A Cúpula de chefes de Estado dos Brics anunciou nesta quinta-feira (24) a ampliação do bloco
, atualmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Com o anúncio, Argentina, Egito, Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos foram convidados para se tornarem membros dos Brics.
A medida foi celebrada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que deu destaque para a chegada da Argentina ao bloco. O país já um dos principais parceiros comerciais do Brasil.
"Continuaremos avançando lado a lado com nossos irmãos argentinos em mais um foro internacional", disse Lula, que se referiu ao presidente argentino, Alberto Fernández, como um "grande amigo do Brasil e do mundo em desenvolvimento".
Brics e a economia
Os Brics reúnem países em desenvolvimento, com o objetivo de promover o cresimento socioeconômico dessas nações. Formalmente, a união não é um bloco econômico, mas sim um grupo de países em cooperação.
Apesar disso, o conjunto tem apostado cada vez mais em assuntos econômicos. Nesta quinta-feira, os Brics anunciaram que vão estudar formalmente a adoção de uma moeda comum para as transações comerciais entre membros dos Brics, tornando os países menos dependentes do dólar.
Outro aspecto que mostra a força econômica dos Brics é que uma das suas principais instituições é o Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido como Banco dos Brics, atualmente presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff . A instituição é responsável por financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável no países membros.
Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, na África do Sul, Lula comparou diversas vezes os Brics ao G7, grupo composto pelos países mais industrializados. "O G7 é o clube dos ricos, aquele clube que só entra rico, que tem que ter carteirinha. O nosso é mais humilde, porque o nosso não pensa só economicamente, o nosso pensa também politicamente", comparou.
"É muito importante o que está acontecendo [mais países entrando nos Brics]. Eu acho que as coisas vão evoluir, vai ficar mais fácil conversar. Quem sabe, muitas vezes vai se reunir o bloco dos Brics com o bloco do G7. É uma boa reunião para discutir comércio, avanços científicos e tecnológicos, e para discutir democracia, que está tanto precisando nesse momento", disse o presidente.
Mais países nos Brics significa mais comércio para o Brasil?
A entrada de novos países ao bloco significa que essas nações passarão a usufruir dos benefícios dos Brics, como acesso a investimentos do Novo Banco de Desenvolvimento. Para o Brasil, isso pode significar maior parceria comercial com estes países.
"Se você tem mais países nos Brics, consequentemente eles tendem a fazer mais comércio entre eles. Quando você olha para a geopolítica, é de total interesse da China que tenhamos mais países participando para futuramente se tornar, efetivamente, um bloco econômico. Mas isso a gente está falando lá para a frente. Quando se olha para agora, com certeza a entrada de mais países facilita a cooperação e o comércio entre eles", analisa Gabriel Meira, economista da Valor Investimentos.
Atualmente, o Brasil tem um dos países dos Brics, a China, como seu maior parceiro comercial. Em 2022, 27,2% de todas as exportações brasileiras foram para China, Hong Kong e Macau, enquanto 22,6% das importações foram de produtos desses países.
Após a China, o maior parceiro comercial do Brasil são os Estados Unidos (11,2% das exportações e 18,8% das importações) e, em seguida, já aparece a Argentina. Parceiro tanto no Mercosul quanto em negociações bilaterais, o país vizinho foi em 2022 responsável por 4,6% das exportações e 4,8% das importações brasileiras.
Antes mesmo dos Brics começarem a estudar o uso de uma moeda comum para transações comerciais, Lula já defendia deixar de adotar o dólar tanto em comércio com a Argentina tanto com os demais países do Mercosul.
No que diz respeito à Argentina, Gabriel avalia que a entrada para os Brics não deve afetar diretamente o comércio com o Brasil. "O Mercosul é mais facilitador de comércio com a Argentina do que os Brics, a gente já faz negócio sem grandes burocracias", comenta.
Apesar disso, a entrada para o grupo pode ajudar a Argentina economicamente. Atualmente em crise , o país vizinho pode se beneficiar da parceria com os países em desenvolvimento o que, indiretamente, pode melhorar a relação econômica da Argentina com outros países, incluindo o Brasil.
Já a respeito dos demais países que entrarão para os Brics, há uma grande oportunidade de aumento do comércio com o Brasil. A África, onde ficam Egito e a Etiópia, foi responsável por 3,8% das exportações brasileiras em 2022, atrás apenas da América Central e Caribe (1,8%), o que mostra que há espaço para mais negociações.
Também em 2022, 5,1% das exportações brasileiras foram para o Oriente Médio, onde ficam três dos países que entrarão para os Brics: Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. No ano passado, o Irã foi o maior importador de produtos brasileiros no Oriente Médio, ficando em 18º lugar na lista geral de maiores importadores do Brasil.
Em reunião com o presidente Lula nesta quinta-feira, o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, disse que deseja ampliar as relações comerciais entre os dois países.