Dólar fecha em R$ 6 pela 1ª vez na história após críticas sobre plano de corte de gastos

Moeda chegou a atingir R$ 6,115, sua máxima diária, mas recuou no início da tarde após declarações dos líderes do Congresso Nacional

Dólar bateu recorde nesta sexta-feira (29)
Foto: Vladimir Solomianyi/Unsplash
Dólar bateu recorde nesta sexta-feira (29)

O dólar encerrou o dia cotado a R$ 6,001 nesta sexta-feira (29). Essa é a primeira vez na história esse patamar e renovando o recorde nominal pelo terceiro dia consecutivo.

A sessão foi marcada por alta volatilidade. Pela manhã, a moeda chegou a atingir R$ 6,115, sua máxima diária, mas recuou no início da tarde após declarações dos líderes do Congresso Nacional.

Os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmaram que a proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5.000 —anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na quarta-feira— não deve ser aprovada em breve.

As falas trouxeram um alívio temporário ao mercado, fazendo o dólar cair para R$ 5,955 por volta das 13h. No entanto, o movimento foi revertido, e a moeda voltou a subir, fechando com alta de 0,19%.

Reação do mercado


A disparada do dólar começou na quarta-feira (27) após o anúncio das medidas de ajuste fiscal anunciadas pelo governo Lula. A alta da moeda reflete a reação do mercado ao cenário de incertezas do novo plano.

Após a apresentação do pacote, na última quinta-feira (28), boa parte dos analistas ficaram desapontados ao excluir medidas de maior impacto fiscal e incluir a ampliação da faixa de isenção do IR para rendimentos de até R$ 5.000, compensada pela taxação de quem ganha acima de R$ 50 mil por mês.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, garantiu que a medida visa uma economia de R$ 71,9 bilhões em 2025 e 2026.  

Antes do anúncio, o dólar girava em torno de R$ 5,80. Após a apresentação, ultrapassou rapidamente as barreiras de R$ 5,90 e R$ 6.

Para conter a pressão, Pacheco e Lira reafirmaram o compromisso do Congresso com o ajuste fiscal e criticaram mudanças tributárias que possam reduzir a arrecadação.

"A questão de isenção de IR, embora seja um desejo de todos, não é pauta para agora e só poderá acontecer se (e somente se) tivermos condições fiscais para isso", afirmou Pacheco.

Lira, por sua vez, reforçou no X (antigo Twitter), que o ajuste fiscal é prioridade:

"Qualquer outra iniciativa governamental que implique em renúncia de receitas será enfrentada apenas no ano que vem, após análise cuidadosa", ressaltou.

As declarações ajudaram a amenizar a volatilidade no câmbio, mas o governo ainda analisa com cautela a situação da varião dos valores do dólar. O especialista em investimentos, Matheus Massote, comentou as ações do congresso.

"O Congresso dizer que vai barrar qualquer coisa que não esteja alinhada ao pacote fiscal coloca um pouco de gelo nas coisas", disse Massote.

Como uma tentavia para equilibrar os valores da moeda, Fernando Haddad também buscou acalmar os mercados durante um evento da Febraban (Federação Brasileira de Bancos). Ele reiterou que o pacote fiscal é um passo inicial e que ajustes podem ser feitos.

"Se tivermos algum problema, vamos voltar para a planilha, para o Congresso, para o presidente Lula", afirmou.

O ministro da Fazenda anunciou, em rede nacional, as mudanças que  o novo acordo das medidas de ajuste fiscal devem conter. 

Entre as medidas do pacote estão:

  • Revisão no abono salarial;
  • Regulamentação dos supersalários;
  • Endurecimento de regras para o BPC;
  • Mudanças nas aposentadorias de militares.



Apesar das ações, o mercado ainda espera mais clareza sobre como as contas públicas serão equilibradas. A percepção de que o governo priorizou questões políticas sobre econômicas gerou receios de que o ajuste fiscal não seja suficiente para estabilizar a dívida pública.

As mudanças só começarão a valer depois que o Congresso Nacional discutir e aprovar as propostas.