O dólar atingiu R$ 6,01 na abertura do mercado após Donald Trump ser eleito como 47º presidente dos Estados Unidos nesta quarta-feira (6). A alta da moeda americana já era esperada, gerando preocupação com o estado das contas públicas no Brasil.
Agora, o receio dos investidores é que a taxa de câmbio fique cada vez mais alta como um resultado da relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Trump, que pode se estremecer após o petista declarar apoio à candidata democrata Kamala Harris durante a corrida eleitoral.
A grande dúvida é: o dólar se manterá a R$ 6 nos próximos meses ou os investidores podem esperar uma taxa de câmbio cada vez mais alta? O Portal iG reuniu as reflexões de três analistas sobre o assunto.
Falta de ajuste fiscal desvaloriza o real, diz economista
Para o economista José Alfaix, o valor do dólar em relação ao real é muito afetado pelos problemas fiscais do Brasil e pela falta de confiança dos investidores nas políticas do governo.
"Com o cenário extremamente volátil, é difícil dizer. Parte importante da performance do dólar frente ao real se deve às questões fiscais do Brasil, há muito "ruído" derivado do ceticismo dos investidores por parte do comprometimento do governo. Caso aconteça um ajuste das contas públicas, de forma crível e disposta a analisar os problemas do crescimento crônico das despesas obrigatórias, certamente observaríamos uma apreciação relevante do Real", observa.
"O problema é antecipar se esse ajuste realmente acontecerá, e se será compatível com as expectativas do mercado. Pelo lado do fiscal, ambos os candidatos ameaçam deixar a trajetória da dívida ainda mais divergente. O aumento da dívida pública deve demandar maior "prêmio" por parte dos investidores no médio-prazo, entretanto, Trump tem plano de governo mais deficitário, e as políticas protecionistas devem prejudicar mais as moedas emergentes, afetando a demanda por produtos estrangeiros, e por consequência, a balança comercial dos mesmos. De forma simples, é mais plausível que o dólar ganhe força globalmente sob o comando de Trump" explica.
BC deve ser mais rigoroso, avalia CEO da Multiplike
Para Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, o cenário é preocupante para os investidores.
"O dólar subiu mais de 15% em 2024, apesar da queda nos juros dos EUA, por causa de incertezas sobre as contas públicas brasileiras e pela fuga de dinheiro do país. Esse movimento pode se intensificar com a vitória de Donald Trump, pois ele defende políticas que limitam o comércio com países emergentes, o que afetaria as exportações do Brasil", explica.
"Se o governo brasileiro não melhorar essa situação fiscal, o dólar pode chegar a R$ 6. Para conter essa alta, é fundamental controlar gastos públicos e, se necessário, o Banco Central ser mais rigoroso em relação a alta dos juros para se ter uma compensação sobre as moedas", finaliza Eying.
Cenário pouco provável, diz CEO da Equity Fund Group
Para João Kepler, CEO da Equity Fund Group, a possibilidade do dólar atingir R$ 6 até o fim de 2024 é pouco provável, pois dependeria de choques econômicos significativos na economia nacional.
"Embora a possibilidade do dólar atingir R$ 6 até o final do ano não possa ser completamente descartada, considero essa projeção pouco provável no cenário atual. Para que o dólar alcance esse patamar, precisaríamos ver choques econômicos significativos, como um agravamento da situação fiscal brasileira ou turbulências globais que aumentassem a aversão ao risco", diz.
"A postura do Federal Reserve, que vem flexibilizando a política monetária, sugere uma tendência de enfraquecimento do dólar no mercado global, o que reduz a pressão sobre o real", afirma, adicionando que o Brasil tem se beneficiado do desempenho das commodities, o que ajuda a manter um fluxo constante de dólares e sustentar uma taxa cambial mais estável.
Ainda assim, ele reforça que é necessário ter em mente os riscos fiscais e políticos internos, pois qualquer deterioração pode pressionar a alta do câmbio.
"Se o Federal Reserve adotar uma postura mais cautelosa e optar por uma elevação menor dos juros ou por cortes graduais, o impacto sobre o dólar tende a ser moderado. Um mercado de trabalho robusto e a inflação se aproximando da meta de 2% permitem que o Fed não tenha tanta urgência para reduzir agressivamente as taxas, mantendo o dólar relativamente estável. Com ajustes menores nos juros, a moeda americana poderá ser menos afetada pelo diferencial de juros em relação a outras economias. Isso significa que, embora possa haver uma pressão de enfraquecimento do dólar, ela não deve ser tão intensa, já que a política monetária do Fed continuará equilibrando as condições econômicas dos EUA", finaliza.