
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em um evento realizado nesta sexta-feira (14) em Sorocaba( SP) e aproveitou para criticar o aumento no preço dos ovos e prometer buscar respostas para o problema.
A declaração foi feita durante a entrega de 789 veículos para 559 municípios de 21 estados, por meio do Novo PAC( Programa de Aceleração do Crescimento). O investimento total foi de R$ 243,5 milhões. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT-SP), e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB-SP) também participaram da cerimônia.
Durante o discurso, Lula expressou indignação com o aumento expressivo no preço dos ovos. Segundo ele, em janeiro de 2023, a caixa com 30 dúzias de ovos custava R$ 144,15, valor que praticamente se manteve em janeiro de 2024 (R$ 143,09) e em janeiro de 2025 (R$ 144,05). No entanto, em fevereiro, o preço disparou para R$ 210.
"Eu estou querendo descobrir onde é que teve um ladrão que está passando a mão no direito de comer ovo do povo brasileiro", afirmou o presidente.
Lula também criticou a falta de explicações concretas sobre o aumento e sugeriu que pode haver uma prática abusiva por parte de alguns produtores ou atravessadores.
"O povo come ovo. O nosso consumo per capita ainda é pouco. O povo brasileiro come, em média, 260 ovos por ano. É pouco, não dá nem um por dia. Sabe quantos ovos o Brasil vai produzir este ano? 59 bilhões de ovos. Então, não tem explicação para o ovo estar caro. Alguém está passando a mão, esse é o dado concreto”, disse.
O presidente ainda comentou sobre o impacto da alta dos preços nos hábitos alimentares da população e reforçou que o governo está em busca de soluções para o problema.
"A carne vai baixar, vocês podem ter certeza de que vão comer picanha outra vez. Estamos numa briga tremenda. [...] Nós queremos encontrar uma solução, porque não tem explicação. Alguns dizem que aumentou a exportação e que o dólar está caro. Tudo bem que quem exporta vai ganhar mais, porque vai receber em dólar. Mas o que ficou aqui não tem que subir de preço”, enfatizou o presidente.
Lula também mencionou a gripe aviária nos Estados Unidos como um possível fator de pressão sobre o preço dos alimentos, mas questionou se isso justificaria o aumento dentro do território brasileiro.
"Dizem que o frango aumentou por causa da gripe aviária nos Estados Unidos, e eles tiveram que abater o rebanho. Mesmo assim, eles não exportam nossos ovos — ou exportam muito pouco”, comentou.
Especialistas apontam causas para a alta nos preços
Economistas e especialistas consultados pela reportagem do portal iG afirmam que o aumento no preço dos ovos é reflexo de um cenário econômico mais amplo, envolvendo desde a pressão inflacionária até custos de produção elevados e políticas governamentais.

Para o economista e doutor em Relações Internacionais, Igor Lucena, o aumento nos preços dos ovos reflete uma combinação de fatores, como a gripe aviária nos Estados Unidos, o aumento dos custos de transporte e o efeito da inflação causada pelo aumento dos gastos públicos.
"Atualmente, há um problema real no mercado de ovos devido a uma contaminação viral nos Estados Unidos, que afetou a produção mundial. No entanto, também há um reflexo da inflação nos alimentos, causada pelo aumento dos preços da gasolina, da energia elétrica e de outros insumos essenciais à produção. Além disso, os custos de transporte dentro do Brasil também encarecem a produção desses itens”, analisa.
Segundo Lucena, o aumento nos preços dos alimentos é um reflexo direto do descontrole nos gastos públicos, que tem pressionado a inflação desde o início do governo.
"Desde o início de sua gestão, o governo federal tem operado com um déficit, intensificado pela aprovação da PEC da Transição, que custou R$ 150 bilhões. Esse aumento dos gastos públicos impulsiona a inflação, que é justamente o aumento generalizado dos preços. E o que mais afeta a população de baixa renda é justamente a inflação nos alimentos”, destaca o economista.
Lucena também alertou que o problema não se limita apenas ao preço dos ovos.
"Esse problema impacta também o café, a construção civil, a educação, a saúde e todos os setores da economia. Ou se controla os gastos públicos, ou este é apenas o começo de um descontrole inflacionário que poderá se espalhar por toda a economia”, disse.
Já o contador e especialista em recuperação judicial Marcello Marin afirma que o governo tem responsabilidade direta no aumento dos preços dos alimentos devido à falta de controle fiscal e econômico.
"A fala do presidente ignora que o próprio governo tem responsabilidade nesse cenário, já que políticas fiscais e econômicas influenciam diretamente os preços”, destaca.
Isenção de taxas
O governo federal decidiu zerar o imposto de importação sobre uma série de alimentos, com o objetivo de ampliar a oferta no mercado interno e frear o aumento nos preços. A medida entrou em vigor nesta sexta-feira(14)
A decisão reduz a zero as alíquotas para 11 produtos, incluindo carnes, sardinha, café torrado e em grão, azeite de oliva, açúcar, óleo de palma, óleo de girassol, milho, massas e biscoitos. A medida já havia sido anunciada no dia 6 de março pelo vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, no Palácio do Planalto, em conjunto com outros ministérios.

Lucena comenta que o impacto de possíveis isenções de taxas de importação sobre os preços dos alimentos é mínimo, já que o Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos do mundo.
"O Brasil é o celeiro do mundo, então não se pode esperar que a diminuição das taxas de importação tenha um grande efeito em um país que já é um dos maiores produtores de alimentos do planeta", explicou Lucena.
Marin também avaliou que o governo precisa encontrar um equilíbrio entre incentivar a produção interna e facilitar a importação para conter a alta nos preços.
“Em teoria, a isenção de impostos sobre produtos importados pode ajudar a reduzir preços ao aumentar a concorrência. No entanto, essa medida pode prejudicar a indústria nacional se não for acompanhada por políticas que incentivem a produção interna. O governo precisa equilibrar essa equação para não gerar um efeito colateral: a dependência excessiva de importações pode enfraquecer ainda mais os produtores locais, tornando o país vulnerável a oscilações externas”, destaca.
O especialista ainda reforçou que o problema do preço dos alimentos no Brasil não se resolve apenas com desoneração pontual.
"O problema do preço dos alimentos no Brasil não se resolve apenas com desoneração pontual, mas sim com uma política econômica mais estável e previsível. Se o governo não controlar os gastos e não incentivar a produção interna, a tendência é que os preços continuem pressionados”, explica.