Gasolina passa de R$ 6 e GNV vira opção; veja quando vale fazer a conversão
Gasolina e etanol, de agosto de 2020 a julho de 2021, acumularam altas de 40% e 56,5% respectivamente
A disparada dos preços dos combustíveis tem penalizado os consumidores e prejudicado os trabalhadores que atuam como motoristas de aplicativo e entregadores. As categorias já sofriam com o aumento da concorrência, as restrições de circulação durante a pandemia de Covid-19 e a baixa remuneração das corridas. Agora, as margens de lucro estão ainda mais baixas com o aumento de gastos para rodar.
Diante deste cenário, muitos motoristas têm buscado oficinas de instalação do kit-gás para tentar fugir dos aumentos da gasolina e do etanol, que de agosto de 2020 a julho de 2021 acumularam altas de 40% e 56,5%, respectivamente. Apesar disso, o próprio metro cúbico do Gás Natural Veicular (GNV) não ficou imune aos reajustes e registrou elevação de 27% no mesmo período, segundo cálculos da Fundação Getulio Vargas (FGV). Apesar disso, o combustível continua competitivo pelo rendimento e pelo desconto no Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), no Rio.
Embora não haja dados oficiais, oficinas registraram alta de até 15% na procura por orçamentos de instalação. Além de o preço na bomba ser menor, o veículo movido a GNV alcança desempenho por quilômetro rodado. O rendimento é 20% maior em relação à gasolina e 50% superior em comparação com o etanol, segundo a Abegás.
"Apesar dos últimos aumentos, o GNV não deixou de ser competitivo frente a gasolina e etanol, considerando o rendimento médio de cada combustível. Para cada um real gasto com GNV, o motorista vai conseguir rodar mais do que o dobro que rodaria com gasolina ou etanol", diz Celso Mattos, presidente do Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Rio (Sindirepa) e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan).
Para especialistas, se endividar para fazer a instalação não compensa a economia:
"Não duvido que o valor da gasolina possa encostar em R$ 7 ainda em 2021. O preço do GNV é menos sujeito a estas oscilações. Mas não tenho certeza se compensa no longo prazo", avalia o economista André Braz, do Ibre-FGV.
Investimento exige cautela redobrada
A elevação dos preços do GNV, combustível mais competitivo para motoristas que fazem uso intenso do veiculo, tem exigido mais cautela na hora da conversão e instalação do kit-gás, segundo especialistas. O investimento inicial é alto, de R$ 3.200 a R$ 5 mil, além do custo de manutenção. Para recuperar o valor investido, o motorista leva tempo e quilômetros de rodagem.
O professor de Finanças do Ibmec/RJ, Tiago Sayão, acrescenta que o carro perde potência, em alguns casos tem preço de revenda depreciado, mas recebe incentivos como o desconto no IPVA.
"O valor arrecadado nas corridas, muitas vezes, não compensa o investimento. Talvez não seja interessante fazer a conversão. Para ficar no zero a zero e ter economia efetiva, segundo os últimos cálculos que fiz, levando em conta o aumento no custo do GNV, o dono do carro teria que rodar pelo menos de 500 a 600 quilômetros por semana para obter a economia dali a alguns meses, o que é demasiado", explica ele.
Até abril deste ano, os postos cobravam R$ 2,99, em média, pelo metro cúbico do GNV. Agora, segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o valor médio passou a 3,842, o que representa uma alta de 28%.
Mesmo quem já tem o equipamento instalado não escapou de ter que esticar sua permanência nas ruas para manter a renda:
"Precisei aumentar a minha meta do dia para conseguir pagar este custo. O jeito será rodar mais horas por dia e trabalhar de domingo a domingo", lamenta o motorista Emerson Costa, de 44 anos.
Como o aumento do preço dos combustíveis está impactando o trabalho dos motoristas autônomos?
O aumento do preço do GNV é mais um fator a prejudicar a categoria. Mas, para mim, o principal fator é a tarifa baixa. Os aumentos não acontecem desde maio de 2014. Neste período, os aplicativos só reduziram o preço. A empresa começou como uma plataforma de prestação de serviços de excelência. Na época, a tarifa era de R$ 2,76. Hoje, está em R$ 1,90. Isso com um combustível cinco vezes mais caro do que em 2014. A conta não fecha. Muitos motoristas entram, mas alguns saem endividados.
Os custos, além dos preços da gasolina e do GNV, estão subindo muito e pressionando a renda dos trabalhadores do setor?
Os aplicativos atuam como querem, sem regulamentação. Como um motorista vai aceitar uma corrida para ganhar R$ 5, se o litro da gasolina está a R$ 6? O passageiro, às vezes, não entende, porque para ele aparece uma corrida de R$ 15. Mas o problema é que o motorista não vai receber aquele valor pela corrida. Há os descontos da própria plataforma, mais os gastos com a manutenção do carro, entre outras despesas, como a alimentação.
Quanto o motorista recebe pela corrida?
O que motorista recebe é 40% do valor da corrida. Na teoria, é atrativo porque a promessa é trabalhar com liberdade e fazer o seu horário, mas se ninguém fiscaliza. E, quando há disparidade financeira, o trabalho é muito difícil. Para rodar 200 quilômetros, o motorista gasta só com combustível R$ 130, fora os outros gastos. É muito sacrifício.
Sem chance de usar outro combustível
Além dos motoristas autônomos que fazem o transporte de passageiros, os motofretistas e os trabalhadores que utilizam motocicletas para fazer entregas e encomendas no Rio também têm sofrido com o avanço do preço da gasolina. No caso deles, a conversão para o GNV não é possível, e eles precisam arcar com o aumento de custos.
Motofretista há 20 anos, Edgar Francisco da Silva, presidente da Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil (AMABR), diz que para suportar o aumento dos custos de abastecimento e a baixa remuneração obtida, muitos entregadores estão cortando outros gastos essenciais, com manutenção e alimentação, além de aumentar a jornada diária de trabalho.
"O entregador já ganha pouco trabalhando com o aplicativo. Com o preço da gasolina neste valor, ele começa a tirar dos gastos que tem para exercer a profissão. Às vezes, deixa de fazer a manutenção do veículo. Não se alimenta ou só come um lanche. E precisa aumentar o tempo de exposição na rua", resume Silva.