O futuro ministro da Fazenda do governo eleito, Fernando Haddad (PT), afirmou nesta quarta-feira (14), em entrevista ao programa "Estúdio i", da GloboNews, que vai "botar a casa em ordem" durante sua gestão, citando problemas econômicos deixados pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Haddad criticou, sobretudo, os gastos feitos pelo governo durante o período eleitoral, como a concessão do crédito consignado a beneficiários do Auxílio Brasil pela Caixa Econômica Federal. "Se a gente não prorroga o Auxílio Brasil, a Caixa quebra", afirmou o futuro ministro.
Haddad disse, ainda, que o governo atual enviou um ofício pedindo que a nova gestão retire 2,5 milhões de pessoas do Auxílio Brasil que foram incluídas de forma equivocada. "Isso é quase um crime confessado. Botou para dentro 2,5 milhões de pessoas e agora estão mandando tirar. Por que que colocou, então?", questionou. Apesar de criticar a falta de critérios do programa, Haddad prometeu não desamparar os atuais beneficiários durante a próxima gestão.
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Composição da equipe
Na tarde desta terça-feira (13), Haddad anunciou dois nomes para secretarias do ministério da Fazenda: Gabriel Galípolo e Bernard Appy . Na entrevista desta quarta, ele afirmou que deve concluir os anúncios da equipe completa até a próxima semana, e que está "com todos os convites na cabeça", embora tenha evitado falar nomes.
"Eu gosto de trabalhar com gente que entende do riscado", declarou. Haddad desconversou quando perguntado sobre se chamaria economistas com opiniões divergentes das suas para a equipe.
Ele afirmou, porém, que prefere que grandes nomes com pensamentos opostos aos seus estejam em uma espécie de conselho para ajudá-lo na gestão.
"Se me derem a honra, podemos compor um conselho do Ministério da Fazenda. Eu gostaria muito de manter a interlocução com ex-ministros, ex-presidentes do Banco Central. Eu gostaria muito e vou fazer uma espécie de conselho com quem eu vou me reunir periodicamente", afirmou. "Eu gosto de ouvir muito, porque você erra menos e corrige mais rápido", completou.
Reforma Tributária e teto de gastos
Ainda sobre sua equipe, Haddad disse que Appy é o nome que o ajudará a fazer a Reforma Tributária acontecer e disse que acha que esse é o momento para esta mudança. "Estamos maduros para isso", disse, apesar de admitir que muitas discussões e negociações ainda precisam ser feitas para o projeto ser aprovado.
Haddad voltou a dizer que o teto de gastos é insutentável, e disse que ele sequer existe desde que a pandemia de Covid-19 começou, já que foi furado diversas vezes.
"Todo o mundo sabia que o teto de gastos era uma saída precária, que não era sustentável", disse o futuro ministro. "Os economistas sérios e intelectualmente honestos sabiam que aquilo era uma medida quase que desesperada. Há maneiras mais inteligentes, na minha opinião, de fazer. Isso significa rompimento com a responsabilidade fiscal? De maneira nenhuma. Significa mostrar para o país que é possível um desenho mais confiável de longo prazo", afirmou.
Haddad disse que a nova âncora fiscal pode se dar por meio de Lei Complementar, e que a responsabilidade fiscal faz parte da responsabilidade social. "Um estado desorganizado é um estado que acaba punindo o mais fraco. Disso eu não tenho a menor dúvida", disse.
PPPs na ordem do dia
Haddad também acrescentou que as Parcerias Público-Privadas (PPPs) e as concessões "têm que entrar na ordem do dia" da Fazenda durante sua gestão.
"Há um conjunto enorme de projetos sustentáveis que podem ser concedidos para a iniciativa privada. Tem muitos projetos que dependem de uma pequena cotribuição do estado, as vezes é uma garantia, as vezes é assumir uma parte pequena da inadimplência, as vezes é uma contrapartida que cabe no orçamento fiscal da União, e a repercussão disso é enorme", analisou. "Isso é privatização? Isso é combinação de esforços", frisou.
Segundo ele, o nome de Galípolo foi indicado pensando justamente que ele pode "ajudar a deslanchar um processo de parceria público-privada" por ser "especialista" no assunto.
"Calma, pô"
Questionado sobre a repercussão negativa do mercado diante da escolha do seu nome para a Fazenda, Haddad afirmou que "a Faria Lima" precisa ter calma.
"Calma, pô. Ouve a pessoa, vê um plano de trabalho, espera a posse. As coisas vão ser apresentadas, demonstradas", disse. Questionado sobre estar muito tranquilo, Haddad respondeu: "Se o ministro da Fazenda estiver apavorado, a situação piora ainda mais".
Haddad ainda enalteceu sua boa relação com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem disse ter uma "amizade antiga".
"A intimidade que eu tenho com o Lula é um ativo que pode ser aproveitada pelo Brasil, porque isso me dá a tranquilidade de poder conversar com ele sem cerimônia, o que é muito importante", afirmou.
Haddad disse que prometeu a Lula que vai "manter o pobre no Orçamento". "Nós vamos botar a casa em ordem. É o compromisso que estamos assumindo. É fácil arrumar a casa com o pobre no Orçamento? Não é", afirmou.
Perguntado sobre quem teria mais voz diante das decisões econômicas, ele ou Lula, Haddad disse que o diálogo vencerá. "Eu não me lembro de uma divergência entre mim e o presidente Lula que a gente nao tenha dirimido dialogando", afirmou. "Quando eu era ministro da Educação, muitas vezes eu fui chamado para opinar sobre economia. O Lula sabe o que eu penso de economia", completou.