A Vale passou a produzir areia em uma de suas unidades instaladas em Minas Gerais. O produto, destinado principalmente a usos no setor de construção civil, ultrapassa 260 mil toneladas já processadas e vendidas este ano. O foco principal está em reduzir o volume de rejeitos no processamento do minério de ferro, evitando a destinação desse material para barragens. A areia tem uso em argamassas, concretos e pavimentação rodoviária, por exemplo.
O projeto, que recebeu R$ 50 milhões em investimento desde 2015, teve seu desenvolvimento impulsionado após os desastres causados pelo rompimentos das barragens da Samarco — empresa controlada pela Vale e pela ango-australiana BHP Billiton, atualmente em recuperação judicial —, em Mariana, em novembro de 2015, e da Mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho, no início de 2019, que deixou perto de 300 vítimas, entre mortos e desaparecidos.
"Samarco e Brumadinho são marcos muito importantes. Mudaram a forma da companhia pensar. Mas nós já tínhamos esse esforço, com foco em sustentabilidade", diz Rogério Nogueira, diretor de Marketing de Ferrosos da Vale.
Ele explica que o projeto da areia é desenvolvido ao lado de outras iniciativas da mineradora com o objetivo de garantir, sobretudo, a redução da produção de rejeitos em suas minas, com foco em sustentabilidade ambiental, social e econômica.
"O desafio é não estocar mais rejeitos, mas criar aplicações para reduzir isso. Olhando para o longo prazo e o futuro, quando a mina se exaure, as barragens podem ser uma reserva de recursos para outras atividades. A ideia é processar (minério) cada vez melhor para o futuro, porque tanto os subprodutos da produção de minério quanto as barragens podem ser fonte de recurso mineral muito grande", sublinha o executivo.
Não está definido, porém, continua ele, que a produção de areia será uma nova unidade de negócio dentro da companhia. A operação está vinculada ao processo de produção de minério de ferro.
"Mas é possível que, futuramente, dê origem a novos negócios. São unidades (produtivas) que podem ser separadas e poderiam se tornar empresas", admite Nogueira. "Isso poderia ser feito em parceria, beneficiando as comunidades em que as unidades estão instaladas, gerando emprego e renda."
A produção de areia sustentável, como a Vale chama o novo produto, está sendo anunciada no Vale Day 2021, reunião com investidores realizada na tarde desta segunda-feira, em Nova York.
Outros produtos no radar
A Vale gera aproximadamente 55 milhões de tonelada de areia por ano como coproduto do beneficiamento de minério de ferro. Este ano, mais de 260 mil toneladas de areia já foram comercializadas. A estimativa da companhia é que em 2022 esse volume quase quadruplique, alcançando 1 tonelada, para chegar a 2 milhões de toneladas no ano seguinte.
Os compradores são de Minas, Espírito Santo, São Paulo e Distrito Federal, principalmente empresas de concreto.
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Após o desastre de Brumadinho, a Vale se comprometeu em desativar 30 barragens a montante, o mesmo sistema que era utilizado na Mina de Córrego do Feijão. Nesta segunda-feira, a mineradora anunciou que as obras de descaracterização do dique 5 da barragem Pontal, em Itabira, foram concluídas, sendo a sétima barragem a montante desativada.
Nesta etapa inicial, a areia está sendo produzida na Mina de Brucutu, em São Gonçalo do Rio Abaixo (MG). Mas deve ser implementada em outras unidades da companhia em Minais Gerais.
É que, nessa região, o processamento do minério de ferro utiliza água, em razão de um menor teor de minério no material extraído da lavra, que é em média de 40%. No Norte do país, em Carajás, a produção é feita a seco, porque o teor de ferro fica acima de 65%.
Ao todo, a mineradora tem, atualmente, 70% de sua produção vindos de processo a seco, tendo avançado de 40% em 2015. O patamar de hoje, porém, não deve ser alterado até que a produção total da companhia alcance 400 milhões de toneladas por ano. A previsão para 2021 é que fique entre 315 milhões e 335 milhões de toneladas.
O processo de produção da areia, destaca André Vilhena, gerente de Novos Negócios da Vale, é todo físico, não havendo elementos tóxicos no processo ou presentes nos coprodutos como na sílica utilizada para produzir a areia sustentável. A sílica utilizada para produzir areia, que já tem a aplicação em concreto e argamassa atestados em laboratório, têm outras aplicações, como na indústria de fundição.
A companhia estuda a produção de aglomerantes químicos, em parceria com institutos e empresas internacionais, além de um gel polímero, uma espécie de substituto do cimento, já patenteado pela mineradora.
"Todas as aplicações podem virar negócios em si. A Vale pode fomentar iniciativas em parcerias usando a nossa areia. Ou seja, gerar negócios complementares", diz Nogueira.