Após encontro com Bolsonaro, caminhoneiros querem reunião com Rodrigo Pacheco
Representantes do grupo dizem que alta da combustível não é uma pauta e que presidente não pediu que grupo se desmobilizasse
Após serem recebidos por Jair Bolsonaro nesta quinta-feira (09) no Palácio do Planalto, caminhoneiros afirmaram que não irão desmobilizar até serem recebidos pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Segundo um representante do grupo, na reunião, o presidente não pediu que eles cessassem a paralisação. Eles disseram ainda que a alta do preço dos combustível não é uma pauta deles.
Havia a expectativa que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, desse uma declaração, após a reunião que começou ainda na manhã. Entretanto, os caminhoneiros surgiram no saguão no Palácio do Planalto acompanhados dos deputados bolsonaristas Carla Zambelli (PSL-SP), Major Vitor Hugo (PSL-GO) e Bibo Nunes (PSL-RS).
"A gente está aqui manifestando, representando um segmento da sociedade brasileira. A gente estabeleceu uma pauta de entrega de um documento ao senador Rodrigo Pacheco e até o momento não tivemos êxito nisso. Permanecemos no aguardo de ser recebido pelo mesmo. E talvez existam algumas questões sobre quanto tempo vai durar: estamos aguardando sermos recebidos pelo Senador Rodrigo Pacheco. Até que isso seja realizado estamos mobilizados em todo o Brasil", disse Francisco Dalmora Burgardt, o Chicão Caminhoneiro.
Francisco Burgardt foi candidato a vereador nas eleições de 2020 em Canoinhas, Santa Catarina, pelo PRTB.
O grupo se mobilizou em apoio ao governo nos atos de 7 de setembro, que tiveram caráter antidemocrático — havia uma série de faixas e cartazes defendendo o fechamento do Congresso, a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e uma intervenção militar, todas pautas sem previsão da constitucional. Muitos caminhões foram vistos em Brasília e, na véspera do ato, veículos furaram o bloqueio na Esplanada dos Ministérios e invadiram o local.
Questionado se o presidente havia pedido para que desmobilizassem, Chicão Caminhoneiro afirmou que não houve apelo. Na noite de quinta-feira, Bolsonaro e o ministro Tarcísio gravaram mensagem pedindo a liberação das estradas.
"Não, o presidente não nos pediu nada. Estamos numa visita de cortesia visto que viemos ao Senado e até o momento não pudemos ser recebidos. Como nós estamos mobilizados aqui aproveitamos a oportunidade para estar com o presidente que diga-se de passagem foi muito cordial. E estamos avançando no sentido de construir uma agenda positiva para o povo brasileiro", disse.
Apesar da alta de combustível que afeta diretamente a categoria, eles afirmam que o tema não está na pauta de reivindicação deles.
"Não temos nada com relação a preço de combustível nesse momento. Estamos mobilizados pelos direitos de liberdade, de expressão, de manifestação. O povo está sendo impedido de se posicionar em muitas questões e precisamos que isso mude, que a Constituição seja respeitada de forma integral", disse Chicão.
Outro representante do movimento, Cleomar Araújo também disse que a pauta do grupo é demonstrar a insatisfação com o Judiciário e repetiu o discurso promovido pelo presidente Jair Bolsonaro de que o STF estaria descumprindo a Constituição.
"A nossa pauta nunca foi com o presidente, sempre foi STF via Senado. Que o Senado teria a obrigação de atender e tentar resolver a nossa questão. A insatisfação do povo brasileiro com o Judiciário seria isso. O único poder político foi o Executivo que nos abriu as portas para entender o que estava acontecendo e o por que disso. Porque tem alguns elos inclusive da imprensa que estão dizendo que nossa pauta é contra o presidente", disse outro porta-voz do grupo, Cleomar Araújo.
Aliada de Bolsonaro, a deputada Carla Zambelli não explicou se o presiedente recuou após ter gravado áudio pedindo que os caminhoneiros encerrassem os bloqueios iniciados com os atos de 7 de Setembro, convocados pelo próprio chefe do Executivo. A deputada reafirmou que o áudio gravado pelo presidente na noite anterior, pedindo a desmobilização, continuava valendo.
Na gravação, Bolsonaro diz que a ação "atrapalha a economia" e "prejudica todo mundo, em especial, os mais pobres".
"O presidente externou para eles uma preocupação com os mais vulneráveis nessa questão da paralisação. E foi ouvido por eles. E a voz deles na verdade é a voz do povo brasileiro que clamou no dia 7 do 9 por liberdade, por respeito à Constituição e contra a censura", disse a deputada.
Até o momento, segundo o Ministério da Infraestrutura, são registrados pontos de concentração em 13 estados, mas não há mais registros de interdições na malha rodoviária nacional.