Cantor Leonardo entra para 'lista suja' do trabalho escravo após fiscalização em fazenda

Segundo relatório, seis trabalhadores, incluindo um adolescente de 17 anos, foram encontrados em condições degradantes

Em julho deste ano, o cantor celebrou seu aniversário na mesma propriedade avaliada em R$ 60 milhões
Foto: Divulgação/Instagram
Em julho deste ano, o cantor celebrou seu aniversário na mesma propriedade avaliada em R$ 60 milhões

O cantor sertanejo Emival Eterno da Costa , conhecido como “ Leonardo ”, foi incluído na nova atualização da " lista suja " do trabalho escravo, divulgada nesta segunda-feira (7) pelo Ministério do Trabalho e Emprego ( MTE ). O cadastro, que expõe empregadores responsabilizados por exploração de trabalho em condições análogas à escravidão, traz o nome do artista após uma fiscalização realizada em novembro de 2023 na Fazenda Talismã , em Jussara (GO).

Segundo informações do Repórter Brasil , durante a operação, seis trabalhadores, incluindo um adolescente de 17 anos, foram encontrados em condições degradantes. Eles dormiam em uma casa abandonada, sem água potável, banheiro ou camas adequadas, improvisando lugares para dormir com tábuas e galões de agrotóxicos. 

Outros 12 trabalhadores estavam em situação de trabalho informal, sem carteira assinada, “na mais completa informalidade”, diz o documento. O relatório de fiscalização também mostra que a moradia estava infestada de insetos e morcegos, e o ambiente exalava um forte odor fétido. A operação contou com auditores do Ministério do Trabalho e Emprego , Ministério Público do Trabalho , Defensoria Pública da União , Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal.

De acordo com os documentos da investigação, os empregados acordavam antes das 6h da manhã e, às 7h, já estavam arrancando pedras, raízes e tocos de árvores sem qualquer equipamento de proteção. As refeições eram feitas embaixo de uma árvore e a água era armazenada em quatro garrafas térmicas. 

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O que diz a defesa de Leonardo

O advogado de Leonardo, Paulo Vaz, afirmou que o caso aconteceu em uma área arrendada na Lakanka, contígua à Talismã, e que a responsabilidade pela contratação dos empregados era de um terceiro (o arrendatário).

“Tratava-se de uma área arrendada, todas essas pessoas tiveram as indenizações pagas e os processos se encontram arquivados”, disse à Repórter Brasil. 

Em julho deste ano, o cantor celebrou seu aniversário na mesma propriedade avaliada em R$ 60 milhões, com infraestrutura luxuosa. Além da fazenda, o local conta com uma mansão, piscina, quadras esportivas e quartos estilo bangalô. 

O caso

O nome “Fazenda Talismã” é uma referência a um dos maiores sucessos da dupla Leandro & Leonardo, de 1990. Essa é uma de várias propriedades do cantor e empresário.

O local onde os trabalhadores foram resgatados ficava na Lakanka, vizinha à Talismã, e também pertencente a Leonardo. O Repórter Brasil afirma que o terreno foi arrendado para um terceiro, encarregado do plantio de grãos, em 2022. O relatório de fiscalização, porém, mostra que a limpeza e preparação do local ainda seriam responsabilidades do cantor, motivo que levou Leonardo a ser identificado como empregador.

O adolescente que trabalhava na fazenda disse aos auditores que o lugar “não tem chuveiro, não tem pia e está extremamente sujo, com muitas fezes de morcego”. Segundo o depoimento de outros trabalhadores, formigas e cupins “andavam por cima” de seus corpos quando eles deitavam para dormir. Outro empregado relatou ter adoecido depois de a chuva molhar sua cama – o telhado estava sem manutenção e as telhas, deslocadas.

O relatório ainda conta que os trabalhadores estavam há 12 dias sem descanso. “Trabalhava de domingo a domingo”, contou o adolescente, que chegou na fazenda junto com seu irmão e primos para atuar na “catação de raízes”. 

Segundo a reportagem, os fiscais podem enquadrar a atividade na Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil, proibida para menores de 18 anos. “As tarefas típicas do preparo do terreno para o cultivo de soja devem ser consideradas extremamente danosas e prejudiciais”, diz o relatório. 

De acordo com um funcionário, “quem toma conta de tudo” é o irmão do cantor, Robson Alessandro Costa, que tentou uma vaga na Câmara de Vereadores em Goiânia (PSDB), mas ficou como suplente. O colaborador ainda afirmou que propriedade “é do cantor Leonardo”.

“O sr. Leonardo não comparece aos alojamentos dos trabalhadores, mas vem à sede da fazenda e depois vem pescar”, disse aos fiscais. 

Lista Suja

A inclusão do nome de Leonardo na "lista suja" faz parte de um conjunto de 176 novos empregadores adicionados ao cadastro, que agora conta com 727 patrões. A lista é atualizada semestralmente e considerada uma importante ferramenta de combate ao trabalho escravo no Brasil, reconhecida internacionalmente pela ONU.

Criada em 2003, a "lista suja" do trabalho escravo é uma ferramenta que garante transparência e permite que empresas gerenciem riscos ao evitar contratar fornecedores que estejam no cadastro. O Supremo Tribunal Federal reafirmou a legalidade da lista em 2020, destacando que ela não representa uma sanção, mas sim uma medida de transparência para a sociedade.

Desde 1995, mais de 63,5 mil trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão no Brasil.

O cadastro, mantido pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), torna públicos os nomes de pessoas físicas e jurídicas responsabilizadas pelo crime pelo governo federal, após operações de resgate de trabalhadores.

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