Rússia x Ucrânia: preço do petróleo tem maior alta em sete anos

Países liberam reservas e empresas recusam óleo russo

Petróleo
Foto: Redação 1Bilhão Educação Financeira
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A escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia atingiu em cheio o mercado de petróleo. As sanções impostas pelo Ocidente ao governo de Vladimir Putin tentaram deixar de fora os setores de óleo e gás, uma vez que o país é responsável por 7,5% das exportações mundiais. Mas não foi o que se viu ontem. A cotação do Brent subiu 7,14%, para US$ 104,97 o barril, no contrato em maio, a maior alta em sete anos.

A Agência Internacional de Energia (AIE) anunciou a liberação de 60 milhões de barris de petróleo que fazem parte da reserva estratégica dos EUA e de outros países para evitar a escalada de preços, mas a ação não surtiu efeito. Foi a quarta vez na História que uma ação articulada pela AIE foi adotada para elevar a oferta de óleo. A última havia sido em 2011, durante a guerra civil na Líbia.

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 “A situação no mercado de energia é muito séria e exige nossa total atenção”, disse Fatih Birol, diretor da AIE em declaração no site da instituição. “A segurança energética global está sob ameaça, colocando a economia global em risco durante fase frágil de recuperação”. A disparada do preço da commodity deve provocar aumento da inflação nos países que compram o produto, ameaça a recuperação da economia e piora do custo de vida.

Segundo relata o Wall Street Journal, em um sinal de que a turbulência no mercado deve continuar, refinarias ontem se recusaram a comprar petróleo russo e os bancos se negaram a financiar a operação. Citando depoimentos de banqueiros, executivos e comercializadores, o jornal afirma que o temor é entrar em conflito com as diferentes regras previstas nas sanções ao país ou que o petróleo seja o próximo passo no cerco financeiro ao governo de Vladimir Putin

Compradores já enfrentam dificuldades com pagamentos e disponibilidade de navios devido a sanções, com a BP cancelando o carregamento de óleo combustível de um porto russo do Mar Negro.

Ao menos duas grandes comercializadoras não conseguiram fechar contratos ontem envolvendo petróleo de Moscou, diz o WSJ. Segundo analistas, por ora, o país segue exportando o mesmo que antes da guerra, mas a tendência é de queda no fluxo adiante uma vez que as remessas tenham sido entregues. O comportamento representa uma reviravolta, à medida que União Europeia e EUA adotaram medidas para deixar de fora petróleo e gás das sanções.

Preço-alvo de US$ 115

A Rússia exporta de 4 milhões a 5 milhões de barris por dia de petróleo bruto e 2 milhões a 3 milhões de produtos refinados. Analistas ponderam que a Rússia poderia reduzir a oferta de petróleo como forma de responder às sanções, o que colocaria pressão sobre os preços. O banco Goldman Sachs divulgou relatório estimando que o preço-alvo para o petróleo subiu para US$ 115 por barril no curto prazo.

Para Shin Lai, analista da Trígono Investimentos, a ação coordenada pelos EUA para liberar reservas pode frear um pouco a alta, mas não vai inverter a tendência de elevação dos preços:

"A Rússia, que faz parte dos países exportadores, pode reduzir sua oferta de petróleo usando essa ação como resposta às sanções financeiras do Ocidente e a retirada dos bancos russos do sistema Swift. E os países ocidentais podem passar a comprar mais petróleo da Arábia Saudita, mas vão pagar mais caro pelo produto."

“A situação frágil na Ucrânia e as sanções financeiras e energéticas contra a Rússia manterão a crise energética alimentada e o petróleo bem acima de US$ 100 por barril no curto prazo”, disse, em nota, Louise Dickson, analista sênior de mercado de petróleo da Rystad Energy

Trigo: maior alta em 14 anos

A economia russa seguiu ontem em trajetória de deterioração, rumo a um isolamento comercial ainda maior, com a debandada de empresas dos mais diversos segmentos e com uma moeda que vale o equivalente a 1 centavo de dólar, negociado a 101,2 por dólar.

No mercado financeiro, outras commodities traduziram em números o que se vislumbra adiante como resultado do conflito: aumento de preços. O trigo chegou a atingir o maior valor dos últimos 14 anos. Na Bolsa de Chicago, o contrato para maio, o mais negociado, subiu 7,54% a 9,98 o bushel (o equivalente a 27,2 quilos). Rússia e Ucrânia, juntas, respondem por cerca de 30% das exportações mundiais de trigo. A alta pode afetar o custo do pãozinho, das massas e biscoitos que chegam à mesa dos brasileiros. Milho, café e soja fecharam com valorização.

"O resultado desse movimento é que teremos mais inflação com essa alta generalizada de preços das commodities agrícolas", disse Nery Ribas, da NR Gestão e Consultoria no Agronegócio.

Analistas já estimam desaceleração da economia global ao longo do ano.

"Assumindo que não há uma resolução rápida para esse conflito, tememos que o PIB global possa ser reduzido em 0,5% a 1%", afirmou Paul Jackson, chefe global de pesquisa de alocação de ativos da Invesco, acrescentando que algumas partes da Europa podem inclusive entrar em recessão.

Os mercados de ações tiveram um dia conturbado. Na Europa, as principais Bolsas fecharam no vermelho, pressionadas pela alta do petróleo. A Bolsa de Frankfurt caiu 3,87%, Londres recuou 1,72% e Paris caiu 3,94%. Nos EUA, o Dow jones perdeu 1,72%; o S&P500 recuou 1,50% e a Nasdaq, de empresas de tecnologia, teve queda de 1,59%.

*Com agências internacionais