Petrobras tem disputa por diretorias após novo presidente assumir

Nos bastidores, a saída de ao menos três dois oito diretores é certa. Conselheiros tentam evitar ocupação política dos cargos

Foto: Ivonete Dainese
Petrobras: Com novo presidente, começa disputa pelas diretorias da estatal

O Conselho de Administração da Petrobras aprovou o nome de  Caio Paes de Andrade para o cargo de presidente da estatal com um placar de sete votos a favor e três contrários. A chegada do executivo a três meses da eleição eleva a incerteza sobre os rumos da estatal. Ele conquistou uma cadeira no colegiado por oito votos a favor e dois contra.

O governo do presidente Jair Bolsonaro e lideranças do Congresso Nacional esperam que Paes de Andrade atue para evitar novos aumentos nos preços de combustíveis até as eleições , em outubro. O executivo, até então secretário de Desburocratização no Ministério da Economia, já ouviu pedidos no governo para avaliar se seria possível reduzir os valores cobrados por gasolina, diesel e óleo de cozinha.

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No mercado financeiro, porém, as ações da Petrobras terminaram o dia em forte alta, de 6,75% para as ordinárias (com voto) influenciadas pelo aumento do preço do petróleo, pela queda dos papéis na semana anterior e pela avaliação de que a troca no comando encerra um capítulo da crise.

Os argumentos usados para justificar essa mudança, que significaria deixar de lado a política de paridade de importação — adotada pela estatal desde o governo de Michel Temer— incluem a volatilidade do mercado por causa da invasão da Ucrânia pela Rússia e a “função social” da empresa.

O presidente Jair Bolsonaro comemorou a aprovação de seu indicado, citando uma “nova dinâmica para os combustíveis”.

Trânsito com o Centrão

A indicação de Paes de Andrade foi alvo de críticas por não ter larga experiência no setor de petróleo, o que estaria em desacordo com a Lei das Estatais. Mas ele ganhou capital político em Brasília por causa da atuação no desenvolvimento de ferramentas digitais do governo.

Nos últimos meses, Andrade se aproximou de Bolsonaro e do senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente. Também se tornou mais próximo de políticos do Centrão, o grupo de partidos que dá sustentação ao presidente no Congresso.

Em Brasília e na Petrobras, a avaliação é de que algo vai mudar na empresa. O governo se prepara para trocar os diretores da companhia por um grupo mais alinhado ao Planalto, algo que depende do aval do Conselho de Administração, hoje ainda composto por executivos mais ligados ao mercado financeiro e de petróleo.

Paes de Andrade já indicou novos conselheiros, mas a troca só será efetivada após a realização de uma assembleia de acionistas, ainda sem data marcada. A lista é formada majoritariamente por ocupantes de cargos no governo Bolsonaro e bastante alinhados ao Palácio do Planalto, como o número dois da Casa Civil, Jonathas Assunção.

No alto escalão da Petrobras, a mudança na diretoria já é dada como certa e deve ocorrer já nesta semana. Na segunda-feira, diversas áreas já tiveram clima de despedida entre os superiores. Dos oito diretores, alguns já deixaram claro seu interesse pela aposentadoria, já que estão há mais de 30 anos na empresa.

Com a perspectiva de troca, alguns dos atuais dirigentes e gerentes executivos começaram a procurar emprego na iniciativa privada. Ao menos dois diretores e um gerente-executivo tomaram essa iniciativa, temendo pelo futuro da empresa.

Para eles, mais do que trabalhar para reduzir o preço dos combustíveis, a tendência é que a diretoria escolhida por Paes de Andrade trabalhe para promover interesses do Centrão.

O mais aguerrido dos defensores da troca no comando da Petrobras foi o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que nos últimos dias disse a mais de um interlocutor na Câmara ter expectativa de indicar um diretor. Lira pediu a renúncia de José Mauro publicamente e chegou a ameaçar abrir uma CPI para investigar gastos com diárias de viagem e passagens de avião.

Desde que a indicação de Paes de Andrade foi confirmada por Bolsonaro, Lira se reuniu e conversou por telefone com diversos executivos de mercado, para convidá-los para compor o conselho da companhia.

Para os principais executivos da Petrobras, deixar o cargo neste momento significaria abrir mão da metade do bônus previsto para o ano. É o que prevê a regra na estatal e o que torna a saída mais difícil de acontecer.

Ainda assim, segundo um dos executivos que foi procurado por colegas da Petrobras, há quem considere que vale a pena tentar uma vaga fora da empresa e compensar a perda no novo emprego.

Os integrantes do conselho tentam blindar a empresa de nomeações de diretores sem qualificação, embora reconheçam a dificuldade de barrar nomeações políticas após tantas trocas de cargos. Paes de Andrade será o quarto presidente da Petrobras no governo de Jair Bolsonaro.

Bolsonaro tenta segurar reajustes nos combustíveis desde o ano passado, depois que os preços da gasolina e do diesel se tornaram uma das principais dores de cabeça para a campanha à reeleição.

"Todo esse processo é péssimo para a empresa e o mercado, pois tem a incerteza em torno dos investimentos e dos preços", avalia David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Refinarias à venda

Para Edmar Almeida, professor do Instituto de Economia da PUC-Rio, o momento preocupa mais que nas trocas anteriores:

"Há o risco político e esse talvez seja hoje o maior deles, já que tanto o governo como a oposição concordam em mudar a política de preços."

Em uma tentativa de mostrar avanço na agenda, a estatal anunciou a reabertura do processo de venda de três refinarias: Abreu e Lima, Presidente Getúlio Vargas (Repar) e Alberto Pasqualini (Refap). O processo de venda dessas unidades estava parado desde o ano passado após o baixo interesse das empresas pelos ativos. Das oito unidades colocadas à venda pela Petrobras, metade não saiu do papel.