Bandeira menor da conta de luz não impacta inflação, dizem analistas

Retirada da taxa extra proporciona alívio somente no “curtíssimo prazo” para as estimativas do IPCA

Bandeira menor da conta de luz não impacta inflação
Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Bandeira menor da conta de luz não impacta inflação

O anúncio de antecipação da retirada da bandeira de escassez hídrica  pelo governo - que acrescenta R$ 14,20 a cada 100 mWh consumidos e será encerrada no próximo dia 16 - levou analistas a reduzirem as projeções de inflação para o mês de abril, já que a mudança vai proporcionar certo alívio ao bolso do consumidor brasileiro antes do esperado.

Nesta sexta-feira (8), o IBGE divulgou a inflação de março . O índice subiu 1,62%, a maior alta para o mês de desde 1994 (42,75%), antes da implantação do Plano Real, que entrou em vigor em julho daquele ano.

Entre no  canal do Brasil Econômico no Telegram e fique por dentro de todas as notícias do dia 

Mesmo com o fim da taxa extra na conta de luz neste mês, a perspectiva para os preços não é animadora.

Isso porque, para economistas, a saída antecipada da bandeira somente divide o efeito deflacionário entre os meses de abril e maio.

As projeções de inflação para o ano seguem inalteradas, em torno de 7%, e a perspectiva é manutenção dos preços elevados para itens como combustíveis, alimentos e medicamentos.

Mirella Hirakawa, economista sênior da AZ Quest, calcula que a saída da bandeira a partir do dia 16 retira 0,5 ponto percentual da projeção para o IPCA de abril, reduzindo a estimativa de 1,4% para 0,92% no mês. Em maio, porém, agora é esperado alta de 0,3% ante -0,2%.

"O saldo dessa redistribuição do impacto da bandeira tarifária é nulo, mantendo a nossa projeção para o IPCA de 2022 em 7,4%. A gente mantém a perspectiva de que o pico da inflação será em abril, mas antes era esperado que a inflação chegasse a 12% em 12 meses, e agora deve atingir 11,5%. Só achatou a curva", explica Mirella, que prevê o retorno da bandeira tarifária amarela em dezembro.

'Mar de notícias ruins'

Étore Sanchez, economista da Ativa Investimentos, que também prevê o retorno da bandeira amarela no final do ano, reduziu a projeção para o IPCA de abril de 1,10% para 0,70%, ao passo em que elevou a projeção de maio, de -0,3% para 0,10%.

"No fim das contas, é uma antecipação de cerca de 15 dias que gera pequenas alterações para as projeções de curtíssimo prazo, mas a inflação para o ano segue idêntica, em 6,8%."

Tatiana Nogueira, economista da XP, calcula que a antecipação da retirada da bandeira de escassez hídrica dividirá seu efeito entre abril e maio: reduz 0,4 p.p. da projeção de abril - caindo de 1,07% para 0,67% -, e retira 0,4 ponto da estimativa de maio (passando de -0,23% para 0,17%), ante redução integral de 0,8 ponto no mês.

"É uma boa notícia essa antecipação, mas é um alívio muito pequeno. São 14 dias de energia mais barata na conta do consumidor, mas com o preço dos combustíveis crescendo acima de dois dígitos e os preços de alimentação acelerando, ao subir de forma mais rápida dado os efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia. É uma pequena boa notícia num mar de notícias ruins e de pressão inflacionária", diz Tatiana, que projeta o IPCA em 7% este ano.