Inflação do churrasco: carnes subiram 11,8% nos últimos 12 meses

Entre as estratégias estão a substituição de cortes nobres por peças que estão mais em conta nas prateleiras

Inflação do churrasco: carnes subiram 11,8%, nos últimos 12 meses
Foto: Banco de imagens/Pixabay
Inflação do churrasco: carnes subiram 11,8%, nos últimos 12 meses

Não está sendo fácil ser amante de um bom churrasco em tempos de inflação tão alta. Cada um faz suas escolhas e seu malabarismo para manter a tradição. Entre as estratégias estão a substituição de cortes nobres por peças que estão mais em conta nas prateleiras, apostar em carne suína que está mais barata, além de incrementar as opções como pão de alho, legumes e frutas na brasa para aumentar a variedade.

Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas, em 12 meses, em média, o preço das carnes subiu 11,8% nos últimos 12 meses. Isso quer dizer que o consumidor paga quase 12% mais caro para comprar a peça do que há um ano atrás. Mas isso é uma média, alerta o economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/IBRE).

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Além disso, o IPC mostra que os cortes das carnes nobres sofreram altas ainda mais robustas do que as carnes de segunda. O acém passou subiu 0,33% em abril e 7,5% em 12 meses; o chã de dentro não teve aumento de preço em abril, mas subiu 11,8% em 12 meses; já o fígado caiu 1,5% abril e no ano acumula alta de 9,9%; e o músculo caiu 1,42% e, em 12 meses, ficou 6,5% mais caro.

Já nos cortes de primeira, a alcatra caiu 1,3%, em abril, mas em 12 meses subiu 14,3%, o contra filé caiu 0,7% em abril e teve aumento de 13% no ano; o filé mignon caiu 4,3% em abril, mas ficou 27% mais caro em 12 meses. Já a queridinha de muitos no churrasco, a picanha registrou alta de 17% em 12 meses.

Por outro lado, a carne suína continua sua trajetória de queda nos preços com um recuo de 2,4% em 12 meses. O pernil caiu ainda mais, 5%. Para André Braz, para salvar o churrasco é preciso investir em alternativas para não ser tão prejudicado pela pressão inflacionária:

"Quem gosta de churrasco foi prejudicado. Quem come churrasco está se adaptando com queijo coalho, pão, aves. Mas às vezes é uma frustração", avalia ele. 

Para Mozart Borges, churrasqueiro profissional e dono de um negócio especializado em espetinhos, a estratégia é percorrer os supermercados quase diariamente em busca de promoções para manter a qualidade do produto. Segundo ele, para quem trabalha com churrasco não é só a carne que tem pesado nos gastos:

"Eu prezo muito pela qualidade, por isso fico percorrendo os mercados para obter o melhor preço, e evitar substituições. Os clientes percebem, claro. Mas, além dos espetinhos na brasa, eu também ofereço jantinha, com arroz, macarronese, molho a campanha. E cada dia que você vai no mercado tem que levar mais dinheiro, senão não conseguem comprar a mesma coisa", lamenta Mozart. 

O professor Paulo Henrique Castro, de 28 anos, faz churrascos em casa frequentemente com a família. Segundo ele, a picanha é um personagem raro nas comemorações. Ela foi substituída pelo contra filé. Ele também prefere não comprar peças mais pesadas de alcatra a vácuo, especialmente quando recebe poucas pessoas. Paulo tem oferecido cortes suínos, mais em conta, e incrementado o cardápio:

"O pão de alho é muito usado, é o queridinho do churrasco. Mas gosto também de legumes, cebola, abobrinha e abacaxi. Tem gente que usa batata doce,e tenho visto isso aumentar bastante. Há 2 anos, um churrasco para seis pessoas eu gastava R$ 80. Hoje não sai por menos que R$ 160", reclama ele.

Uma pesquisa da Associação de Supermercados do Rio (Asserj) mostra que, apesar de o consumo de carne bovina ter caído nos últimos três anos, neste Dia das Mães ela será o prato principal para aproximadamente 43% dos entrevistados. Refrigerante (40%) e cerveja (38%) foram as principais escolhas entre as bebidas, o que pode indicar que a maioria dos fluminenses pretende celebrar o Dia das Mães com um tradicional churrasco em família, segundo presidente da Asserj, Fábio Queiróz.

"Para as famílias, será uma oportunidade de consumo de itens que diminuíram no dia a dia, como a carne bovina. Com mais festas e mais convidados, o churrasco parece ser uma boa opção para a data", Fábio Queiróz.

O economista André Braz pondera que, embora o preço das carnes esteja tenha apresentado leve recuo em março e abril, eles se estabilizaram em patamares muito altos, e os custos não foram acompanhados pelo aumento da renda dos brasileiros na mesma proporção.

"O futuro da carne é incerto. Há incertezas sobre a demanda chinesa por causa da ameaça de lockdown em províncias atingidas por surto de Covid-19, guerra na Ucrânia, e eleições no Brasil. Além disso, no período do inverno, os custos ao produtor costumam subir", analisa Braz.

Veja dicas para economizar:

1) Substitua cortes mais nobres, como a picanha, por peças com valor mais em conta. Segundo churrasqueiros, são opções para economizar a costela bovina, contra filé, o lombo suíno, costela de porco, cupim, acém, fraldinha, além de frango.

2) Evite o desperdício. Em alguns casos, as peças de alcatra embaladas a vácuo, por exemplo, podem conter quilos a mais de carne que vão sobrar. Dependendo da quantidade de convidados, comprar 1 kg ou 2kg de contra filé pode ser mais em conta.

3) Barato pode sair caro. Cuidado ao usar amaciantes de carne em cortes de segunda. Eles podem prejudicar o sabor e a textura da carne na grelha.

4) Invista em cortes suínos. A carne de porco tem apresentando queda nos preços e tem se tornado uma opção saborosa e mais barata para o churrasco, e mesmo consumo diário de proteína.

5) Aumente a quantidade de entradas e acompanhamentos, como pão de alho, queijo coalho e legumes, além de arroz, farofa, salada e molho.

6) A linguiça pode ser uma aposta. O produto pode ser uma boa opção para diversificar os tipos de carnes e, em alguns casos, pode ser mais barata. Mas é preciso ter atenção porque dependendo do tipo o quilo pode ser mais caro que alguns cortes, como as linguiças recheadas, toscana, entre outras variedades.

7) Percorrer os supermercados em busca de promoções ou comprar em dias específicos de promoção de carnes em determinadas redes também ajuda a economizar na hora de preparar o churrasco.

8) Comece com os cortes mais rápidos. No início do churrasco, quando as pessoas estão começando a comer. Então, comece com os cortes mais rápidos de assar e mais baratos, como asa de frango, a linguiça e costela de porco.

9) Use a preparação com kafta. A kafta é uma boa opção para o churrasco, usando a carne moída de sua preferência. Vale utilizar fraldinha, coxão mole, patinho.

10) Teste os espetinhos. Fazer espetinhos, misturando carne, frango e linguiça, pode fazer o churrasco render mais. Assar legumes também é uma opção barata para deixar espetinhos bonitos, coloridos e saborosos.

11) Conhece o Peixinho? O corte extraído da paleta, no dianteiro do boi, lembra um peixe pelo formato. O corte é conhecido por ter uma carne macia, sem custar tão caro.

12) Faça os cálculos antes das compras. Calculadoras ajudam a planejar o churrasco, evitando que se compre demais. Para os adultos, 400g de carne para homens, 300g de carne para mulheres, 200g de acompanhamentos. Já para as crianças até 11 anos, são de 150g a 200g de carne.