Crise provoca queda de 9,4% na renda média da população em 2 anos, diz FGV

Mulheres e idosos são os maiores impactados pela desigualdade; levantamento aponta aumento no número de famílias em extrema pobreza no Brasil nos últimos anos

Foto: Reprodução: iG Minas Gerais
Número de famílias em situação de pobreza extrema cresceu nos últimos dois anos

A renda individual média do brasileiro, incluindo informais, desempregados e inativos, registrou uma queda de 9,4% em relação ao nível verificado no final de 2019. Na metade mais pobre da população, esta perda de renda é de -21,5%, configurando aumento da desigualdade entre a base e a totalidade da distribuição. Os dados são pesquisa "Desigualdade de impactos trabalhistas na pandemia", da Fundação Getulio Vargas (FGV-Social).

Segundo o levantamento, mais da metade da queda de renda de -21,5% dos mais pobres, -11,5% foram devidos ao aumento de desemprego. Além disso, ainda pelo canal da ocupação contingente expressivo de trabalhadores se retirou do mercado sem perspectiva de encontrar ou exercer trabalho durante a pandemia. Além disso, as mulheres e os idosos foram os grupos mais impactados.

O efeito do desalento ajuda a explicar a queda de renda 8,2 pontos percentuais na metade mais pobre contra perda de 4,7 pontos na média geral. Além disso, o estudo identificou queda na renda dos trabalhadores ocupados causada pela aceleração da inflação e do próprio desemprego, além da redução da jornada de trabalho.

Efeitos da inflação

A recente aceleração das taxas de desemprego e de inflação também contribuiu para esse cenário. Nos 12 meses terminados em julho de 2021, a inflação dos pobres foi 10,05%, três pontos percentuais maior que a inflação da alta renda, segundo estimativas do Ipea. Nos cálculos da FGV, a taxa de desemprego da metade mais pobre subiu na pandemia de 26,55% para 35,98%. Já entre os 10% mais ricos a mesma foi de 2,6% para 2,87%.

Quem perdeu mais?

Os principais perdedores foram os moradores da região Nordeste, com redução de 11,4% na renda contra -8,86% do Sul, por exemplo. As mulheres que tiveram jornada dupla de cuidado das crianças em casa. A perda delas foi de 10,35% de perda contra 8,4% dos homens. Os idosos com 60 anos ou mais também perderam especialmente por terem de se retirar do mercado de trabalho função da maior fragilidade em relação ao Covid-19 (-14,2% de perda).

Desigualdade em alta

O índice de Gini - criado para medir o grau de concentração de renda - que já havia aumentado de 0,6003 para 0,6279, entre os quartos trimestres de 2014 e 2019, saltou na pandemia atingindo 0,640 no segundo trimestre de 2021. acima de toda série histórica pré-pandemia.

Pobreza

A proporção de pessoas com renda abaixo da linha de pobreza era de 10,97%, cerca de 23,1 milhões de pessoas na pobreza, em 2019, antes da pandemia.

A pobreza passa em setembro 2020 o melhor ponto da série função da adoção do auxílio emergencial pleno para 4,63%, 9,8 milhões de brasileiros.

No primeiro trimestre de 2021 com auxílio emergencial suspenso, a pobreza atinge 16,1% da população. 34,3 milhões de pessoas. De acordo com os pesquisadores, os dados mostram "um cenário desolador no início de 2021 quando em seis meses o número de pobres é multiplicado por 3,5 vezes, correspondendo a 25 milhões de novos pobres em relação aos seis meses anteriores".

Já com a adoção do novo auxílio, em abril, em escala reduzida com duração limitada com alguma retomada 12,98%, 27,7 milhões de pobres pior do que antes da pandemia do Covid.