Nota de R$ 20 faz 20 anos: veja como o poder de compra mudou no tempo

Se atualizada pela inflação atual, que corrói o poder de compra dos brasileiros, a cédula do mico-leão-dourado valeria R$ 69

Foto: pixbay
Nota de vinte reais completou vinte anos nesta segunda (27)

Parece que foi ontem, mas fazem duas décadas desde que a nota de R$ 20 reais chegou às mãos e ao dia a dia dos brasileiros. De lá para cá, além do visual da cédula – repaginado em 2012 – muita coisa mudou, principalmente o que era possível comprar com o valor.

Se atualizada pela  inflação atual, que corrói o poder de compra dos brasileiros, a cédula do mico-leão-dourado valeria R$ 69, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em 2002, o salário mínimo subiu de R$ 180 para R$ 200. Os R$ 20, portanto, representavam 10% de quem ganhava o básico. Hoje, o valor representa 1,65% dos R$ 1.212 atuais.

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Os dados do IBGE também mostram que, nestes 20 anos, o carrinho de supermercado ficou 360% mais caro, e a lista de compras paga naquela época com R$ 20 foi minguando.

"O poder de compra encolheu bastante. A inflação acumulada é de 254% pelo IPCA, e com isso a realidade dos preços se alterou brutalmente. É como se a gente multiplicasse o preço dos produtos por quatro. A nota de R$ 20 compra muito menos diante de uma inflação tão alta. Em termos reais, se a gente divide ela pela inflação acumulada, é como se ela comprasse algo equivalente a R$ 5,65 atuais", calcula André Braz, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Um encarte de supermercado do dia do lançamento da cédula mostrava que era possível comprar com o valor 1 kg de alcatra ou contra-filé, 5 kg de arroz, 1 kg de feijão, 1 kg de açúcar, 500 g de café, uma lata de leite em pó, um pacote de 1 kg de sabão em pó, um sabonete e um detergente de 500 ml. Ainda sobrariam R$ 0,06.

Já no encarte desta semana da mesma rede de supermercados, é possível comprar apenas 500 g de café e um frasco de detergente, ou um pacote de 5 kg de arroz e 1 kg de açúcar - nesse caso completando com R$ 0,94.

Ainda segundo o folheto da época, uma embalagem de 500 g de achocolatado custava R$ 2,37. Com R$ 20, era possível comprar quase 10 potes. De lá para cá, a mesma marca diminuiu o frasco, hoje com 370 g, vendida por R$ 7,19.

Uma lata de azeite, com 500 ml, custava R$ 4,56 em 2002, e R$ 20 pagavam quatro latas. Hoje, um vidro de 400 ml custa R$ 17,98.

A quantidade de bandejas de filézinho de frango também caiu. O quilo, que na época saía por R$ 4,39, hoje é vendido por R$ 11,98, na marca mais barata. Com pouco mais de R$ 20, portanto, é possível comprar duas embalagens, bem diferente das quase cinco que poderiam ser levadas na época pelo valor.

Ano do Penta

A cédula de R$ 20 foi a última a ser lançada na chamada primeira família do Real, e levou 18 anos até que outra nota entrasse em circulação: a de R$ 200, lançada em 2020. Nesse meio tempo, além da remodelação das notas, que passaram a ter tamanhos diferentes e novos dispositivos de segurança, a nota de R$ 1 foi suspensa.

Na semana em que a cédula foi lançada, a seleção masculina de futebol estava em busca do pentacampeonato na Copa do Mundo, realizada no Japão e na Coreia do Sul. Para ver os jogos, muitas famílias e amigos se reuniam durante a manhã ou ainda na madrugada, por conta da diferença de fuso horário.

Mas quando a comemoração pelas vitórias da seleção de Luiz Felipe Scolari se estendiam, o churrasco estava garantido - e por pouco.

Na semana da conquista do Penta, a mesma rede de supermercados vendia o quilo da alcatra e do contra-filé por R$ 4,49. Hoje, o valor na mesma rede é de R$ 34,98 ou R$ 36,98.

Já a linguiça toscana era vendida há 20 anos por R$ 2,29 o quilo, e a bandeja de coração de frango saía por R$ 4,55. A lata de 350 ml de cerveja de uma marca popular, hoje vendida por R$ 2,89 no mesmo local, custava R$ 0,59. Já a garrafa de refrigerante saía por R$ 1,28, R$ 4,71 a menos que os R$ 5,99 atuais.

Braz explica que, além da alta acumulada de 360% dos alimentos para consumo no domicílio, as carnes tiveram um aumento ainda maior:

"A carne subiu mais do que o aumento médio. O Brasil está exportando mais e as commodities que fazem parte da produção estão mais caras. Se fosse apenas pela inflação geral acumulada, o quilo (da alcatra ou contra-filé, com preço de referência do supermercado citado) estaria por volta de R$ 16. Se levamos em conta a inflação dos alimentos, R$ 21, mas ainda distante dos preços que temos hoje", diz.

Outro item em que o preço atual impressiona na comparação com os encartes antigos é o café. O pacote de 500 g saía por R$ 1,88, e hoje, a embalagem da mesma marca é vendida por R$ 17,48. O produto ficou 70% mais caro nos últimos dose meses.

"No ano passado tivemos um frio muito intenso, que provocou um prejuízo grande no setor. Foi um super choque. A safra do café é bianual, o que quer dizer que a produção de uma boa safra acontece a cada dois anos, então custa a restabelecer o mercado e o preço voltar ao normal."