Argentina segue "um caminho que a Venezuela já foi", diz Guedes sobre Mercosul
Ministro afirma ter feito acordo com o setor siderúrgico brasileiro para que o preço do aço não suba até o fim deste ano
O ministro da Economia, Paulo Guedes , afirmou que a Argentina está seguindo o mesmo caminho da Venezuela , ao tentar impedir a modernização do Mercosul . Guedes disse que, se pudesse, reduziria unilateralmente as alíquotas de importação usadas pelos sócios do bloco no comércio com terceiros mercados, através da Tarifa Externa Comum (TEC), com ou sem os argentinos.
"Gostaria de fazer isso em uma semana e unilateralmente, se for o caso, mas não podemos deixar que o Mercosul se transforme num fator de atraso. A Argentina está indo para um caminho que não apreciamos, que é um caminho que a Venezuela já foi e não queremos seguir", declarou o ministro, durante transmissão ao vivo do "Valor Econômico".
As relações entre Brasil e Venezuela estão congeladas desde que Michel Temer assumiu a presidência do país no lugar de Dilma Rousseff. Sob o argumento de que o governo de Nicolás Maduro não é democrático, os venezuelanos estão suspensos do Mercosul desde 2017. A situação piorou após a eleição de Jair Bolsonaro , que determinou o fechamento da embaixada em Caracas e dos consulados no país.
Na semana passada, o Brasil foi derrotado em sua proposta de reduzir a TEC em 20%, sendo 10% agora e o restante no fim do ano, porque a Argentina não concordou. Guedes lembrou que o Uruguai apoiou o governo brasileiro e o Paraguai ficou "em cima do muro".
Guedes revelou que o Brasil propôs "algo generoso" à Argentina, que alega estar com problemas econômicos e, por isso, não está preparada para abrir seu mercado. Segundo o ministro, se os vizinhos não podem reduzir suas tarifas agora, que esperem um pouco mais, mas não inviabilizem a proposta brasileira.
"O Brasil tem que assumir a liderança da modernização do Mercosul e seremos compreensivos e generosos com a Argentina, que entrará quando quiser. Não queremos eles façam. Queremos que eles nos deixem fazer", enfatizou o ministro.
Preço do aço não deve subir até o fim do ano
Internamente, o ministro disse que está sofrendo pressão do setor de construção civil para reduzir as tarifas de importação de produtos siderúrgicos, para forçar a queda dos preços dos produtos, com o aumento da oferta. Ele disse ter feito um acordo informal com os fabricantes de aço, para que não haja reajuste até o fim do ano.
"É muito fácil baixar tarifa e deixar o chinês entrar e engolir o [aço] brasileiro. Mas se alguém descumprir o acordo, facilita tudo e posso zerar a alíquota dentro do Mercosul. Mas não quero atender a construção civil e desorganizar o setor de aço", afirmou.
Ele lembrou que o governo decidiu reduzir, em 10%, as tarifas de importação de bens de capital, de informática e de telecomunicações. Disse que as indústrias siderúrgicas aceitaram o corte, mas temem novas reduções. Alegaram que, enquanto as importações de aço estão crescendo, as exportações estão em queda. Atualmente, as alíquotas estão em torno de 12%
"O setor de construção civil entrou num boom, atravessou a pandemia criando empregos e está bombando. Quando fizemos o auxílio emergencial, houve um fator adicional para estimular a demanda de material de construção civil, uma ganho de riqueza. Mas por enquanto não tem redução de alíquota de importação", afirmou Guedes.