Maior siderúrgica do Chile fecha por forte concorrência do aço chinês

A Huachipato, a maior siderúrgica do Chile, desativou seu forno na manhã desta segunda-feira(16) para encerrar 74 anos de operações, atingidas pela forte concorrência do...

Vista aérea da Siderúrgica Huachipato, em Talcahuano, Chile, em 11 de setembro de 2024
Foto: FRANCO FAFASULI
Vista aérea da Siderúrgica Huachipato, em Talcahuano, Chile, em 11 de setembro de 2024
FRANCO FAFASULI

A Huachipato, a maior siderúrgica do Chile, desativou seu forno na manhã desta segunda-feira(16) para encerrar 74 anos de operações, atingidas pela forte concorrência do aço importado da China.

"Foi um final digno e emblemático para toda uma era na história do aço chileno e fica o testemunho de que nossos trabalhadores nunca desistiram", disse Jean Paul Sauré, gerente da Huachipato, em mensagem divulgada pela empresa, confirmando a paralisação do Alto-Forno 2, onde teve início o processo de fabricação de aço não reciclado.

O forno começou a ser desativado às 02h30 locais (mesmo horário em Brasília), confirmou à AFP o presidente do sindicato 2 da empresa, Fernando Orellana.

"É um dia triste para todos os trabalhadores da Huachipato", comentou Orellana.

O fechamento afeta 2.700 trabalhadores – diretos e terceirizados – e outras 20 mil pessoas ligadas a esta empresa, um dos principais motores econômicos de Talcahuano, cidade localizada 500 quilômetros ao sul de Santiago.

- Decisão difícil -

Criada em 1950, a empresa decidiu fechar, esmagada pela concorrência do aço chinês que inunda os mercados mundiais e chega ao Chile 40% mais barato. A Huachipato tentou sobreviver.

Nos últimos anos, especializou-se em produtos para a mineração de cobre, metal do qual o Chile é o principal produtor mundial, e no início do ano exigiu a imposição de sobretaxas às importações de aço chinesas.

Em abril, uma comissão estatal que fiscaliza os preços de produtos importados aprovou tarifas adicionais de 25% a 33% após constatar a concorrência "desleal" do gigante asiático. A medida não foi suficiente para compensar perdas de 700 milhões de dólares (3,89 bilhões de reais) acumuladas desde 2019.

"É um momento difícil e triste para todos. As condições do mercado siderúrgico mundial nos obrigam a tomar esta difícil decisão, e estamos convencidos de que fizemos todo o possível para evitá-la, mesmo suportando enormes perdas durante muitos anos", afirmou o gerente da empresa.

Nas últimas duas décadas, a China aumentou a sua participação no mercado siderúrgico global de 15% para 54%.

Na América Latina, as importações cresceram um recorde de 44% em 2023, ultrapassando 10 milhões de toneladas, segundo a Associação Latino-Americana do Aço. A Huachipato produzia 800 mil toneladas de aço por ano.

- "Onde vou encontrar trabalho com esta idade?" -

Diante do fechamento, os trabalhadores da fábrica aderiram a um plano de saída que inclui benefícios adicionais de 30% acima das indenizações obrigatórias. Porém, o acordo não incluiu os terceirizados, cerca de metade do total de empregados.

"É terrível ficar desempregado da noite para o dia. Onde vou encontrar trabalho nesta idade?", pergunta Roberto Hernández, um terceirizado de 54 anos.

Segundo estimativas sindicais, mais de metade dos demitidos têm mais de 50 anos.

O governo se reuniu com os sindicatos nesta segunda-feira e anunciou um plano para fortalecer a indústria e aumentar o emprego na região.

São 32 medidas para "reduzir o impacto trabalhista e produtivo" do fechamento de Huachipato, entre elas, "apoio e acompanhamento aos fornecedoras da Huachipato em risco", anunciou o Ministério da Economia.

Segundo um estudo da Universidade Santíssima Concepção, o fechamento da Huachipato afetará 1.090 pequenas e médias empresas e reduzirá as receitas do município de Talcahuano.

Outro estudo do Observatório Biobío estima que o desemprego aumentará 2,5 pontos percentuais, atingindo 11% na região.

AFP