O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto , disse na madrugada desta terça-feira (3) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é tem mais paciência para conversar, quando comparado ao antecessor, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que era mais "disperso", segundo Campo Neto.
Campos Neto deu a declaração sobre o encontro que teve com Lula na semana passada durante entrevista ao programa "Conversa com Bial", da TV Globo.
O presidente da autoridade monetária vinha sofrendo críticas públicas de Lula e demais integrantes do governo federal por manter a taxa de juros em 13,75%, mesmo em um cenário de queda da inflação. Mas, com o arrefecimento da Selic, que agora está em 12,25%, os dois se encontraram por uma hora e meia pela primeira vez no ano.
Campos Neto foi questionado diretamente sobre quem ele teve maior facilidade de ter uma conversa.
"O Lula gasta mais tempo prestando atenção no que você fala. Ele dedica mais tempo, tem mais paciência para as conversas. Bolsonaro era mais rápido. Eu sempre sabia que quando tinha uma conversa com Bolsonaro, eu tinha três minutos para falar alguma coisa. Depois dos três minutos ficaria mais difícil, porque ele ficava mais disperso", afirmou.
Apesar de ter sido indicado pelo ex-presidente, Campos Neto disse não ser "tão próximo" de Bolsonaro, mas elogiou seu esforço em aprovar a autonomia do Banco Central.
"Bolsonaro sempre me deu toda liberdade, nunca tive nenhum problema. Nunca ligou pra reclamar de nada. Nunca interferiu em nada, zero. A gente, às vezes, escuta muito “ah, presidente autoritário”. Eu não era tão próximo, mas no que tangia ao meu trabalho, eu sempre tive liberdade total", disse.
Campos Neto assumiu a chefia do Banco Central em 2019 e, dois anos depois, a autonomia operacional da instituição foi regulamentada. Seu mandato dura até 31 de dezembro de 2024. Ele já disse não querer ser reconduzido ao cargo.
Segundo ele, só aceitou a cadeira depois de ter sido garantido a ele que não haveria interferência na sua atuação.
O presidente do BC também disse que a inflação está caminhando corretamente e reforçou que o Comitê de Política Monetária (Copom), responsável pela definição dos juros, está olhando atentamente para os núcleos que podem fazer com que o índice volte a subir.
Ele ressaltou ainda que sua relação com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é "muito boa".
"Acho que é um governo que, por construção, tem pessoas que pensam de forma diferente que estão tentando chegar em um lugar comum: melhorar a vida dos brasileiros. Obviamente não vamos pensar igual em tudo, mas estamos bem alinhados. E, na verdade, sempre estivemos bem alinhados", disse.
Ele adicionou que houveram “ruídos” no início do ano e que “várias pessoas” ajudaram a construir essa ponte com o ministro.
Gabriel Galípolo, agora diretor de política monetária, é tido como uma dessas pessoas.