Varejo fecha primeiro semestre em alta, mas vendas recuam pelo 2º mês

Setor lida este ano com inflação, endividamento elevado das famílias e juros altos

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Varejo fecha primeiro semestre em alta, mas vendas recuam pelo 2º mês

As vendas do comércio varejista brasileiro fecharam o primeiro semestre deste ano com alta de 1,4% frente ao mesmo período de 2021, de acordo com dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE, divulgados nesta quarta-feira (10). Mas o resultado indica uma perda de fôlego do setor. Na passagem de maio para junho, a atividade recuou 1,4%.

Entre no  canal do Brasil Econômico no Telegram e fique por dentro de todas as notícias do dia. Siga também o  perfil geral do Portal iG

É a segunda retração seguida do varejo brasileiro na variação mensal. O IBGE revisou o desempenho do setor em maio, cuja estimativa passou de 0,1% para -0,4%. Em junho, sete das oito atividades investigadas pela pesquisa apresentaram retração.

As quedas mais intensas foram observadas no segmento de tecidos, vestuário e calçados que recuou 5,4%, e no setor de hiper e supermercados, cuja retração foi de 0,5% no período.

"A atividade de hiper e supermercados teve uma influência importante da inflação ao longo do primeiro semestre do ano", diz o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.

Endividamento das famílias, inflação elevada e juros altos

O setor varejista tem a inflação, ainda no patamar de dois dígitos, como um dos principais entraves para um desempenho robusto do setor este ano. Além disso, a inadimplência em nível recorde torna difícil para as famílias brasileiras se comprometerem com novos gastos.

Quase 80% das famílias brasileiras tinham dívidas em julho,  o maior índice já registrado nos últimos 12 anos, de acordo com levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

O setor de vestuário, por exemplo, ainda não conseguiu se recuperar do patamar pré-pandemia. Está 9,9% abaixo do nível de fevereiro de 20220.

O gerente da pesquisa Cristiano Santos explica que as empresas ligadas a esse segmento registraram avanços ao longo do ano em função de novas estratégias de vendas no comércio eletrônico, mas a atividade não se manteve imune a retrações, com uma queda intensa na passagem de maio para junho.

A única atividade que cresceu frente ao mês de maio foi a de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria. Segundo o IBGE, o aumento é ligado aos artigos farmacêuticos e reflete a alta nos preços dos medicamentos.

"Esse é um tipo de produto que, na maioria das vezes, você não consegue substituir. Isso aumenta o dispêndio de uma família que pode ter que gastar nessa atividade e diminuir o consumo em outras", analisa Cristiano.

No comércio varejista ampliado, que inclui veículos e materiais de construção, a retração em junho foi de 2,3%. O segmento setor de veículos e motos, partes e peças registrou queda de 4,1%, enquanto o de material de construção recuou 1%.

Perspectivas

A expectativa dos analistas para o comércio varejista não é animadora neste ano. O setor enfrenta ainda a escalada dos juros que encarece o crédito às empresas e às famílias.

Por outro lado, economistas avaliam que os saques nas contas de FGTS, antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS e os estímulos fiscais concedidos pelo governo - como o aumento de R$ 400 para R$ 600 do Auxílio Brasil, o pagamento de auxílio para caminhoneiros autônomos e o vale-gás para as famílias - podem sustentar o consumo no terceiro trimestre deste ano.

O Índice de Confiança do Comércio (ICOM) do FGV IBRE recuou 2,8 pontos em julho, ao passar de 97,9 para 95,1 pontos.

"É possível que a as medidas recentes de estímulo adotadas pelo governo ainda sustentem o nível presente da demanda por mais alguns meses. Mas a inflação e juros em patamares elevados e os baixos níveis de confiança do consumidor devem segurar uma retomada mais consistente do setor”, avalia Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE.