Richard A. Brooks
O governo japonês aprovou, nesta sexta-feira (22), um pacote de estímulo econômico de 140 bilhões de dólares (814 bilhões de reais) para reforçar o poder de compra dos consumidores contra a inflação e impulsionar o crescimento lento, menos de um mês após o fracasso eleitoral da coalizão no poder.
O pacote de medidas, estimado em 22 trilhões de ienes, ainda deve ser aprovado pelo Parlamento, onde o governo do primeiro-ministro, Shigeru Ishiba, não tem maioria.
Nas eleições legislativas de 27 de outubro, o Partido Liberal Democrático de Ishiba registrou o seu pior resultado em 15 anos e perdeu a maioria parlamentar da sua coalizão governamental.
O programa de estímulo inclui subsídios de cerca de 30.000 ienes (194 dólares ou 1.128 reais) para o setor energético, ajuda direta às famílias de baixa renda e ajustes fiscais, assim como ajuda às pequenas empresas, segundo o governo.
"O objetivo é garantir que o crescimento salarial supere regularmente a inflação e garantir uma transição para uma economia orientada para o crescimento, impulsionada por aumentos salariais e investimento", diz um comunicado.
O impacto global do projeto é estimado em 39 trilhões de ienes (cerca de 250 bilhões de dólares ou 1,45 trilhão de reais), incluindo empréstimos e investimentos do setor privado.
Tudo isso será financiado com investimento público adicional – cerca de 13,9 quadrilhões de ienes, segundo o governo – o que exigirá a aprovação de um orçamento retificativo antes do final de dezembro.
Para Ishiba, o relançamento do consumo era uma prioridade, depois de ter prometido apoiar as famílias de baixa renda e revitalizar as regiões rurais.
- Descontentamento -
Mas o líder pagou pelo descontentamento da população com a inflação e a desaceleração da quarta maior economia do mundo nas eleições antecipadas de outubro.
A inflação atingiu novamente 2,3%, com o preço do arroz disparando a 59% em termos anuais. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) continua oscilando, apenas 0,2% em termos anuais no terceiro trimestre.
Até agora, o pacote de estímulo provocou reações diversas nas ruas de Tóquio.
"Hoje em dia, não só as famílias de baixa renda, mas também as famílias de média renda precisam de mais medidas de apoio", disse Hisaki Sato, um homem de 46 anos.
Para Katsuhiro Hirakawa, um morador de Tóquio de 63 anos, o governo deveria "pensar cuidadosamente sobre por que precisaria de mais receitas fiscais ou como poderia cortar gastos desnecessários, antes de tomar decisões orçamentárias".
O governo de Ishiba precisa do apoio de uma parte da oposição para aprovar o seu plano de estímulo no Parlamento, no qual incluiu medidas exigidas pelo Partido Democrático do Povo (centro), como o aumento do limite máximo da renda tributável.
Mas os seus detratores temem que o dispositivo reduza as receitas fiscais em vários trilhões de ienes, em um momento em que o rácio da dívida do Japão (mais de 200% do PIB) já é um dos mais altos do mundo, e o envelhecimento da sua população agrava a pressão nas finanças públicas.
O governo também prepara outro plano de 10 trilhões de ienes de fundos públicos entre agora e 2030 para apoiar o aumento da inteligência artificial e da produção de semicondutores no arquipélago.