Restaurante russo promove semana da Ucrânia e doa lucro para embaixada
Do Rio de Janeiro, Chef Romano Tseplik condena invasão russa e tenta ajudar refugiados e combatentes
Entrar no Bistrô Romano Russo e ouvir "privet, kak diela?" (“Oi, como vai?”, em russo) é uma verdadeira viagem no tempo. O responsável é o chef Romano Tseplik, que nasceu na antiga União Soviética e veio para o Brasil há 20 anos, trabalhou dez anos como guia turístico, se formou em gastronomia e hoje, apesar de se dizer “um pouquinho brasileiro”, comanda o restaurante em Niterói (RJ) que serve pratos típicos da sua região.
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Filho de mãe ucraniana, nasceu no território do atual Cazaquistão, com fortes raízes russas. Mesmo assim, desde o início da guerra na Ucrânia, não demorou a condenar os ataques do presidente Vladimir Putin ao país vizinho.
Além de organizar o primeiro protesto no Rio de Janeiro contra a invasão, entre esta quinta-feira (17) e domingo (20), Tseplik promove no seu restaurante a "Semana da Comida da Ucrânia" e reverte os lucros para a embaixada do país, a fim de ajudar os refugiados e os combatentes.
“Nós sempre tivemos no cardápio a comida ucraniana, borsch, vareniki , etc. Quando começou a guerra eu organizei a manifestação na frente do consulado da Rússia, no Leblon, mas a guerra continua e a gente ajuda como pode, com dinheiro e pedindo mais atenção ao povo para o que está acontecendo.”
O menu ucraniano conta com a sopa mais famosa do país, o borsch , à base de beterraba, feijão, cenoura e carne, e também com o vareniki , que consiste em um pastel cozido recheado com batatas ou queijo. Esse último também é conhecido como pirogue , a depender da região da Ucrânia.
"Russofobia"
Perguntado se sofreu xenofobia desde o início da guerra, o chef Tseplik diz que "sempre têm uns babacas", mas afirma não penar com isso.
"Tem ucranianos que não vêm porque pensam que somos pró-'operação'. E também tem os russos que moram aqui e pensam que somos pró-Ucrânia. E eu digo: não fiz o prato para vocês, fiz para os brasileiros provarem nossa comida", relata.
"Eu tenho minha visão política para tudo, para Ucrânia, para o Brasil, para Bolsonaro e para Lula, mas é minha visão, aqui vou servir todo mundo igual. Comida não tem lado", completa.
Alguns bares e restaurantes no Brasil tiraram o estrogonofe do cardápio por ser originário da Rússia e removeram drinks como o Moscow Mule
da carta de bebidas. Para Romano, isso não passa de retórica.
"O drink não tem nada a ver com a Rússia. De que adianta tirar do cardápio? Comida não tem política", explica.
Apesar de torcer pelo fim do conflito, o chef ainda considera as ações do ocidente muito brandas. "Só sanções não bastam, Putin não está nem aí para o povo ucraniano".
** Luís Felipe Granado é repórter do Brasil Econômico, editoria de Economia do Portal iG, e pesquisador na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)