Gasolina e diesel: apesar da alta, defasagem ainda é de dois dígitos
Petrobras anunciou na quinta-feira reajuste para as refinarias de 18,77% na gasolina, 24,9% para o diesel e 16,06% para o gás de botijão
Cinquenta e sete dias após o último aumento dos combustíveis, a Petrobras anunciou na quinta-feira reajuste para as refinarias de 18,77% na gasolina, 24,9% para o diesel e 16,06% para o gás de botijão. Os reajustes valem a partir desta sexta-feira (11). Ainda não se sabe quanto desses percentuais será repassado ao consumidor.
A alta é consequência direta da escalada na cotação do petróleo no mercado internacional após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Apesar do reajuste, ainda há defasagem nos preços de até 11%, segundo importadores e consultorias.
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A estatal, porém, vinha sendo pressionada pelo governo a segurar preços, e pelo Conselho de Administração, a corrigir os valores cobrados. Ontem, o presidente Jair Bolsonaro lamentou que a empresa não tenha esperado mais alguns dias, mas disse que, se não agisse, haveria risco de desabastecimento.
O aumento provocou uma corrida aos postos, em vários estados, de motoristas que tentavam encher o tanque antes da entrada em vigor dos novos preços.
"Se a Petrobras, que é a Petrobras, diz isso aí, não aumentar, teremos desabastecimento, que é pior que o combustível caro", afirmou Bolsonaro.
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O presidente comemorou a aprovação no Senado de dois projetos que tentam mitigar o impacto ao consumidor final e agora aguardam aprovação na Câmara. Segundo Bolsonaro, a expectativa é que eles sejam transformados em lei tão logo a votação seja concluída.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, indicou que, se a guerra da Ucrânia se prolongar, o governo pode conceder subsídio direto ao diesel. O produto é item essencial para uma das principais bases eleitorais do presidente, os caminhoneiros.
Ao longo da última semana, Bolsonaro fez críticas públicas à política de preços da estatal, que repassa ao consumidor a flutuação na cotação do barril de petróleo no mercado internacional e do dólar.
Ontem, duas horas antes do anúncio do aumento, o presidente afirmou que “não decide nada” sobre os preços da estatal, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, quando foi indagado se o valor ia cair:
"Não estou dizendo se vai ou não vai, eu acho que vai aumentar. No mundo todo aumentou. Eu não defino preço na Petrobras. Eu não decido nada. Só quando tem problema cai no meu colo."
Em nota, a Petrobras ressaltou que o reajuste vai no mesmo sentido de outros agentes do setor e defendeu a decisão. “Tornou-se necessário que a Petrobras promova ajustes nos seus preços de venda às distribuidoras para que o mercado brasileiro continue sendo suprido, sem riscos de desabastecimento”, disse em nota.
Mas ponderou que, mesmo com a disparada das cotações, decidiu não repassar a volatilidade do mercado de imediato, fazendo monitoramento diário de preços de petróleo.
A partir de hoje, o preço de venda da gasolina para as distribuidoras passará de R$ 3,25 para R$ 3,86 por litro. Em pouco mais de um ano, o valor mais que dobrou. Para o diesel, vai subir de R$ 3,61 para R$ 4,51. O gás será reajustado de R$ 3,86 para R$ 4,48 por kg.
Defasagem persiste
Apesar da magnitude do reajuste anunciado ontem, os preços da Petrobras seguem defasados em relação ao valor cobrado no mercado internacional, de acordo com a Abicom, associação dos importadores, e a GSB Consultants. A defasagem da gasolina é estimada em 8% a 10%, e a do diesel, de 9% a 11%.
Isso acontece porque, quando a estatal aplicou o último aumento, a cotação do petróleo era na faixa de US$ 80 o barril. Esta semana, está na faixa de US$ 110.
"Neste ano, nossos associados não fizeram importação. Por isso, há risco de desabastecimento pontual no diesel. As refinarias não conseguem atender a demanda. Com a decisão da Petrobras, ainda leva de 30 a 45 dias até os importadores comprarem combustível e o produto chegar aqui", afirmou Sergio Araujo, presidente da Abicom.
Nos últimos dias, empresas do setor privado começaram a restringir vendas de diesel. A Ipiranga vinha dando prioridade para sua rede própria. Outras companhias já traçavam planos, inclusive para um cenário de escassez.
A Petrobras atende cerca de 80% do mercado brasileiro. Portanto, é necessária a atuação complementar do setor privado para que o produto chegue ao consumidor.
A estatal ficou pressionada, de um lado, pelo governo e o Congresso, e de outro, pelo Conselho de Administração e o setor privado. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), criticou nas redes sociais o aumento: “Causou espanto a insensibilidade da Petrobras com os brasileiros, os verdadeiros donos da companhia. O aumento de hoje foi um tapa na cara de um país que luta para voltar a crescer”.
No cálculo Procons pedem esclarecimentos ao Mercado Livre sobre vazamento de dados de clientespolítico, porém, prevaleceu a leitura de que a escassez de combustíveis seria mais danosa que um reajuste. Integrantes do Conselho de Administração cobraram a diretoria sobre o motivo de não haver reajuste.
Ministros do governo, porém, avaliaram que a empresa deveria ter feito “um gesto” e demorado mais a corrigir preços. Nas próximas semanas, a estatal deve passar por mudanças, com a indicação pelo governo do presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, para presidir o conselho.