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Especialista recomenda estabelecer regras claras em contrato para evitar dores de cabeça e disputas judiciais

O roubo de ideias entre colegas de trabalho é um problema que muitos já enfrentaram. A falta de ética nas relações profissionais é o pano de fundo filme “A Rede Social”, selecionado para o Oscar 2011. Mas como saber de quem foi a ideia original em um ambiente de desenvolvimento de projetos em que todos participam?

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Para especilista, é necessário estar atento com quem irá compartilhar suas ideias

Segundo Alexandre Rangel, sócio-diretor da Alliance Coaching, é necessário estar atento em relação a com quem, quando e de que maneira se vai compartilhar uma ideia. “É importante você conhecer muito bem a pessoa, para depois não ter problemas de sua informação ser roubada.”

Rangel afirma que no mundo corporativo, no qual o acesso às informações é muito mais fácil e rápido, muitas vezes é difícil saber de quem foi uma ideia. “Se você troca uma ideia por uma rede social, por exemplo, pode não ter o registro disso e, então, essa informação pode ser repassada com facilidade”, explica.

Roteiro do filme

Em 2003, o jovem gênio em programação de computadores Mark Zuckerberg, graduando da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, leva um fora da namorada e ataca a reputação dela por meio de seu blog. Em seguida, cria um aplicativo para avaliar a beleza e sensualidade das universitárias do campus, o Facemash, com ajuda do programador e amigo Eduardo Saverin - brasileiro.

A invenção torna Zuckerberg popular e três outros estudantes o convidam para ajudar a colocar no ar um projeto pessoal deles: uma rede social universitária, na qual os cadastrados poderão se relacionar sabendo exatamente quem é a pessoa por trás da tela do computador. Nesse momento, Mark se tranca em seu quarto e aprimora as ideias dos colegas, criando o “The Facebook”, embrião da rede social Facebook.

O filme, baseado no livro “Bilionários Por Acaso - A Criação do Facebook”, mostra cenas do passado e do presente, com Mark programando o site e se defendendo no tribunal de seus ex-colegas, que lutam pelo crédito e ganhos financeiros a que julgam ter direito.

Necessidade de contrato

A presidente do Grupo Foco de Recursos Humanos, Eline Kullock, afirma que os conceitos éticos de muitas pessoas estão em transformação. “Está havendo uma mudança de valores. O que antes era considerado antiético, hoje não é mais.”

Eline acredita que esse é um problema que cada vez mais estará presente na vida das empresas. Por isso, sugere registrar tudo no papel. “Quando um trabalho é coletivo, é preciso deixar claro isso no contrato. Tudo tem de ser formalizado.”

Na opinião de Alexandre Rangel, o mais certo é a pessoa deixar sempre tudo documentado, mesmo que seja por e-mail. “A maioria não tem consciência da vulnerabilidade da informação que a internet trouxe. Tudo pode ser enviado a qualquer momento e sua ideia acaba sendo apropriada sem te dar tempo para se proteger.”

Antes, analisa Eline Kullock, apenas em uma conversa ficava tudo acertado. Mas isso dava margem a interpretações diferentes. Segundo ele, em trabalhos de equipe “era mais difícil provar de quem foi a ideia original”.

Eline afirma que o ritmo cada vez mais acelerado dos negócios, em particular no mundo da internet, como mostra o filme, contribui para o surgimento desse tipo de conflito. Nesse novo cenário, as pessoas passam a considerar antiético apenas o que não for cumprido de um contrato. Por isso, o ideal é tomar todas as precauções necessárias para que sua ideia não seja roubada. “Desenhe uma estratégia de apresentação do projeto”, aconselha Alexandre Rangel.

Ética

Para Rangel, há muitas pessoas que não desprezam a ética e não se preocupam em “roubar” ideias dos outros. “Vejo até chefes fazendo isso. O funcionário apresenta um projeto e ele o leva como se fosse o criador. Nesse caso, quase sempre não há muito o que fazer”, afirma o consultor.

Segundo Eline Kullock, há uma grande mudança de valores em curso. “O próprio reitor, no filme, diz para os alunos criarem um novo site. Para ele, isso é normal. Se a universidade pensa assim, como não terá influência no que é ético e o que não é? A sociedade mudou e é isso que o reitor está dizendo.”

A ética, de acordo com Eline, é feita de usos e costumes. “Antes você tinha de chamar seus pais de senhor e senhora para demonstrar respeito. Isso mudou. Você continua respeitando, mas não precisa usar de tanta formalidade. O que muda são o uso e o costume. A ética permanece, mas o que foi combinado tem de estar escrito em algum lugar.”

Ideias roubadas

Judith Brumana era vendedora em um antiquário em São Paulo e conta que teve sua ideia roubada. Ela, que estava havia muitos anos na empresa, sempre deu muitas ideias até que entrou uma pessoa nova e se apropriou delas. “Ela chegou, escutou tudo e passou para frente como se fossem dela”, diz ela. A profissional optou por não contar nada a ninguém, mas afirma que depois disso começou a se posicionar de outra forma.

Judith acabou saindo da empresa, pois a colega que “roubou” sua ideia foi promovida graças a sugestão. “Ela levou todos os méritos. E eu, que trabalha na empresa havia mais tempo, continuei na mesma posição.”

Oscar 2011

O filme “A Rede Social”, indicado ao Oscar 2011, concorre em oito categorias: melhor edição de som, trilha sonora, montagem, fotografia, roteiro adaptado e melhor filme. Além de ter indicações de Jesse Eisenberg, que interpretou Mark Zuckerberg, como melhor ator, e também David Fincher, a melhor diretor. Em 16 de janeiro, o filme foi escolhido como vencedor do Globo de Ouro 2011.

Os ganhadores do Oscar 2011 serão anunciados no dia 27 de fevereiro.