Banco Central atribui inflação acima da meta à desvalorização do real

Entre as causas principais, a desvalorização do real foi apontada como um fator crítico

Foi a oitava vez que a meta foi descumprida desde a implementação do regime de metas em 1999
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Foi a oitava vez que a meta foi descumprida desde a implementação do regime de metas em 1999


Nesta sexta-feira (10), o Banco Central atribuiu o descumprimento da meta de inflação em 2024 à desvalorização do real , destacando que fatores domésticos foram determinantes para o desempenho da moeda brasileira no período. A inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), encerrou o ano em 4,83%, ultrapassando o limite superior de 4,5% estabelecido no intervalo de tolerância.

Foi a oitava vez que a meta foi descumprida desde a implementação do regime de metas em 1999, sendo o terceiro estouro nos últimos quatro anos. Como resultado, o presidente do Banco Central foi convocado a apresentar explicações ao Ministro da Fazenda.

Entre as causas principais, a desvalorização do real foi apontada como um fator crítico. A moeda brasileira apresentou queda de 19,7% em relação ao dólar ao longo de 2024, com a taxa de câmbio variando de R$ 4,95 no início do ano para R$ 5,84 em dezembro, atingindo R$ 6,10 em alguns momentos.

"O fato de o real ter sido a moeda de maior depreciação em 2024, considerando seus pares ao nível internacional e os países avançados, sugere que fatores domésticos e específicos do Brasil tiveram papel expressivo nesse movimento cambial", apontou a carta do Banco Central.

A percepção negativa sobre o cenário fiscal doméstico foi um dos fatores destacados, impactando o prêmio de risco, as expectativas inflacionárias e os preços de ativos.

A inflação importada também teve impacto relevante, adicionando 0,72 ponto percentual ao IPCA devido à alta nos preços das commodities, como alimentos e petróleo, e à valorização do dólar.

Outros fatores que contribuíram para a inflação acima da meta incluem o forte crescimento econômico, que gerou aquecimento no mercado de trabalho, e eventos climáticos adversos.

A seca elevou os preços de alimentos como carnes e leite, enquanto enchentes no Rio Grande do Sul impactaram os custos no segundo trimestre. Esses desastres adicionaram 0,38 ponto percentual à variação do IPCA.

"O grau de utilização dos fatores de produção foi crescente, com destaque para a mínima histórica alcançada pela taxa de desemprego. O mercado de trabalho apresentou resultados robustos em 2024. A taxa de desocupação continuou trajetória de rápido declínio, atingindo 6,5% em novembro (dados ajustados sazonalmente), menor valor da série histórica", apontou o Banco Central.

As estratégias para conter a inflação incluem elevações da taxa básica de juros, a Selic. O Copom (Comitê de Política Monetária) anunciou aumentos previstos para janeiro e março de 2025, elevando a taxa para 14,25%. A taxa de juros real deve subir para 9,8% em 2025, com projeções de queda gradual nos anos seguintes.

"O Copom ressaltou também que, diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões", reforçou a carta.

A desvalorização do real também foi influenciada por fatores externos, incluindo a valorização global do dólar, impulsionada pela perspectiva de cortes de juros nos Estados Unidos e pela expectativa de mudanças econômicas após a eleição de Donald Trump.

O Banco Central observou que, além do impacto cambial, a inércia inflacionária de 2023 adicionou 0,52 ponto percentual ao IPCA de 2024, enquanto as expectativas inflacionárias e o aquecimento econômico contribuíram com 0,30 e 0,49 ponto percentual, respectivamente.


Projeções

As projeções indicam que a inflação deve permanecer acima do intervalo de tolerância pelo menos até o terceiro trimestre de 2025, com o IPCA rompendo o limite superior em 5,1%.

Caso a inflação não volte ao intervalo estabelecido, novas cartas explicativas deverão ser apresentadas ao Ministro da Fazenda, conforme o novo sistema de verificação contínua implementado em 2024.

O Banco Central projeta que a inflação voltará à meta apenas no segundo trimestre de 2027, quando o IPCA deve atingir 3,2%.