Após plano de Guedes, Bolsonaro promete aumento real no salário mínimo

Presidente disse que ganho acima da inflação está garantido, mas não há previsão no Orçamento

Fala foi feita no podcast Inteligência Ltda
Foto: Reprodução/Youtube
Fala foi feita no podcast Inteligência Ltda

O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) prometeu, nesta quinta-feira (20), conceder aumento real no salário mínimo no próximo ano. A fala veio após vir a público um plano do ministro da Economia , Paulo Guedes, de reajustar o salário abaixo da inflação.

"O Paulo Guedes fala muito em desindexação da economia. E daí, no bolo, o que ele quer desindexar? O percentual fica indefinido. No momento, você tem a garantia de que no mínimo vai ter um aumento real, mais do que a inflação", afirmou Bolsonaro, em  entrevista ao podcast Inteligência Ltda.

A garantia citada por Bolsonaro, porém, não existe. Na proposta do Orçamento de 2023, enviada pelo governo federal ao Congresso, há o valor proposto de R$ 1.302 para o salário mínimo, que prevê apenas a correção pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), e não um ganho real, acima da inflação.

Com isso, o governo Bolsonaro alcança o quarto ano seguido sem aumento real no salário mínimo, aplicando apenas os reajustes previstos na lei.

Ao comentar sobre o salário mínimo no podcast, Bolsonaro ainda disse que o funcionalismo público também receberá aumento real. "Agora há pouco o Paulo Guedes anunciou que no ano que vem vai ter aumento real do mínimo e aumento real para servidor público também", disse o presidente.

Guedes, porém, não anunciou esses aumentos. Em entrevista à CNN, o ministro disse que estuda o aumento real do salário mínimo e que pretende retomar o reajuste do funcionalismo público. "Tem fake news que salário mínimo e aposentadorias não serão corrigidos. Não tem nada de salário mínimo mais baixo, muito pelo contrário. Eu garanto que será corrigido no mínimo pela inflação. E que estamos estudando aumento real, acima da inflação", declarou.

Entenda o caso

Tanto a fala de Bolsonaro quanto a de Guedes vêm após uma reportagem de Folha de S. Paulo revelar um plano do ministro que alteraria a forma como o reajuste do salário mínimo e de benefícios previdenciários é realizado. De acordo com o jornal, o governo enviaria uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) com o plano de Guedes logo após as eleições, caso Bolsonaro vença o pleito.

Atualmente, a taxa usada para reajuste é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do ano anterior. De acordo com documentos obtidos pela Folha, a nova regra considera a expectativa de inflação. Está também em estudo o uso do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - que costuma ser menor que o INPC - para realizar o reajuste.

Na prática, isso faria com que o salário mínimo e a aposentadoria subissem abaixo da inflação. Por exemplo: para que o salário mínimo de 2022 fosse de R$ 1.212, o valor de referência usado foi de 10,16%, referente ao INPC de 2021. Com as novas regras, essa taxa poderia ser bem mais baixa, já que a meta da inflação de 2022 foi de 3,5%, enquanto a expectativa do IPCA em 2022 foi de 5,03%.

Lula se posiciona

Oponente de Bolsonaro na corrida pela Presidência da República, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se posicionou sobre o plano de Guedes. Nesta quinta-feira, em caminhada no Rio de Janeiro, ele criticou o projeto.

"Hoje no jornal eu vi uma notícia que o ministro da Economia do Bolsonaro quer tirar a correção do salário mínimo. E já tinha visto que o Guedes querer privatizar as praias. Até a praia, uma das coisas mais democráticas do mundo", reclamou Lula, citando ainda a defesa de Guedes de vender terrenos do governo  frente ao mar.