Impasse no teto de gastos é "crise infantil", diz Guedes
Ministro da Economia pediu compreensão do mercado
Ao comentar nesta quarta-feira a reação gerada pelas mudanças no teto de gastos para bancar um Auxílio Brasil de R$ 400 , o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que houve uma “crise infantil” jogando o governo contra si mesmo.
O teto de gastos é a regra que impede o crescimento das despesas federais acima da inflação e é considerada o principal símbolo de respeito às contas públicas em vigor.
A decisão do governo de mudar o teto para pagar um Auxílio Brasil (novo Bolsa Família) de R$ 400 gerou uma debandada da equipe de Guedes, com a saída dos secretários Bruno Funchal (Tesouro e Orçamento) e Jeferson Bittencourt (Tesouro).
"Vejo uma posição um pouco mais infantil, que “não, o símbolo é o teto, é o teto ou a morte”. “Vou pedir demissão hoje porque a classe política decidiu furar o teto, em vez de ser 0,5% (do PIB) de déficit, vai ser 1% ou 1,2% (do PIB)”. Temos que pensar que o Brasil é um pouco maior que essa crise infantil de polarização política, de jogar um pedaço do governo contra o outro", disse o ministro.
A afirmação foi feita durante evento do Movimento Brasil Competitivo, liderado pelo empresário Jorge Gerdau.
Guedes disse que a decisão de gastar mais em prol do Auxílio Brasil é “perfeitamente compreensível e pertinente” e pediu para o mercado entender isso.
"Em vez de terminar o ano com déficit zero, vamos para a eleição com um déficit um pouco acima ou igual a este ano. Parece razoável tirar uma nota um pouco mais baixa no fiscal, mas vamos para a dimensão política e a preocupação com o social. Perfeitamente compreensível e pertinente. Eu espero que os mercados entendam, compreendam isso", disse o ministro.
O ministro da Economia disse que o Brasil surpreendeu o mundo ao sair de um déficit público de 10% do PIB em 2020, por conta da pandemia de Covid-19, para um rombo de 1% do PIB neste ano. Ele disse que esses números mostraram ser possível pagar um benefício social maior.
"Se já arrecadou tanto e está indo tão bem na parte fiscal, tira uma nota um pouco mais baixa no fiscal. Com pressões políticas naturalmente compreensíveis, vamos gastar um pouco mais, as pessoas estão comendo ossos", afirmou.
Guedes lembrou que o governo terminará o atual mandato gastando menos como proporção do PIB do que quando entrou.
"Nenhum país conseguiu fazer uma contração fiscal tão rápida e tão forte", considerou.
Embora tenha feito uma defesa de um gasto social maior, Guedes rechaçou um crescimento econômico gerado por despesas públicas. Ele exaltou os investimentos privados e as mudanças em marcos regulatórios, como do saneamento básico.
E lembrou que o governo aprovou no Congresso uma reforma da Previdência para conter esse gasto e reduzir desigualdades.
Guedes voltou a negar que a PEC dos Precatórios seja um calote e disse que a medida é justamente para evitar que essas despesas não sejam pagas.
O ministro também defendeu que as despesas fiquem dentro do teto, sob o risco de aumentar a inflação, segundo ele.
Por fim, o ministro pediu aos empresários presentes no evento que defendam a aprovação da reforma administrativa e da reforma do Imposto de Renda.
A primeira está parada na Câmara e a segunda, aprovada pelos deputados, está no Senado.
O ministro reconheceu, porém, que dentro do governo há quem defenda que as reformas sejam paralisadas durante a eleição, para não prejudicar a campanha do presidente Jair Bolsonaro.
Ele defende o contrário, que o avanço das reformas vai impulsionar a campanha à reeleição.
Guedes ainda disse que considera “pouco inteligente” os empresários se posicionarem contra a reforma do IR e os servidores serem contrários à reforma administrativa.
"Esperem para o futuro, o buraco vai ser um pouco mais embaixo", completou.