O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sugeriu nesta quinta-feira (13) que os países dos Brics negociem nas moedas dos países integrantes do bloco para diminuir a dependência do dólar.
Lula está em Xangai, na China, e discursou na possa formal da ex-presidente Dilma Rousseff como chefe do Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido como banco dos Brics. O presidente também pregou a "das amarras e condições impostas pelas instituições tradicionais" que emprestam recursos.
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O BRICS é composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Um grupo que representa mais de três bilhões de habitantes e US$ 25 trilhões em PIB, ou 40% da população mundial e cerca de um quarto do PIB global.
Lula disse que se pergunta toda noite: “Por que todos os países são obrigados a fazer seu comércio lastreado no dólar? […] Por que não o iene? Por que não o real?”, e foi aplaudido pelos presentes.
Ele pediu que Dilma tenha a "paciência" dos chineses para lidar com "muita gente mal acostumada" com o dólar como moeda principal.
Em 29 de março, durante visita de comitiva de empresários brasileiros à China, o país asiático autorizou a subsidiária ICBC (Industrial and Commercial Bank of China, ou Banco Industrial e Comercial da China, em português) a fazer a compensação direta de yuans para real.
Este passo é fundamental para fazer compensações das moedas para que seja possível realizar operações financeiras e comerciais entre as duas moedas, sem depender do dólar.
Desde 2013, o yuan é a segunda moeda mais utilizada do mundo.
Em seu discurso, Lula também afirmou que "mudou a regra" que fazia com que instituições como o FMI se sentissem "no direito de administrar as contas do país" a quem emprestou recursos.
"Como qualquer outro banco, quando [instituições como o FMI] emprestam para o terceiro mundo, as pessoas se sentem no direito de mandar, de administrar as contas do país, de visitar o país para ver os balanços do país, ou seja, era como se os países virassem reféns daquele que emprestou dinheiro", discursou. "Vocês se lembram, os brasileiros, sobretudo, quando todo ano descia um homem e uma mulher do FMI no aeroporto do Rio de Janeiro ou de Brasília para fiscalizar as contas do nosso país. Nós mudamos a regra", completou.
Lula: união dos países emergentes é capaz de gerar mudanças sociais para o mundo
“Aunião de países emergentes é capaz de gerar mudanças econômicas e sociais relevantes para o mundo”. A frase do presidente Lula deu o tom da expectativa da comitiva brasileira no primeiro compromisso oficial na viagem à China.
Ao longo do evento, o presidente e a comitiva de ministros e parlamentares se encontraram com quase duas dezenas de funcionários brasileiros do banco, tiraram fotos com os cerca de 200 servidores da instituição e com vice-presidentes do NBD e participaram de um almoço no trigésimo andar do prédio, que oferece uma vista panorâmica da cidade de mais de 26 milhões de habitantes.
"Não queremos ser melhores que ninguém. Queremos as oportunidades para expandir nossas potencialidades e garantir aos nossos povos dignidade, cidadania e qualidade de vida", ressaltou Lula.
“Para além da economia, a crescente importância dos BRICS é um reflexo do papel de seus integrantes como líderes globais e da sua capacidade de se unir para encarar os maiores e mais urgentes desafios da atualidade. O grupo possui uma posição única para liderar o caminho em direção a um modelo de desenvolvimento compartilhado para todos”, afirmou Dilma Rousseff em seu discurso de posse.
Lula sinalizou que a presença de uma mulher à frente de um banco global é um fato extraordinário em um mundo ainda dominado por homens e reforçou a vocação do Novo Banco de Desenvolvimento como ferramenta da redução de desigualdades entre países ricos e emergentes, que se traduz em exclusão social, fome, pobreza e migrações forçadas.
"A decisão de criar o NBD foi um marco na atuação conjunta dos países emergentes. Os BRICS não poderiam ter ficado alheios às grandes questões internacionais. As necessidades de financiamento não atendidas de países em desenvolvimento eram e continuam enormes", disse Lula.
Segundo o presidente, além de seguir trabalhando pela reforma da ONU, do FMI e do Banco Mundial, é necessário utilizar de maneira criativa o G-20 (que o Brasil presidirá em 2024) e o BRICS (que conduzirá em 2025) para reforçar temas prioritários para os países emergentes.
"O NBD liberta países emergentes da submissão às instituições financeiras internacionais. O banco atraiu quatro novos membros - Bangladesh, Egito, Emirados Árabes Unidos e Uruguai. Vários outros estão em vias de adesão, e estou certo de que a chegada de Dilma Rousseff contribuirá para isso", afirmou o presidente Lula.
Ele lembrou que recursos do BNB financiam, no Brasil, projetos de infraestrutura, apoio à renda, mobilidade sustentável, adaptação a mudanças climáticas, saneamento básico e energias renováveis.
O presidente citou ainda que o Brasil retornou ao tabuleiro das relações internacionais, após o que definiu como inexplicável ausência na gestão anterior. “O Brasil voltou e com vontade de fazer a diferença. Temos muito a contribuir em questões centrais do nosso tempo, a exemplo da mitigação da crise climática e do combate à fome e às desigualdades", afirmou.
"É intolerável que, num planeta que produz alimentos suficientes para toda a humanidade, centenas de milhões de pessoas não tenham o que comer. É inadmissível que a irresponsabilidade e a ganância de uma pequena minoria coloquem em risco a sobrevivência do planeta”.
Nesse contexto, de acordo com Lula, o banco dos BRICS representa muito para quem pensa num novo mundo, quem parte de premissa da necessidade de desenvolvimento dos países de forma mais justa e harmônica e de um novo olhar para as relações interpessoais.
“Temos uma tarefa que não tínhamos há 10 anos: dispersar um ódio que achávamos que não existia mais. É preciso que o humanismo reaja. Não podemos ter uma sociedade sem coração, sem sentimentos. Além da política, precisamos cuidar da nossa alma. Vamos ter que aprender a estender a mão para o outro mais uma vez”, enfatizou.
Para Lula, Dilma Rousseff é o nome certo para essa tarefa à frente do NBD. "Estou certo de que Dilma Rousseff colocará toda a sua competência para transformar esse banco no maior banco de investimentos para países em desenvolvimento que o mundo já conheceu", disse o presidente.
Alinhada a essa missão, Dilma Rousseff enfatizou a inclusão social em várias vertentes como vocação essencial do NBD em sua gestão. “O NDB precisa apoiar projetos que sejam críticos para reduzir a desigualdade e melhorar o padrão de vida das imensas comunidades pobres e excluídas do acesso à moradia, à educação e à saúde. O NDB tem o potencial de ser um líder global no financiamento de projetos que abordem os desafios mais urgentes de nosso tempo. Estou confiante de que, juntos, podemos realizar essa visão”, encerrou.