O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece ter incorporado recentemente o espírito de um líder estudantil, tamanha é sua verve contra os empresários e o livre mercado. Inebriado pelo idealismo de Esquerda, ele vem jogando para a torcida desde que assumiu o poder – e, no fundo, acha que esse comportamento é inofensivo do ponto de vista econômico. Nesta semana, no entanto, surgiu a conta: uma fatura de R$ 21,2 bilhões.
Esta é a soma de todas as retiradas dos investidores estrangeiros das bolsas de valores brasileiras do início do ano até meados de março. Devemos considerar também que muitos desses investidores preferiram colocar seus recursos na economia americana, que vem se mostrando sólida ou apostando em uma alta de juros a ser promovida pelo Federal Reserve no futuro.
Contra os fatores macroeconômicos que ocorrem nos Estados Unidos, o governo não pode fazer mujita coisa. Mas há algo que pode ser providenciado rapidamente: que o presidente refreie seus comentários ou pare de demonstrar que interfere em empresas como Petrobras e Vale. Está na hora de o presidente imitar a si mesmo: aquele Lula que assumiu o poder em 2003 era, antes de mais nada, um pragmático. E é disso que necessitamos agora. Lula precisa trocar o idealismo pelo pragmatismo.
No caso específico da Petrobras, pode-se traçar uma relação direta entre as falas do presidente e o comportamento dos investidores estrangeiros. Em 11 de março, a empresa anunciou que não distribuiria dividendos extraordinários. No mesmo dia, Lula disse que essa tinha sido a sua orientação ao presidente da estatal, Jean Prates. E que os recursos que poderiam ser dirigidos aos acionistas seriam investidos em projetos futuros. No dia seguinte, houve uma saída de R$ 1,8 bilhão de dinheiro estrangeiro da bolsa brasileira.
Um país como o Brasil , seja o seu governo direitista ou esquerdista, precisa de capital estrangeiro para crescer e reduzir desigualdades sociais. Mas o que estamos vendo é um desinteresse do exterior em coloca dinheiro por aqui. Os números revelam uma triste realidade: investimentos diretos no Brasil chegaram a US$ 62 bilhões de janeiro a dezembro de 2023, o que representa 2,85% do Produto Interno Bruto. Esse total representa uma queda de US$ 12,6 bilhões em relação ao ano de 2022, quando tivemos um investimento estrangeiro total de US$ 74,6 bilhões (3,82% do PIB).
Alguns economistas de Esquerda podem dizer que o mercado, de maneira geral, é bolsonarista. Ou seja, tal diminuição teria uma motivação ideológica. Ocorre que, no exterior, a expectativa das empresas estrangeiras era de que Lula traria maior pacificação ao país, em contraponto aos rompantes belicosos de Jair Bolsonaro.
Infelizmente, Lula se mostrou em certas questões um Bolsonaro com o sinal invertido, o que frustrou vários investidores internacionais. Além disso, dois fatores também colaboraram para o desinteresse dos estrangeiros em relação ao nosso mercado. Um deles é o apetite voraz do governo em aumentar sua captação de impostos. Outro é a insegurança jurídica, que cresceu avassaladoramente no Brasil.
Lula poderia aprender bastante sobre pragmatismo caso estudasse um pouco a aproximação entre Estados Unidos e China em 1972, uma iniciativa de Henry Kissinger que foi abraçada pelo presidente Richard Nixon, talvez um dos maiores representantes do anticomunismo americano de todos os tempos.
Kissinger percebeu que precisava neutralizar a aliança entre China e a então União Soviética para se manter em vantagem na chamada Guerra Fria. Articulou, então, a aproximação entre Nixon e Mao Tse-Tung, algo que só poderia ser feito se Nixon deixasse seus princípios anticomunistas de lado. Nixon foi em frente e os EUA conseguiram diminuir o poder diplomático dos soviéticos, em um conflito que só viria a terminar, para valer, durante os anos de Ronald Reagan e a queda do Muro de Berlim em 1989 (hoje, com Vladimir Putin no poder, essa história pode se repetir).
Lula poderia, como Nixon, deixar um pouco a ideologia de lado e pensar naquilo que seria melhor para o país – como fez um certo sociólogo com raízes esquerdistas, que promoveu no Brasil o maior programa de privatização de estatais que se tem notícia. Seu nome? Fernando Henrique Cardoso.