Copom decide hoje se eleva juros; mercado projeta alta de 0,75%

Essa expectativa reflete uma conjuntura econômica marcada por pressões inflacionárias persistentes

A Selic, definida pelo Copom, é a taxa básica de juros da economia brasileira
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
A Selic, definida pelo Copom, é a taxa básica de juros da economia brasileira


O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decide nesta quarta-feira (11) sobre a possível elevação da taxa Selic , que é atualmente de 11,25% ao ano. O mercado financeiro projeta um aumento de 0,75 ponto percentual, o que elevaria a taxa para 12%. Essa expectativa reflete uma conjuntura econômica marcada por pressões inflacionárias persistentes, elevação do câmbio e temores fiscais.

Segundo o último Boletim Focus, que compila semanalmente estimativas de 120 instituições financeiras, as projeções para a inflação oficial medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foram revisadas para 4,84% em 2024 e 4,59% em 2025.

Esses valores estão acima do teto da meta estipulada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), que é de 3%. O boletim também ajustou as expectativas para o câmbio, prevendo o dólar a R$ 5,95 no final de 2024, enquanto o PIB (Produto Interno Bruto) deve encerrar o ano com crescimento de 3,39%.

A Selic, definida pelo Copom, é a taxa básica de juros da economia brasileira. Ela serve como referência para os demais juros praticados no mercado, influenciando o custo do crédito, os investimentos financeiros e o consumo.

O aumento da Selic é uma ferramenta utilizada para conter a inflação, ao desestimular o consumo e os investimentos. Por outro lado, sua redução busca estimular a atividade econômica.

Nesta semana, o IEPS (Índice Equus de Precificação da Selic), que utiliza inteligência artificial para estimar a probabilidade de alterações na taxa de juros, apontou 60,2% de chance de aumento de 75 pontos-base.

Além disso, houve um aumento significativo no volume de contratos futuros de juros em aberto, que subiu de 23.567 para 40.320, sinalizando maior aposta dos investidores na elevação da taxa.

A decisão do Copom também é influenciada por fatores como a pressão cambial, que tem impulsionado o dólar de R$ 5,40 para R$ 6,00 nos últimos dois meses. Esse movimento ainda não foi totalmente refletido nos preços ao consumidor, mas deve continuar a pressionar a inflação, especialmente em itens como alimentação e bebidas.

Pedro Oliveira, tesoureiro do Paraná Banco Investimentos, afirmou: “O dólar saiu de R$ 5,40 para R$ 6,00 nos últimos dois meses, isso ainda não foi totalmente repassado nos preços para o cliente final e, portanto, deve continuar pressionando a inflação.”

Para o CEO do Grupo Studio, Carlos Braga Monteiro, o Cenário exige uma postura mais agressiva do Banco Central.

“Na reunião do Copom desta semana, o Banco Central pode adotar uma postura mais agressiva, aumentando a Selic em até 0,75 p.p., dependendo da avaliação do cenário econômico. Isso pode impactar negativamente setores dependentes de crédito, como o varejo e a construção, mas visa controlar a inflação e manter a estabilidade econômica", falou Braga.

Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, também pontuou que a alta da Selic reflete as preocupações do mercado.

“A alteração da taxa Selic de 11,75% para 12% está alinhada a uma série de temores que continuam rondando a economia brasileira, envolvendo a alta consistente do dólar e o tão conhecido risco fiscal. Para se ter ideia, as expectativas de inflação para todos os próximos anos foram revisadas para cima, o que acaba gerando maiores preocupações.”

Além disso, a dinâmica inflacionária tem sido impulsionada por fatores como o hiato do produto – indicador que mede a diferença entre o PIB efetivo e o PIB potencial – e pela taxa de desemprego, que caiu para 6,2%, refletindo utilização intensa de fatores de produção.

O aumento dos gastos governamentais também contribui para o aquecimento da demanda, elevando os preços de bens e serviços.


Investimentos

No âmbito dos investimentos, o cenário de juros altos torna a renda fixa mais competitiva. Títulos pós-fixados e atrelados à inflação, como o Tesouro Selic e o Tesouro IPCA+, se beneficiam diretamente da Selic elevada.

“A divulgação do Relatório Focus desta semana reafirma um cenário desafiador para o mercado de investimentos, com revisões para cima nas expectativas de inflação e juros para 2024 e 2025. A possível elevação da taxa Selic para 12% reflete o esforço do Copom em conter pressões inflacionárias, mas também implica maior custo de capital e volatilidade nos ativos de renda variável", afirmou Jefferson Laatus, chefe-estrategista do Grupo Laatus.

Por fim, a decisão do Copom também está ancorada na necessidade de resgatar a ancoragem das expectativas inflacionárias e garantir a estabilidade econômica.

Com o IPCA acumulado em 12 meses de 4,77%, ainda abaixo do teto da meta, mas acima do centro, a elevação da Selic é vista pelos especialistas como uma medida necessária para conter a inflação e evitar uma desancoragem futura das expectativas.