Um ano de Open Banking: bancos já fazem 100 milhões de trocas por mês
O sistema possibilita o compartilhamento de dados de clientes para várias instituições financeiras
O Open Banking, que completa um ano nesta terça-feira, é considerado um sucesso por especialistas e integrantes do mercado. O sistema, que possibilita o compartilhamento de dados de clientes para várias instituições financeiras e promete entregar facilidades, como juros mais baixos, começou a ganhar tração no final do ano passado.
Segundo dados da Open Banking Brasil, organização que reúne os participantes do sistema, o número de “chamadas de API”, ou seja, comunicações bem-sucedidas entre duas instituições diferentes, passou de 12,7 milhões em novembro para 84,4 milhões em dezembro. Já em janeiro o número foi ainda maior, de 96,3 milhões.
A comunicação entre instituições pode ser o próprio compartilhamento de dados ou um pedido de autorização de acesso a essas informações, por exemplo.
Nic Marcondes, partner da Quanto, plataforma de Open Banking, explica que esse crescimento no final de 2021 está relacionado a maneira como as instituições financeiras passaram a oferecer o serviço para os clientes.
"A gente vê que foi muito mais direcionado para o final do ano, quando apareceu o botão de Open Banking ou “conecte suas contas” para todo mundo", explicou.
Outro ponto que ajudou no crescimento foram as propagandas patrocinadas por grandes bancos, como Itaú e Banco do Brasil. As peças tentam explicar o que é o Open Banking e chamar o público para compartilhar seus dados.
Segundo Marcondes, o Open Banking já é uma realidade. Em alguns casos, ele relata, o sistema já auxiliou pessoas que estavam em busca de crédito a obter o empréstimo. Uma das empresas que é cliente da Quanto, que não pode ter o nome revelado por questões comerciais, registrou um aumento de 28,8% nas aprovações de crédito em agosto de 2021 comparando quem utilizou o Open Banking e quem não.
"Vimos um índice de aprovação aumentando em quase 29% só pelo fato de a instituição ter esses dados do Open Banking", relatou.
Milene Fachini Jacob, sócia da área de fintechs do Baptista Luz Advogados, já vê um impacto do Open Banking no mercado, principalmente sobre a competição para oferecer mais serviços aos clientes.
Do lado do usuário, a advogada conta que clientes com histórico financeiro melhor já estão conseguindo taxas mais atrativas em empréstimos.
"O cliente é premiado com taxas melhores quando ele tem histórico melhor, obviamente, como todo o mercado de crédito. O ranking funciona de forma a premiar o que tem escore maior. A gente vê isso hoje já acontecendo na prática", disse.
Expansão para 2022
Para Julio Carvalho, Arquiteto de Soluções de Segurança da Amazon Web Services (AWS), que oferece serviços para instituições como Itaú, Nubank e Pagseguro, o segundo semestre deste ano deve ser o de maior popularização do sistema.
Segundo ele, o mercado passou por uma fase de implementação do sistema e de colocar a infraestrutura de pé e agora passa a entender os dados coletados para gerar novos produtos e serviços.
"O que me leva a crer que a gente vai ter evidências mais marcantes de mudança na vida das pessoas a partir do segundo semestre é porque a gente provavelmente vai entrar em uma fase de rentabilização desses dados", disse.
Uma das funcionalidades que deve se expandir e pode ser uma chave para a popularização do Open Banking é a intersecção com o Pix. A funcionalidade mais comentada entre especialistas é a de facilitar um pagamento em um aplicativo de delivery.
A ideia é que o pagamento seja feito pelo Pix de forma rápida, sem necessidade de várias autenticações com o banco, uma vez que o próprio aplicativo de delivery estaria autorizado pelo Banco Central a iniciar os pagamentos.
"As empresas que já estão inseridas nesse ecossistema, como uma empresa de delivery, podem fazer um pedido para operar como empresa iniciadora de pagamento. Nesse sentido, existe a possibilidade de que essas próprias empresas dentro de seus grupos também ingressem nesse mercado", disse Carvalho.
A advogada Milene Jacob ressalta que o sistema ainda é muito novo e acredita que ao longo do tempo e com um esforço de educação financeira, as pessoas vão se acostumar e o compartilhamento de informações se tornará mais habitual.
"Quanto mais a gente usar o sistema, mais as instituições vão aproveitar na sua completude. Vão maturar os serviços que já estão disponíveis e o consumidor final vai se acostumar a pensar em uma forma mais fora da caixa no sentido de não usar só produtos e serviços em instituições que ele já tem relacionamento, mas buscar outras opções", conta.
O que ainda está por vir
Propostas de crédito
A partir do dia 30 de março, deverá ficar mais fácil receber propostas de crédito de várias instituições diferentes. Os clientes passarão a poder solicitar essas propostas a várias instituições ao mesmo tempo, como em um marketplace. Segundo o BC, ficará mais fácil comparar taxas e prazos.
Investimentos e câmbio
Já no final de maio, dia 31, os dados transacionais de produtos de câmbio e investimentos poderão ser compartilhados.
São informações sobre quais ações e títulos de dívida o cliente possui em sua carteira, ou taxas cobradas em operações de câmbio e até informações sobre renda familiar e patrimônio.
Seguros
No mais longo prazo, os seguros também farão parte do sistema. Por enquanto, as seguradoras estão trabalhando para compartilhar dados de canais de atendimento e produtos disponíveis.O cronograma da Superintendência de Seguros Privados (Susep) prevê que até junho de 2023 seja possível compartilhar dados de cadastro de clientes e inclusive acessar os serviços, pedir resgate e avisar sinistros dentro do chamado “Open Insurance”.