Dólar recua e fecha abaixo de R$5,70 após vitória de Trump nos Estados Unidos

Com a vitória repúblicana, a moeda americana chegou a R$ 5,86, mas voltou a cair até o fechamento da bolsa

Trump sinalizou um modelo econômico expansionista, com foco em incentivos fiscais
Foto: JIM WATSON
Trump sinalizou um modelo econômico expansionista, com foco em incentivos fiscais

O dólar apresentou uma queda de 1,26% neta quarta-feira (9), fechando a R$5,674. O valor tem uma influência direta na vitória do  presidente Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos levantou uma série de questionamentos sobre quais efeitos a política americana trará sobre o dólar e nos mercados internacionais .

O dólar atingiu R$ 6,01 na abertura do mercado após o anúncio de Trump na presidência. A moeda americana já vinha em tendência de alta com preocupação com o estado das contas públicas no Brasil. 

No Brasil, a moeda americana chegou a R$ 5,86, mas voltou a cair até o fechamento da bolsa, às 17h. No acumulado do ano, no entanto, a alta é de 16,93%.

Influência de Trump na política-economica


Em sua campanha, Trump sinalizou um modelo econômico expansionista, com foco em incentivos fiscais , investimento em infraestrutura e desregulamentação de setores. Esses movimentos buscam acelerar a economia doméstica, mas também aumentam a preocupação com o déficit fiscal e a inflação.

Segundo  Yvon Gaillard, economista e CEO da Dootax, o impacto imediato tem sido uma desvalorização do dólar em relação a outras moedas, incluindo o real. Essa resposta reflete o otimismo inicial dos investidores com a possibilidade de um estímulo forte à economia dos EUA, mas também uma percepção de que a moeda americana pode perder valor diante de um aumento do déficit e das incertezas em relação à inflação. 

Esse efeito, se persistente, poderá se intensificar caso a política expansionista se concretize.

“Outro ponto a se observar é o impacto do protecionismo econômico, que Trump defendeu como meio de estimular a produção doméstica em detrimento de produtos importados. Essa estratégia, embora favoreça certos setores dos EUA, tende a criar tensões comerciais e pode prejudicar a balança comercial americana, impactando negativamente a demanda pelo dólar em um cenário globalizado”, disse em análise.

Gaillard comenta que caso o Brasil adote uma política monetária expansionista, promovendo crédito e investimentos, isso pode contrabalançar o impacto da desvalorização do dólar frente ao real, pelo menos temporariamente. 

“Nos primeiros 100 dias de mandato, espera-se que a aplicação prática dessas políticas forneça mais clareza ao mercado sobre o rumo do dólar. Para além de uma leitura de curto prazo, o acompanhamento das decisões fiscais e monetárias dos EUA será determinante para prever a trajetória da moeda americana”, comenta.

Corte de juros e impactos no Brasil


O especialista em investimentos da WIT Invest, Gustavo Ferraz analisa que a vitória do repúblicano trará um crescimento econômico e um provável FED (Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos) menos focado em controlar rigorosamente a inflação, forçando o aumento da taxa de juros. 

“Espera-se uma redução da arrecadação dos EUA com diminuição dos impostos para as empresas americanas, podendo beneficiar o mercado americano. Trump provavelmente aumentará as taxas de importações do país, removerá o tratado de Paris novamente, já removido em 2017 e restaurado por Joe Biden, além de aumentar o estímulo de uso de petróleo, gás e carvão. No mercado financeiro como um todo, podemos esperar resultados mistos com empresas se beneficiando e instituições sendo afetadas por tais medidas” ressalta. 

Embora ainda seja muito cedo para definir as decisões do mercado financeiro. Essa semana, teve 25pb de corte nas taxas de juros americanas e 50pb de aumento nas taxas brasileiras. 

No Brasil, há um cenário de incertezas a respeito dos gastos públicos e do arcabouço fiscal. Com a eleição de Trump, alinhada à forte especulação político-econômica brasileira, a tendência é que o dólar dispare. Assim, o Banco Central deve adotar uma política monetária contracionista até que se estabilize a crescente taxa de  inflação crescente.

Para o sócio e gestor da Multiplica Crédito & Investimento, Utcho Levorin, a economia americana está em uma situação diferente da brasileira, com mercado de trabalho desacelerando e inflação convergindo para a meta no médio prazo. 

“Dado o resultado da eleição agora temos uma perspectiva pior de inflação para curto prazo e consequente redução das expectativas para taxa terminal de juros, ou seja, o FED tende a tirar o pé do acelerador nos cortes de juros, mas por ora devem seguir com um ritmo de cortes de 25pb e observando os dados econômicos de inflação e emprego”, analisa. 

Vale ressaltar que o novo presidente republicano tem uma agenda de reformas para enxugar instituições e cargos públicos e taxar importações principalmente para México e China, que devem impactar dinâmicas de crescimento, inflação e câmbio do país.

Volatilidade deve aumentar


Após o anúncio da vitória republicana, a Nasdaq subiu 2,41%, S&P 2,10% e Dow Jones 3,19%. A previsão é que haverá muita volatilidade com o novo governo. 

Ferraz  explica que no curto prazo pode se esperar altas significativas no mercado de ações americano e, com o passar dos meses, terá que reavaliar a percepção dos investimentos com relação ao risco fiscal americano e como será o controle da inflação.

“Com o novo governo, podemos esperar uma economia americana mais forte e expansionista. No curto prazo teremos uma valorização do dólar frente às demais moedas, no vértice de longo prazo vai depender do controle fiscal e inflacionário do governo americano”, ressalta. 

Com relação à China, o SEO comenta que podemos esperar tarifas elevadas sobre bens, como uma forma de pressionar o país do oriente a mudar suas práticas comerciais, especialmente em áreas como propriedade intelectual, subsídios industriais e transferência forçada de tecnologia.

Já os Estados Unidos, podemos esperar tarifas sobre produtos europeus, pressão para acordos bilaterais onde os EUA irão se beneficiar e aumento de tensões em questões regulatórias. 


** Formado em Jornalismo pela Universidade de Sorocaba e Técnico de Locução de Rádio pelo Senac. Gosta de contar boas histórias e de conhecer novas pessoas. Amante de esportes, também gosta de pets, animes e de uma boa conversa.