tempos para ajudar a resolver desequilíbrios sociais – especialmente com foco em insegurança alimentar e educação.
Por isso, seria bom que o governo mostrasse alguma boa vontade, fazendo também algum esforço para obter um equilíbrio fiscal. Há espaço para o corte de gastos públicos, especialmente dentro da estrutura pantagruélica do Estado, que pode ser reduzido. Sei que o PT não gosta de ouvir falar em corte de despesas ou de privatizações. Mas alguma coisa precisa ser feita, sob pena de sufocar e desanimar de vez os empresários.
Como o senhor é mestre em economia, conhece a teoria chamada Curva de Laffer, segundo a qual aumentar frequentemente as alíquotas de imposto pode levar a uma redução na receita total arrecadada pelo governo. O senhor não está exatamente aumentado tributos, mas elevando a arrecadação com novas regras que atacam sempre o mesmo lugar: o caixa das empresas (em alguns casos, o cofre dos mais ricos — mas isso é tema para outra carta). Portanto, cabe a pergunta: até quando o empresariado será chamado para fazer frente às necessidades de caixa do governo?
Os empresários não são inimigos, ministro. Se estão descontentes, é porque querem ver suas empresas no caminho do crescimento – e não é assim que a iniciativa privada está enxergando o futuro. Por isso, é importante que o governo faça a sua parte. O empresariado não vai conseguir pagar essa conta sozinho. Por isso, não estranhe se houver, em um futuro próximo, protestos empresariais contundentes ou uma redução fortíssima da atividade econômica.
Toda vez que os empresários são vistos como vilões pelo governo, a economia sofre. E isso acaba sendo um tiro no pé para quem precisa de impostos para pagar a estrutura enorme do Estado.
Atenciosamente,
Aluizio Falcão Filho