A crise na Americanas tem dominado o noticiário de economia desde o último dia 11, quando a empresa anunciou um rombo de R$ 20 bilhões em seus balanços. Nesta quinta (19), veio o pedido de recuperação judicial. De lá para cá, as ações da companhia despencaram, e fundos que investiram em títulos de dívidas da empresa tiveram prejuízo. Quem compra nas lojas, porém, não deve ser afetado tão cedo.
Antes de mais nada, é preciso entender que a recuperação judicial não é uma falência. Ao fazer esse pedido à Justiça, a empresa procura parar de pagar seus credores (bancos, fornecedores, funcionários com quem tem dívidas trabalhistas) por um tempo e se reorganizar. A ideia é justamente impedir que ela vá à falência com as cobranças.
Entre no canal do Brasil Econômico no Telegram e fique por dentro de todas as notícias do dia. Siga também o perfil geral do Portal iG
Um exemplo recente de varejista que continuou funcionando apesar de uma recuperação judicial é a Saraiva. A empresa fechou grande parte de suas lojas físicas, mas o e-commerce recebe pedidos até hoje.
Por enquanto, a Americanas pretende seguir com suas atividades. No fato relevante divulgado ao mercado, a empresa diz que seu grupo de acionistas de referência pretende “manter a liquidez da companhia em patamares que permitam o bom funcionamento da operação de todas as lojas, do seu canal digital, […] da Ame e suas demais coligadas”.
Ou seja: eles prometem que vai ter dinheiro para manter portas abertas e entregas.
Na prática, porém, algumas mudanças já vêm sendo sentidas. Lojistas do marketplace aumentaram os preços para desencorajar compras. Eles têm medo de não receber o dinheiro de suas vendas.
Além disso, o marketplace responde por 65% das vendas totais do grupo. Uma queda nesse segmento pode atrapalhar os planos de retomada da Americanas.
Empresa diz que, sem recuperação judicial, há risco
No pedido de recuperação judicial, a Americanas reconhece que está passando por uma crise de fluxo de caixa — sobraram só R$ 800 milhões.
A empresa reclama de cobranças antecipadas feitas pelo BTG e pelo Banco Votorantim, no montante de R$ 1,4 bilhão, logo após o comunicado sobre o rombo nos balanços. Ela espera que os valores sejam devolvidos.
“Todo o caixa da empresa vem sendo dragado por instituições financeiras detentoras de créditos contra o Grupo Americanas sujeitos aos efeitos desta recuperação judicial”, diz o documento.
Se o pedido de recuperação judicial não for deferido, alerta a companhia, existe risco de um “absoluto aniquilamento do fluxo de caixa”. Aí, não vai ter dinheiro para pagar fornecedores e funcionários.
Outros R$ 3 bilhões seriam esperados de operações com recebíveis de cartão de crédito.
Somados esses montantes, ela conseguiria R$ 8 bilhões de caixa, o que seria suficiente para pagar 6,4 vezes a dívida de curto prazo.
Americanas confia em volta por cima
A companhia que a crise é “momentânea, passageira e certamente será superada frente à sua magnitude econômica e o seu altíssimo potencial de continuar gerando riquezas para o país”.
Ela também aponta que suas receitas líquidas até o 3º trimestre de 2022 eram de R$ 27 bilhões, com Ebitda (lucro antes de juros, taxas, depreciação e amortização) era de R$ 3,157 bilhões. Isso daria mais confiança à empresa para reajustar suas obrigações.
A Americanas argumenta que suas dívidas são de longo prazo: dos R$ 20,791 bilhões, 89% seriam para pagar em períodos mais distantes. O problema é que essa cifra não considera as inconsistências que estão sendo apuradas — a dívida certamente é bem maior que isso, e está estimada em R$ 43 bilhões.
Ame poderá ser capitalizada
Outra fonte de lucro é a carteira digital Ame, usada principalmente para dar cashback em compras feitas nos sites da Americanas.
Segundo a empresa, a sociedade teve lucro líquido de R$ 20,2 milhões no último trimestre, após processar um volume total de pagamentos de R$ 32,6 bilhões nos últimos 12 meses.
O pedido de recuperação judicial também inclui capitalizar a Ame. Isso pode significar procurar novos sócios para a instituição financeira, uma forma de conseguir dinheiro para estabilizar as contas.
Plano de recuperação judicial ainda será apresentado
Por enquanto, tudo que a Americanas fez foi pedir a recuperação judicial à Justiça. Caso o pedido seja aceito, ela terá até 60 dias para apresentar seu plano, detalhando os meios para se recuperar, a viabilidade e o laudo de avaliação dos bens da companhia. Então, saberemos mais detalhes da situação financeira da empresa.