83% dos brasileiros acredita que guerra é prejudicial à economia

A avaliação da população sobre o país mantém-se estável enquanto apercepção sobre a inflação melhora, comparativamente aos últimos seis meses, aponta a Febraban

Foto: Reprodução: Flipar
A guerra entre o grupo terrorista Hamas contra Israel colocou alguns grupos extremistas armados em evidência no noticiário.

A escalada do conflito entre  Israel e o Hamas em outubro está afetando o otimismo do brasileiro quanto ao futuro do país. A guerra no Oriente Médio é uma preocupação para 83% dos entrevistados pela pesquisa RADAR FEBRABAN, que creem em consequências prejudiciais para a economia nacional. Embora a expectativa positiva sobre o país continue em níveis elevados, o número dos que acreditam que o Brasil vai melhorar até o final de 2023 caiu de 59% em setembro para 56% em outubro.

Ao mesmo tempo, se o cenário internacional conturbado fez com que as expectativas sobre o futuro ficassem mais cautelosas, as avaliações sobre o país apresentam estabilidade. A opinião de que o Brasil está melhor este ano do que em 2022 manteve-se em 48%. Já a avaliação de que o país está igual caiu 3 pontos (30%), e os que identificam piora oscilaram de 19% para 20%.

A queda na inflação tem influência na boa perspectiva da população sobre o país, pois a percepção sobre a evolução do aumento de preços vem caindo desde o início do ano e chegou ao menor percentual da série histórica (53%), recuando dois pontos em relação a setembro. Aqueles que apontam diminuição da inflação e dos preços passam pela primeira vez de um quinto (de 20% para 24%).

Realizada entre os dias 12 e 16 de outubro, com 2 mil pessoas nas cinco regiões do País, pelo IPESPE (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas) para a FEBRABAN, esta edição do RADAR FEBRABAN mapeia as expectativas dos brasileiros sobre este ano, tanto em relação à vida pessoal, quanto em relação à política e à economia do país, e mensura como a população encara o programa Desenrola, a Reforma Tributária, os golpes e tentativas de golpes bancários. A pesquisa também apura as opiniões de cada uma das cinco regiões brasileiras.

A aprovação do Governo Lula recuou 2 pontos percentuais em outubro, mas ainda assim, chegou ao seu 10º mês com 53% de aprovação, sendo o segundo maior percentual da série histórica, pouco abaixo dos 55% do levantamento anterior. Os que desaprovam somam 40%, mesmo patamar de junho e 2 pontos acima dos dados de setembro.

“A guerra entre Israel e Hamas acontece em meio a notícias positivas e negativas sobre a economia. De um lado, Copom e Banco Central estimam o crescimento da renda disponível das famílias brasileiras e queda da inflação e de outro lado o IBGE registra recuo no varejo no terceiro trimestre e o Índice de Atividade Econômica do Banco Central indica recuo na atividade econômica entre julho e setembro”, aponta o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do IPESPE.

“Além da tragédia humanitária do conflito no Oriente Médio, soma-se a apreensão com o impacto de eventual escalada regional sobre a elevação do preço do petróleo. No Brasil isso poderia gerar um efeito dominó sobre o IPCA, o preço dos combustíveis, dos alimentos e de outros produtos, afetando diretamente o consumidor.”

Desenrola e endividamento

A pesquisa mostra que aumentou ainda mais o conhecimento sobre o Desenrola Brasil, programa de refinanciamento de dívidas do Governo Federal em parceria com os bancos, que passou de 70% em setembro para 75% em outubro. Também é majoritária a aprovação do programa: 81% aprovam a iniciativa.

Por outro lado, a maioria dos entrevistados (57%) desconhece a nova fase do programa e a plataforma online do Desenrola Brasil, que pressupõe um cadastro de nível prata ou ouro no portal govbr. Ainda sobre a plataforma online, somam 42% os que declaram já terem acessado ou que têm interesse em acessar.

Neste cenário, com os possíveis impactos do Desenrola Brasil, a perspectiva de aumento do endividamento, que vinha em crescimento desde o início do ano, recuou três pontos entre setembro e outubro (de 25% para 22%). Inversamente, a expectativa da população de ficar menos endividada subiu de 38% para 41%.

Seguem mais resultados do levantamento:

ECONOMIA

Economia pessoal e familiar

No âmbito pessoal e familiar, a expectativa favorável em relação aos últimos meses de 2023 manteve-se em patamar elevado, voltando ao percentual de abril e junho (70%). A parcela que percebe melhoria de vida entre 2022 e 2023 oscilou de 45% para 46%, ao passo que subiu dois pontos a percepção de piora (de 18% para 20%). Os que não veem mudança caíram de 35% para 33%.

