
A inflação acumulada em 2024 da categoria "Alimentação e Bebidas" foi de 6,44%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo ( IPCA ) , o indicador oficial da inflação, calculado pelo IBGE . O número ficou bem acima do índice geral , que fechou o ano em 4,29%.
Muito dessa alta se deve a fatores climáticos , como inundações e períodos de seca, que foram agravados pelo aquecimento global .
Café, óleo de soja, azeite de oliva, arroz e leite longa vida estão entre os itens que mais encareceram no ano passado. Em diferentes circunstâncias, todos sofreram efeitos de eventos do clima .
Aumento da inflação
Em São Paulo, por exemplo, alguns itens que compõem o grupo Alimentação da cesta básica também contribuíram para a alta de 8,9% no preço médio no ano passado, que chegou a R$ 1.326,72 em dezembro de 2024 — era de R$ 1.217,43 no mesmo mês de 2023 —, superando a inflação no período que foi de 4,83%, segundo o IBGE.
Nos supermercados da capital paulista, os principais produtos que alavancaram as médias de preços foram o café em pó (500g) e o óleo de soja (900ml) . O primeiro teve alta no valor médio de R$ 14,05 para R$ 20,69 (47,26%), muito em razão da estiagem e das altas temperaturas em boa parte do ano, da redução dos estoques por causa da colheita abaixo do esperado e por problemas climáticos, pressionando os valores.
Levantamento mensal
Em comparação com novembro de 2024, o último dezembro contou com aumento na cesta básica paulistana de 1,83% - o preço médio de R$ 1.302,89 passou para R$ 1.326,72. Embora 20 dos 39 produtos pesquisados tenham registrado queda nos valores; mas, compensados por uma alta mais elevada dos demais componentes da cesta.
O óleo de soja e o pacote de café em pó tiveram alta, entre novembro e dezembro, de 10,5% e 6%, respectivamente.
Fatores climáticos
O clima como um dos culpados também é apontado por Gustavo Defendi, diretor da Real Cestas, empresa especializada no segmento de benefícios em cestas básicas. Segundo ele, a alta dos preços dos produtos da cesta básica é reflexo de uma combinação de fatores econômicos e climáticos, como a valorização do dólar, o impacto das exportações e as quebras de safra.
“O dólar é a principal variável quando falamos de commodities. Além disso, os eventos climáticos e as movimentações do mercado interno e externo influenciam muito”, afirma o diretor.
A situação do café é um exemplo emblemático citado pelo especialista. “Houve quebra de safra no mercado externo, o que aumentou a demanda por produtos brasileiros. Para os produtores, é mais vantajoso exportar, e isso eleva os preços no mercado interno”, explica. “O mesmo aspecto se repete em outros itens essenciais, ampliando a pressão sobre os orçamentos familiares”, continua Defendi.
Queimadas
O aumento das queimadas no Brasil, impulsionado pelas altas temperaturas de 2024, também tem tido um efeito cascata na economia. De acordo com o monitoramento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o último ano registrou um crescimento de 100% dos focos, com mais de 159 mil casos registrados.
Além disso, um estudo publicado na revista Nature mostrou que a inflação relacionada a eventos climáticos pode aumentar os preços de alimentos em até 3% definitivamente a cada ano, até 2035.
Segundo o estudo, a cada 1º C de aumento nas temperaturas no mês, são mais 0,2% nos preços dos alimentos ao longo do ano seguinte, desconsiderando outros fatores, como guerras e recessões globais.
Efeito do El Niño
O fenômeno do El Niño, que é quando as águas do oceano Pacífico aquecem mais do que o normal, faz com que haja mais chuvas na região Sul do país e seca no Norte e no Nordeste. O efeito do fenômeno entre 2023 e 2024 ficou entre os cinco mais fortes da história, segundo a Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês).
Durante sua influência ocorreram as inundações no Rio Grande do Sul e a grave seca nas regiões Norte e Nordeste. Foram oito ondas de calor no Brasil em 2024, sobretudo no inverno, que foi o segundo mais quente da história com temperatura média de 23,1º C, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).