BC vê inflação crescente e não descarta nova alta da Selic
Ata do Copom aponta pressão tanto do lado da oferta quanto da demanda com guerra e Covid na China pesando no cenário externo
O Banco Central (BC) vê uma contribuição negativa do cenário econômico externo para a inflação brasileira. De acordo com a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira (10), a nova onda de Covid-19 na China e os efeitos da guerra na Ucrânia para a oferta de produtos no mercado vão pressionar os preços globalmente.
Segundo o documento, que apresenta as razões da alta da taxa básica de juros para 12,75% ao ano decidida na semana passada, as pressões inflacionárias mundiais se intensificaram nos últimos meses e podem ser mais prolongadas.
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Entre os fatores, o Comitê cita uma pressão na demanda por bens ainda elevada, como nos Estados Unidos, que tem registrado índices inflacionários históricos, e choques de oferta, como os causados pela guerra na Ucrânia e pela política de combate à Covid-19 na China, que tem provocado lockdowns em grandes cidades.
“Esses fatores têm potencial para gerar pressões inflacionárias persistentes em diversas economias, particularmente nas que estão mais defasadas no processo de normalização de suas políticas fiscais e monetárias. Ademais, o Comitê avaliou que há grande incerteza sobre o comportamento futuro dos preços de commodities em Reais, como reflexo da guerra na Ucrânia e da retomada das economias no pós-pandemia”, apontou a ata.
No cenário interno, o Copom citou o risco fiscal, assim como nas últimas atas. Na avaliação do Comitê, a incerteza em relação ao futuro do arcabouço fiscal eleva os prêmios de risco e aumenta o risco de desancoragem das expectativas de inflação, um fator importante para determinar o patamar dos juros.
“O Comitê enfatizou que o nível de aperto monetário apropriado é também condicional ao arcabouço fiscal vigente. O esmorecimento no empenho por reformas estruturais, bem como alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas, podem elevar a taxa de juros neutra da economia”, diz o documento.
Na avaliação do economista-chefe da Ativa, Étore Sanchez, a mensagem do Copom não foi tão intensa sobre a deterioração fiscal que ocorreu em períodos recentes.
"Não é marginalmente mais salutar o noticiário fiscal, na melhor das hipóteses é neutro. Há a a defesa do Paulo Guedes de uma minirreforma tributária, há a redução dos impostos sobre importação que deve ser anunciada na quinta-feira, seria uma renúncia fiscal, mas acho que não estão falando de algo em específico na ata", disse.
Decisão para os juros
Sobre a decisão de elevar a Selic em 1 ponto percentual (p.p) para 12,75% ao ano e de sinalizar um novo aumento de menor tamanho na próxima reunião, a ata não trouxe considerações que já não estavam no comunicado divulgado na semana passada.
O documento aponta que a estratégia adotada é adequada para garantir a convergência da inflação para a meta em 2023. O Copom ainda ressalta que dada a incerteza do cenário econômico, a cautela é importante.
“O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”, apontou.