Projeções

  • Taxa de juros: a perspectiva de aumento, em linha descendente desde fevereiro, manteve-se em 45%; enquanto o percentual dos que acham que vai diminuir oscilou de 25% para 26%.
  • Inflação e custo de vida: subiu de 43% em setembro para 45% a projeção de aumento.
  • Desemprego: o receio de que o desemprego aumente é declarado por 36%, dois pontos a mais do que em setembro.
  • Poder de compra: acompanhando a projeção sobre a inflação e o desemprego, caiu de 40% para 38% a parcela que aposta em aumento do poder aquisitivo. Os que acham que não haverá alteração foram de 22% para 25%; e a parcela mais pessimista, que acredita na diminuição do poder de compra, oscilou de 34% para 33%.
  • Acesso ao crédito: 41% acreditam que vai aumentar, leve queda diante dos 42% de setembro. Oscilou de 29% para 30% a opinião de que vai continuar como está; e de 22% para 23% a crença de que vai diminuir.
  • Impostos: em meio à discussão sobre a Reforma Tributária, a expectativa de aumento oscilou de 53% para 54%.

PRIORIDADES DA POPULAÇÃO

No ranking de áreas prioritárias para a atuação do Governo Federal, Saúde e Emprego/Renda – com mais de um quarto das menções –, seguidos de Educação, continuam a ocupar os primeiros lugares. Itens como Inflação e custo de vida, Fome e pobreza e Corrupção, que no final de 2022 alcançavam dois dígitos, apresentaram queda paulatina ao longo da série histórica, ao passo que Segurança – provavelmente também sob impacto do noticiário da guerra – cresceu, ocupando agora o 4º lugar.

  • Saúde: é mencionada como prioridade por 29% dos brasileiros (1ª menção), mantendo o percentual de setembro.
  • Emprego e Renda: oscilação de menos um ponto em relação a setembro, marcando agora 26%.
  • Educação: a citação a essa área oscila menos um ponto, de 15% para 14%.
  • Segurança: obtém 8% das menções, três pontos a mais que em setembro.
  • Inflação e Custo de Vida: com 7%, apresenta oscilação de menos um ponto em relação a setembro.
  • Fome e Pobreza: variação de mais um ponto, subindo de 6% para 7%.
  • Corrupção: apresenta estabilidade, com 4%, mesmo percentual de setembro.

DESEJOS DOS BRASILEIROS

Na hipótese de sobra no orçamento doméstico, os entrevistados mantêm os desejos já registrados nas pesquisas anteriores. A maioria optaria por “comprar imóvel” (30%) ou “reformar casa” (20%); “aplicar em investimentos bancários” – poupança (22%) ou outros (25%). “Fazer cursos e melhorar a educação sua e da família” aparece em 5º lugar, com 18%. Ainda na casa dos dois dígitos aparecem “Viajar” (14%), “Fazer ou melhorar o plano de saúde” (10%) e “Comprar carro” (10%).

REFORMA TRIBUTÁRIA

O conhecimento sobre a Reforma Tributária teve discreto aumento. Saiu de 42% em setembro para 45% em outubro a parcela que tomou conhecimento sobre a Reforma Tributária no que se refere à parte dos impostos sobre o consumo (PEC 45/19). Mas o desconhecimento ainda prevalece entre 55% dos entrevistados. Entre os que declaram ter conhecimento da Reforma, metade deles aprova (49%), e o restante se divide entre desaprovação (25%) ou baixa informação, sendo incapazes de emitir opinião a respeito (26%).

GOLPES E TENTATIVAS DE GOLPES

Entre abril e outubro desse ano, saltou 7 pontos (de 31% para 38%) o percentual de brasileiros que relatam terem sido vítimas de golpes ou tentativas de golpes. Essa menção é mais comum nas faixas de instrução e renda mais altas: nível superior (49%) e renda acima de 5 SM (47%).

Os golpes mais comuns continuam os mesmos mencionados em levantamentos anteriores, mas novas modalidades desse tipo crime se fazem presentes.

  1.  Golpe da clonagem de cartão de crédito ou troca de cartões: segue como o mais comum, com leve recuo de dois pontos entre abril e outubro (de 50% para 48%).
  2.  Alguém se fazendo por um conhecido solicitando dinheiro por WhatsApp: segundo golpe mais frequente, com 30% das menções (dois pontos a mais que em abril).
  3.  Golpe da central falsa onde alguém pede seus dados por telefone: terceiro mais citado, com 27% (recuo de um ponto em relação a abril).
  4.  Golpe do Pix: acrescido à lista estimulada do RADAR, recebe 20% das menções.
  5.  Golpe com utilização do CPF através de SMS: também listado pela primeira vez na pesquisa, tem 15% de ocorrências declaradas.
  6.  Golpe do leilão ou da loja virtual: 9% das menções.
  7.  Golpe do buquê de flores e do presente de aniversário: mencionado por 3%.