Inflação argentina supera venezuelana e pode fechar o ano acima de 60%
Indicador atingiu 6,7% em março, maior patamar em duas décadas, desbancando o posto da Venezuala de país com maior alta de preços na América Latina
A taxa de inflação mensal da Argentina subiu para 6,7% em março, muito acima das previsões e o nível mais alto em duas décadas, com a disparada dos preços dos alimentos e dos combustíveis prejudicando o valor dos salários e da poupança.
O resultado já supera o da Venezuela, que até então ocupava com ampla margem o topo dos rankings de inflação na América Latina. Em março, a inflação venezuelana ficou em 1,4%, bem menor que a registrada no mesmo mês na Argentina.
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No Brasil, a inflação acelerou para 1,62% e é a maior para um mês de março desde 1994 (42,75%), antes da implantação do plano Real, que entrou em vigor em julho daquele ano. Em 12 meses, IPCA atingiu 11,30%, maior índice desde outubro de 2003.
Os analistas previam um aumento mensal de 5,8% na Argentina, embora o ministro da Economia, Martin Guzman, tenha alertado que a taxa poderia chegar a 6%.
A agência de estatísticas Indec informou que a taxa de inflação em 12 meses atingiu 55,1% no mês, acima de uma pesquisa de analistas da Reuters de 53,8%. Especialistas preveem que a inflação da Argentina poderia encerrar o ano acima de 60% ou ficar acima até de 70%.
Isso afeta muito os argentinos, quase 40% dos quais já vivem na pobreza, mesmo que a recuperação do crescimento da pandemia de coronavírus tenha ajudado a reduzir esse número.
"O dinheiro não dá para nada hoje em dia", disse José Luis Rodríguez, um pedreiro argentino, enquanto construía um muro em um canteiro de obras na capital, Buenos Aires.
Ele disse que agora luta para sobreviver com seu salário: "A realidade é que não compra nada. Se eu ficar doente, não sei quem vai alimentar minha família".
A Argentina vem lutando contra a alta inflação há anos com pouco sucesso. Isso se agravou à medida que os preços globais das commodities subiram no ano passado, agravados recentemente pela guerra na Ucrânia.
Pessoas em toda a América do Sul foram duramente atingidas, provocando protestos contra o aumento dos preços no Peru e longas filas por comida e combustível em Cuba. Os bancos centrais foram forçados a aumentar acentuadamente as taxas de juros, uma tendência que deve continuar.
Na semana passada, os argentinos foram às ruas de Buenos Aires para protestar exigindo mais apoio do Estado, com faixas dizendo "estamos ficando mais pobres". Outros, como o pedreiro Julio Reinoso, vendiam bolos na rua para complementar sua renda regular.
"A inflação está forçando aqueles de nós que trabalham em diferentes setores a buscar alternativas, como esse tipo de venda de bolos", disse Reinoso, que acrescentou: "Não temos escolha. Se tivermos sorte, podemos ter dois ou até três empregos. E nem assim conseguimos sobreviver porque um dia os produtos têm um determinado preço e no dia seguinte é outro. Isso realmente mata as pessoas em todo o país".
Nos três primeiros meses deste ano, a taxa de inflação argentina chegou a 16,1%. Em janeiro, o índice foi de 3,9%; em fevereiro, de 4,7%; e, em março, de 6,7%, de acordo com dados oficiais.
No caso da Venezuela, a inflação de janeiro foi de 6,7%, superior a da Argentina. Mas em fevereiro (2,9%) e em março (1,4%), o índice venezuelano foi inferior ao argentino, segundo o Banco Central da Venezuela (BCV). Sendo assim, no primeiro trimestre deste ano, a alta nos preços no país está em torno de 11%. Ou seja, 5,1 pontos percentuais inferio ao da Argentina.