Coelho alertou sobre falta de diesel antes de ser demitido

Desabastecimento em pleno auge da colheita da soja teria impacto direto no PIB. Corte no gás da Bolívia também motivou demissão

Coelho alertou sobre falta de diesel antes de ser demitido
Foto: Jefferson Rudy / Agência Senado/7-10-2019
Coelho alertou sobre falta de diesel antes de ser demitido

O presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, havia alertado o Ministério de Minas e Energia sobre a possibilidade de falta de diesel pouco antes de ser demitido, segundo informou a agência Reuters. O documento apresentado ao governo apresentava o cenário de desabastecimento de diesel em pleno auge da colheita da soja, o que teria impacto direto no PIB (Produto Interno Bruto).

Sob o título de "Combustíveis: desafios e soluções", o documento dizia que no terceiro trimestre do ano há aumento sazonal na demanda por diesel no Brasil e nos EUA, sendo que o mercado internacional vive hoje a menor oferta do produto em 14 anos.

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"Sem sinalização de que os preços de mercado serão mantidos adiante, há um risco concreto de escassez de diesel no auge da demanda, durante a temporada de colheita, afetando o PIB do Brasil", diz o documento.

"Os estoques globais de diesel estão bem abaixo da média histórica", diz o documento. "A Petrobras sozinha não pode resolver a alta global nos preços de energia", complementa a apresentação.

O ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, havia consultado analistas na última sexta-feira para entender o cenário de escassez do combustível. 

A guerra entre Rússia e Ucrânia afetou diretamente os estoques do insumo no mundo, fazendo com que grandes exportadoras enviassem o diesel para a Europa, devido às sanções impostas ao petróleo russo. 

O Brasil deixa para importar o combustível de setembro em junho. Normalmente a carga vem do México em duas ou três semanas.

A Petrobras já tem buscado alternativas como fornecedores na África Ocidental ou na Índia, que demoram mais a chegar no país. Um carregamento da Índia, por exemplo, levaria 45 a 60 dias para desembarcar no Brasil.

Os estoques de diesel no Brasil são suficientes para atender a, no máximo, um mês da demanda doméstica, disseram fontes à Reuters.

Corte de 30% no fornecimento de gás da Bolívia contribuiu para queda de Mauro Coelho da Petrobras

O corte no fornecimento de gás natural ao Brasil pela Bolívia teria contribuído para a demissão de José Mauro Coelho da presidência da Petrobras. O país vizinho reduziu a entrega do insumo em 30%, o que equivale a cerca de cinco milhões de metros cúbicos por dia, gerando desafios para a estatal brasileira.

 Segundo fontes do setor, boliviana Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) passou a vender o produto para a Argentina com melhor preço em relação ao pago pela Petrobras.

A decisão do corte do fornecimento do gás boliviano eixou o presidente Bolsonaro indignado. Em rede social, o presidente disse que o corte foi orquestrado.

"A Bolívia cortou 30% do nosso gás para entregar para a Argentina. Como agiu a Petrobras nessa questão também? O gás, se tiver que comprar de outro local, é 5 vezes mais caro. Quem vai pagar a conta? E quem vai ser o responsável? É um negócio que parece orquestrado para exatamente favorecer vocês sabem quem", disse Bolsonaro a apoiadores, sem citar nomes.

Segundo fontes, a Bolívia estaria redirecionando o gás que enviava ao Brasil à Argentina, que estaria pagando um preço mais alto pelo insumo.

Contudo, a demissão de José Mauro já estava no radar do governo desde a substituição do almirante Bento Albuquerque do Ministério de Minas e Energia por Adolfo Sachsida, auxiliar do ministro da Economia, Paulo Guedes.

A indicação de Caio Paes de Andrade para a presidência da Petrobras era um desejo de Guedes desde o início da crise na Petrobras, com a demissão do general Joaquim Silva e Luna da presidência da estatal por causa da alta no preço dos combustíveis.

Conselheiros também saem

A troca de  Coelho por Paes de Andrade no comando da Petrobras implicará em outras mudanças na estatal. Isso porque como Coelho passou apenas 40 dias à frente da empresa, será necessária outra assembleia do Conselho para validar a nova indicação.

"Tendo em vista que o Sr. José Mauro Ferreira Coelho foi eleito pelo sistema do voto múltiplo na Assembleia Geral Ordinária realizada em 13/04/2022, caso aprovada pela assembleia geral, sua destituição implicará na destituição dos demais membros do Conselho eleitos pelo mesmo processo, devendo a companhia realizar nova eleição para esses cargos, nos termos do artigo 141, § 3º, da Lei 6.404/76", informou a estatal em nota.