
O ouro fechou em alta nesta quarta-feira (1º) e renovou seu recorde histórico, em meio ao enfraquecimento do dólar e às incertezas sobre a situação fiscal dos Estados Unidos .
O contrato mais líquido, com vencimento ainda em outubro, subiu 0,63% e encerrou o pregão cotado a US$ 3.897,50 por onça-troy na Comex, divisão de metais da Bolsa de Nova York (Nymex).
Foi a terceira valorização consecutiva da commodity, que tem recebido forte fluxo de investidores em meio à paralisação do governo norte-americano (shutdown) e às expectativas de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) reduza a taxa de juros em sua próxima reunião, marcada para dezembro.
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Ouro como proteção
Para especialistas, o movimento reflete a percepção de que o metal precioso continua a desempenhar papel central em períodos de instabilidade.
“O ouro costuma ganhar destaque em momentos de crise porque é visto como um ativo de proteção. Claro que ele não é livre de riscos, mas tem um diferencial: historicamente sempre foi tratado como reserva de valor. Por séculos, investidores recorrem a ele justamente pelo caráter tradicional e pela sensação de segurança que transmite. Quando há perda de referência em ativos como dólar, bolsa ou títulos de renda fixa, o ouro aparece como porto seguro, sustentado por esse histórico de milênios” , afirma Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos, ao Portal iG .
Segundo Cunha, a valorização atual ocorre em um contexto particular, já que acontece em paralelo à alta das bolsas internacionais.
“Isso indica que não se trata apenas de busca por proteção, mas principalmente de uma crescente desconfiança nas moedas fiduciárias. Durante muitos anos, vimos juros extremamente baixos, forte expansão fiscal e monetária em várias economias, e agora o resultado é uma inflação global que ainda está sendo combatida” , explica.
O executivo lembra que bancos centrais têm diversificado reservas, reduzindo exposição a títulos do Tesouro dos EUA e ampliando a compra de ouro físico.
“Eles são hoje os principais compradores e um dos motores dessa alta. Além disso, há o efeito manada típico dos mercados, depois que o ouro começa a subir, investidores de diferentes perfis passam a entrar, o que sustenta ainda mais o movimento” , diz.
Pressões externas

A recente valorização do ouro ocorre em um cenário de incertezas fiscais e políticas nos Estados Unidos.
O risco de paralisação levou investidores a buscar alternativas consideradas mais seguras, pressionando a cotação do ouro. Ao mesmo tempo, aumentaram as apostas de que o Fed reduzirá os juros básicos na reunião de dezembro, em resposta a sinais de desaceleração econômica.
Taxas mais baixas reduzem a atratividade de ativos de renda fixa e tendem a favorecer commodities como o ouro, que não geram rendimento, mas preservam valor em cenários de inflação ou instabilidade cambial.
Dinâmica de mercado
Analistas destacam que, além de fatores conjunturais, a alta do ouro reflete movimentos estruturais de longo prazo. O metal tem registrado ganhos consistentes desde o início do ano, acumulando mais de 15% de valorização em 2025.
Segundo Cunha, o momento atual combina diferentes elementos que reforçam a atratividade do ativo.
“Mesmo sem uma crise aguda instalada, a combinação de desconfiança com moedas tradicionais, histórico de preservação de valor e o caráter anti-inflacionário do ouro tem atraído fluxos relevantes e explica essa trajetória de alta.”
A expectativa de curto prazo é que a commodity continue sensível às negociações fiscais nos EUA e às sinalizações do Fed.
Se houver acordo para contornar a paralisação do governo, parte do prêmio de risco pode se dissipar, mas a trajetória de valorização seguirá influenciada pelo comportamento dos bancos centrais e pelo ambiente global de inflação ainda elevada.
Para investidores, a principal dúvida é se a cotação conseguirá sustentar novos recordes ou se haverá correções diante de eventual melhora nas condições macroeconômicas.