
A Caixa Econômica Federal anunciou nesta sexta-feira (10) a retomada do financiamento de até 80% do valor de imóveis no SAC (Sistema de Amortização Constante), revertendo a redução de 70% adotada desde novembro do ano passado.
O anúncio foi feito durante o evento Incorpora 2025, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, e faz parte do novo modelo de crédito imobiliário do governo federal, voltado a ampliar o acesso à moradia e estimular a economia.
Entenda
: Caixa retoma financiamento de até 80% do valor do imóvel
Segundo Daniel Rezende, diretor regional da BRZ Empreendimentos, a medida traz impacto direto para a classe média, historicamente excluída de programas como o Minha Casa, Minha Vida.
“O teto de juros de 12% ao ano torna o financiamento muito mais acessível para famílias com renda entre R$ 12 mil e R$ 20 mil, que hoje enfrentam juros de 19% a 22% ao ano e dificuldades para adquirir um imóvel” , afirma.
Entre as principais mudanças, está o aumento do teto do SFH (Sistema Financeiro de Habitação) de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões e a permissão do uso do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) em imóveis de maior valor, beneficiando famílias com renda mensal de até R$ 8 mil.
Para imóveis acima de R$ 2 milhões, os financiamentos passam a ser enquadrados no SFI (Sistema de Financiamento Imobiliário), com liberação de 20% dos recursos.
Rezende destaca ao Portal iG que a nova política habitacional prevê a utilização mais eficiente dos recursos da poupança e do FGTS.
“O governo está reduzindo o recolhimento obrigatório dos bancos de 20% para 15%, o que libera até R$ 150 bilhões para o mercado habitacional até 2026. Isso deve movimentar a construção civil e gerar empregos em toda a cadeia do setor” , explica.
Para famílias que hoje se enquadram fora das faixas tradicionais do MCMV, a medida cria um novo público-alvo e amplia o teto de preços dos imóveis.
“Estamos falando de imóveis entre R$ 400 mil e R$ 650 mil, com potencial de atender famílias que antes não tinham acesso a crédito com juros acessíveis. Isso representa um novo e considerável mercado para construtoras”, acrescenta o especialista.
O novo modelo também busca oferecer previsibilidade para os compradores.
“O teto de juros garante segurança no planejamento financeiro de longo prazo, essencial em financiamentos que podem durar 30 anos ou mais. Sem esse limite, os compradores ficam expostos às oscilações da economia” , explica.
No entanto, ele alerta que os bancos podem se tornar mais seletivos caso o teto de juros reduza a rentabilidade das operações.
“Se o custo de captação for maior que a taxa de teto, as instituições podem preferir direcionar recursos a aplicações mais lucrativas. O sucesso da política dependerá da capacidade do governo de garantir liquidez e equilibrar previsibilidade para o comprador com rentabilidade para os bancos” , ressalta.
Além do financiamento direto, o pacote de estímulos inclui programas complementares, como o Desenrola, para renegociação de dívidas, e um plano de reforma de moradias, com R$ 7,5 bilhões previstos entre 2025 e 2026.
O governo estima que as mudanças beneficiarão 120 mil famílias ainda este ano e gerarão 2,8 milhões de empregos no setor da construção civil. A meta é alcançar 80 mil financiamentos adicionais pela Caixa até o ano que vem.
Rezende enfatiza ainda a necessidade de ajustes estruturais para garantir a sustentabilidade do crédito habitacional.
“Não basta injetar recursos no sistema. É preciso diversificar as fontes de captação, incluindo o mercado de capitais, simplificar processos de financiamento, reduzir burocracia e aprimorar o marco regulatório, oferecendo segurança jurídica para investidores e compradores” , afirma.
Planejamento

Segundo o especialista, a política habitacional também precisa ser planejada a longo prazo, considerando o déficit habitacional e o crescimento populacional.
“A nova política é um passo importante, mas sua eficácia dependerá da capacidade de manter juros acessíveis, liquidez constante e um ambiente econômico estável” , conclui.