Com descontos fracos, Black Friday se mantém no nível do ano passado
Consumidores passam a comprar produtos de necessidade básica, deixando os bens duráveis de lado
Quem tem tentado aproveitar as ofertas de Black Friday nesta sexta-feira (26) tem se deparado com descontos pequenos e preços altos. Até a noite de quinta-feira (25), 47,9% dos consumidores não tinham encontrado boas ofertas, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Reclame AQUI.
Como era esperado , os preços dos mais diversos produtos estão sendo impactos pela alta da inflação e do dólar. Mesmo diante de valores mais altos, porém, os consumidores têm ido às compras.
Consumidores vão às compras mesmo com descontos fracos
De acordo com um levantamento da Neotrust, mais de 4,7 milhões de pedidos foram feitos em e-commerces no Brasil entre 00h de quinta-feira e 14h desta sexta-feira. O número é estável em relação ao mesmo período do ano passado, embora o faturamento tenha tido uma ligeira alta de 5% - R$ 3,3 bilhões foram gastos até às 14h. Na região sudeste, responsável por cerca de 60% dos pedidos, houve queda de 2% no volume em relação ao mesmo período do ano passado.
Essa estabilização em relação à Black Friday de 2020 é um bom sinal, já que havia a expectativa de queda, de acordo com o economista Igor Lucena. "A gente tem que entender que, devido à pandemia e o fato de em 2020 a gente ter tido um volume muito grande de recursos sendo aplicados com auxílios emergenciais, quer dizer que o nível alto de consumo que tivemos em 2020, em tese, não iria se repetir do ponto de vista online como está sendo apresentado", afirma.
A Black Friday da mercearia
Além disso, um levantamento do Reclame AQUI mostra que, nas primeiras horas desta Black Friday, o número de reclamações saltou 17% em relação ao mesmo período do ano passado. Felipe Paniago, CMO do Reclame AQUI, comenta que mais reclamações significam, na prática, mais gente comprando.
O que tem mudado, porém, é o perfil de compra dos consumidores. "Esta Black Friday não está mais fraca em vendas, mas está mais fraca em descontos. Os lojistas estão espremidos, o consumidor também está espremido, com o bolso mais curto, está ruim para todo o mundo. Então, o lojista está conseguindo dar desconto em mercearia ou em produtos encalhados", analisa Felipe.
Quem queria achar um eletrodoméstico barato ou um celular por um preço imperdível acabou se deparando com ofertas de alimentos, produtos de higiene e limpeza. Nos levantamentos do Reclame AQUI, começaram a surgir entre os produtos mais reclamados itens como xampu, caixas de bombom e barras de chocolate.
"A Black Friday no Brasil já é conhecida por não ter aquelas promoções que a gente vê no exterior, de 50%, 60%; por aqui, gira em torno de 20%. E aí os lojistas estão conseguindo ter mais margem para dar promoção nesses produtos de bomboniere, higiene, limpeza, fralda. Então o consumidor não está achando produtos que talvez não sejam essenciais, mas que ele queria, como eletrônicos, celulares, linha branca, mas está achando promoções legais nessa parte de alimentação, higiene e limpeza, está unindo o útil ao agradável", comenta Felipe.
O que os dados mostram é que os consumidores estão adquirindo menos bens duráveis e mais itens de primeira necessidade, buscando reduzir seu gasto mensal. Do ponto de vista econômico, Igor afirma que isso não é arriscado.
"Toda essa ideia da Black Friday, que vem dos Estados Unidos, é uma visão de consumo, de renovação de geladeira, televisão, carro. Se, neste momento, a gente está vendo uma visão voltada para mercearia e produtos não duráveis, isso significa que as pessoas estão com a renda disponível para bens duráveis cada vez menor, e isso é um impacto do endividamento e da incerteza futura. Isso é um desestímulo para a indústria, mas mostra de fato a situação complicada que a economia brasileira está vivendo neste ano", afirma o economista.
O cenário atual da economia tem sido o principal responsável para que os descontos não estejam tão bons nesta Black Friday. Entram na conta a inflação, o dólar, o individamento das famílias, a alta dos juros e o desarranjo das cadeias produtivas.
Apesar dos descontos fracos, Igor argumenta que, sem a Black Friday, era possível que os preços estivessem ainda mais altos. "É como se a inflação fosse, de alguma maneira, represada pela Black Friday e a pessoa não sentisse retorno algum em relação aos descontos. Mas a lógica, neste momento, talvez seja a de que esses preços poderiam estar até mais altos", afirma.
Mesmo diante deste cenário, a expectativa é a de que a Black Friday encerre com alta nas vendas em relação ao ano passado. "Mesmo com promoções ruins, devido à inflação, tendo alguma promoção já está ajudando o consumidor. Porque abaixar o preço não vai, só vai subir, então alguns estão aproveitando. A gente acha que as vendas vão aumentar, sim, mas não vai ser aquela Black Friday que estava todo mundo esperando, para achar aquele produto legal, novo, última geração, com promoção. Vai ser a Black Friday da mercearia", analisa Felipe.