
O presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira, afirmou, nesta quinta-feira (23), que o banco criará um fundo imobiliário para capitalizar os Correios . A declaração ocorreu em entrevista à Folha de São Paulo.
Em meio a um rombo financeiro que vem aumentando nos últimos anos, a estatal passa neste momento por um plano de reestruturação do seu equilíbrio financeiro.
O Portal iG entrevistou o economista Cicero Pimenteira, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que fez uma análise da medida anunciada pela Caixa para ajudar os Correios no momento de crise.
Fundo imobiliário
Na prática, a ideia é criar um fundo imobiliário, com referência nos imóveis dos Correios, avaliados em cerca de R$ 5,5 bilhões
. Eles serão transferidos para este fundo, que captará recursos junto a investidores.
"Isso poderia ser feito com qualquer outro banco, público ou privado. O governo optou pela Caixa Econômica Federal, porque também é uma forma de trazer ativos para o banco e a Caixa capitalizar-se com esse capital imobilizado dos Correios. A ideia é colocar os imóveis dos Correios para aluguel de terceiros"
, explica.
Os imóveis passam a ser ativos negociáveis e quem utilizar-se desses ativos para negociação vai ter uma rentabilidade. São 0,4% do valor do imóvel como rentabilidade para o investidor que resolver aplicar e receber o retorno do aluguel, segundo o economista.
"Será uma carteira administrada por uma terceira pessoa, que fará a corretagem. E essa corretagem terá como retorno, como taxa de serviço, 0,4% do valor do imóvel"
, detalha.
Imóveis podem demandar investimentos
Cicero Pimenteira destaca, no entanto, que o estado físico desses imóveis dos Correios ainda não está claro.
Segundo o economista, podem ser imóveis depreciados pela falta de uso e manutenção, o que implicará também em investimentos para que eles se tornem atrativos ao mercado
.
"Não vi dentro do que está sendo proposto até agora a ideia de que os Correios pagarão aluguel para si próprio. O que eu entendo é que estão sendo considerados nesta proposta aqueles imóveis dos Correios que estão inativos ou impróprios para uso. De qualquer forma, por enquanto, ainda são muitas especulações", pondera, acrescentando que todas as regras deverão estar muito claras quando o Fundo Imobiliário de Capitalização dos Correios se tornar um documento.
Privatização velada?
O professor da UFRRJ salienta também que, diante do que foi exposto até o momento pela Caixa, não se trata de nenhuma manobra parecida com privatização dos Correios.
"É simplesmente um fundo de captação de investimentos que tem como ativo imóveis inservíveis para uso imediato, que podem ser reformados e reestruturados para utilização. Então, o direito de propriedade dos bens dos Correios e Telégrafos não está sendo colocado em jogo. A partir do momento que você não transmite o direito de propriedade para um terceiro, você não privatiza", destaca ele.
Ainda na opinião do economista, neste contexto, não existe nenhuma contradição do Governo Federal, que descartou a ideia de privatização dos Correios no início da gestão.
"O que está sendo feito é pegar vários capitais imobilizados e dar outros fins a esses bens, que continuarão sendo do Estado. É um processo bem tranquilo, não privatista e é uma forma do próprio imóvel se pagar", conclui Cícero Pimenteira.
O plano de reestruturação dos Correios para recuperar o rombo financeiro da estatal , anunciado na semana passada pelo presidente Emmanoel Schmidt Rondon,
inclui corte de despesas, diversificação de receitas e recuperação da saúde financeira
, contemplando empréstimo com bancos, este fundo imobiliário e outras medidas.
A Caixa também atuará na frente de empréstimos para a estatal, com o Tesouro Nacional, garantindo crédito de R$ 20 bilhões para os Correios.