O Banco Central do Brasil (BCB) deve manter a taxa de juros de referência Selic em 10,5% na quarta-feira (19), o que representa o fim de um ciclo de baixa iniciado em meados do ano passado, segundo as previsões do mercado.
Caso seja implementado, este freio é uma má notícia para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que desde que assumiu o poder em 2023 tem pressionado pelo declínio acelerado das taxas para impulsionar o crescimento econômico.
Após sete reduções consecutivas, o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciará sua decisão após uma reunião de dois dias iniciada nesta terça-feira (18).
"O mercado espera de maneira quase unânime a manutenção da taxa de juros", afirmou Alexandre Lohmann, economista-chefe da Constância Investimentos.
Em sua última reunião em maio, o Copom já havia desacelerado o ritmo dos cortes, ao reduzir a Selic em 0,25 ponto percentual (pp).
Até então, o ritmo constante de quedas era de 0,50 pp desde o início do ciclo, em agosto de 2023, com uma Selic de 13,75%.
- Lula contra taxas altas -
Há um mês, os agentes financeiros previam que novas reduções levariam a Selic para 10% no final do ano. Mas agora esperam que o Copom mantenha o nível em 10,5%, de acordo com a pesquisa Focus do BCB publicada na segunda-feira.
Analistas explicam que as expectativas esfriaram devido às preocupações com a situação fiscal do Brasil e às dúvidas sobre o compromisso do Banco Central com o combate à inflação.
"O cenário deteriorou-se substancialmente nas últimas semanas, além do aumento do risco fiscal e da desvalorização" do real, afirmou Lohmann.
"O principal fator é, sem dúvida, a deterioração das expectativas de inflação, especialmente para o ano de 2025", completou.
A inflação brasileira teve um aumento de 3,93% em 12 meses em maio, acima da meta de 3% fixada pelo BCB, embora ainda dentro da faixa de tolerância oficial.
Segundo a pesquisa Focus, o aumento dos preços no varejo será de 3,96% ao final deste ano.
A política de taxas altas implementada para controlar os preços torna o crédito mais caro e desestimula o consumo e o investimento.
Após defender a vitalidade da economia brasileira, Lula insistiu nesta terça-feira na necessidade de cortes, ao argumentar que a "inflação está controlada" e que não há "explicação" para "a taxa de juros estar como está".
"Só temos uma coisa desajustada neste país: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Presidente (da instituição financeira) que tem lado político, que trabalha para prejudicar o país", declarou Lula em uma entrevista à rádio CBN.
A economia brasileira, a principal da América Latina, cresceu 0,8% no primeiro trimestre, após dois destes períodos em estagnação.